Devido à pandemia do Covid-19, desde a terceira semana de março medidas de isolamento social e fechamento do comércio iniciaram em grandes centros consumidores brasileiros, e os suinocultores começaram a identificar as mudanças, como por exemplo, a queda do preço do suíno vivo.
Essa queda de preço se deve à redução do consumo do mercado interno, com o fechamento ou redução da demanda de bares e restaurantes e as restrições à realização de festas e eventos. A diminuição do consumo afetou especialmente os frigoríficos de médio e pequeno porte e o “mercado de porta” que em várias regiões do Brasil tiveram o abate reduzido em até 20%, segundo alguns relatos. Embora seja uma realidade nacional, os mercados mineiro e paulista foram relativamente mais afetados, o que chegou a determinar uma situação incomum, durante alguns dias, de preços pagos nestas praças abaixo dos valores pagos nos estados do sul.
A expectativa é de que esta redução significativa na demanda e, consequentemente, no preço pago ao produtor seja, em parte, transitória, pois para as próximas semanas é prevista uma gradativa flexibilização das medidas restritivas ao comércio e circulação de pessoas implementadas pelo ministério da saúde e pelos estados. O fim da quaresma e também a entrada de recursos do “corona voucher”, benefício do governo para trabalhadores autônomos, devem trazer um alento no sentido de aumentar a procura pelas carnes, incluindo a suína.
Além disso, as grandes agroindústrias integradoras e cooperativas mantiveram o abate e, em alguns casos, até aumentaram a produção, como forma de se prevenir para eventuais paradas no futuro próximo. O que causa preocupação é a queda do preço do frango, a carne mais competitiva em termos de preço e o aumento da demanda do ovo comercial (a proteína animal mais barata), além da queda significativa de venda de cortes nobres de carne bovina no mercado doméstico.
Estes são sinais claros de redução do poder aquisitivo e da óbvia redução de gastos da população em geral diante de uma crise econômica, ainda sem previsão para terminar. Para se adaptar a esta nova realidade, uma medida importante seria o aumento do fornecimento de produtos de menor valor agregado (in natura) e, consequentemente, mais baratos.
Houve um aumento de 33% das exportações de carne suína in natura em relação ao mesmo período do ano passado. Entretanto, questões de logística (containers e portos) reduziram o ritmo nos últimos dias do mês, fechando em pouco mais de 63 mil toneladas. Espera-se que os volumes de embarques para os próximos meses possam superar este patamar.
Independente da pandemia, a expectativa já era de um ano de custo de produção elevado, em função do câmbio valorizado e das demandas interna e externa de milho e soja. Justamente nas semanas em que o preço do suíno despencou, o milho e a soja atingiram preços recorde, sendo que o farelo de soja chegou a ser vendido a mais de R$ 1.700 reais a tonelada em algumas praças.
Na visão do presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, não há perspectivas precisas quanto ao tempo de duração da crise nas atividades econômicas e seus desdobramentos. Para ele, o importante neste momento é direcionar atenção e esforços para a proteção da saúde de colaboradores, adotando as medidas recomendadas e orientando-os quanto às condutas mais seguras no ambiente de trabalho, no transporte e em casa.
“Não podemos entrar em pânico. Se tem um setor que é essencial e que deverá ser fundamental não somente no combate à pandemia, mas também na recuperação da economia mundial pós pandemia este é o setor da alimentação. É possível que haja uma queda no poder aquisitivo da população brasileira em decorrência da inevitável crise econômica e isto exigirá criatividade do setor, investindo, dentre outras medidas, no aumento da participação de produtos in natura, mais acessíveis, no varejo”, explicou.
Marcelo ainda aponta que no mercado externo o grande déficit de proteína animal, capitaneado pela China, permanece e é um importante canal de escoamento da produção brasileira de carnes. Ele também alerta para os cuidados com os custos de produção: “Não é momento para gastos supérfluos. Quem tiver caixa sairá mais rapidamente e com menos sequelas desta crise, que pode ser profunda, mas estamos confiantes de que vai passar”
10 de abril de 2020 - ABCS