Impactos do estresse térmico na suinocultura
Estresse por Calor: Um Problema que Afeta a Produtividade em Suínos
1. Sensibilidade dos Suínos ao Calor
Sabemos que os suínos são mais sensíveis ao calor do que outros animais porque não conseguem suar. Assim, altas temperaturas podem levar ao estresse por calor, o que afeta diretamente o desempenho.
2. Impacto do Clima no Brasil
Um país tropical como o Brasil, o qual passamos diversos meses do ano com temperatura e umidade fora da zona de conforto térmico de suínos (em suas diferentes fases), faz com que a atenção relacionada aos sinais e perdas promovidas pelo estresse por calor mereça especial atenção.
O gráfico a seguir ilustra a relação entre o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) e o nível de estresse gerado nos animais:
3. Efeitos do Estresse por Calor nas Reprodutoras
O estresse por calor desencadeia uma cascata de eventos nos animais. Quando pensamos nas reprodutoras, por exemplo, temos:
- Ativação do sistema de regulação da temperatura corporal acionado, desviando a energia da manutenção da condição corporal e da produção de leite;
- Ao mesmo tempo, queda na ingestão de ração, fazendo com que o organismo priorize a lactação em detrimento da manutenção da condição corporal.
O resultado combinado destas ações faz com que fêmeas percam a condição corporal de forma mais rápida e severa, comprometendo o ciclo e produtividade reprodutiva subsequente.
4. Infertilidade Sazonal
Com os mecanismos fisiológicos para minimizar os efeitos do calor, podemos observar na produção de suínos o que chamamos de infertilidade sazonal. Esse termo se refere ao declínio usual na produção de fêmeas inseminadas durante o verão e paridas entre abril e junho.
Eventos de calor que levam ao estresse térmico (como no pico do verão) são a principal causa de infertilidade sazonal no rebanho reprodutor. Apesar do nome, a infertilidade sazonal não se relaciona ao ciclo reprodutivo porque os suínos domésticos não são reprodutores sazonais, mas sim pela perda nos indicadores de produtividade ligados à reprodução que ocorrem em determinados períodos relacionados às altas temperaturas.
5. Mudanças Comportamentais
O estresse térmico também pode causar mudanças no comportamento das porcas. Essas alterações se devem ao impacto do desconforto na cinética de ingestão voluntária, no padrão alimentar e na capacidade de produção. Alguns sinais de estresse por calor são:
- Animais espalham-se nas baias para maximizar o contato com o piso mais frio;
- Menor atividade física;
- Animais procuram água não apenas para saciar a sede, mas também para se refrescar;
- Aumento da frequência respiratória para mais de 40 vezes por minuto (respiração normal é de 15 a 25 respirações/min).
6. Consequências do Estresse por Calor
Como consequência desse estresse por calor, as porcas podem apresentar:
- Taxas de parição reduzidas;
- Menor número de nascidos totais e vivos por leitegada;
- Redução da ingestão de ração;
- Menor produção de leite;
- Aumento do intervalo desmame-cio;
- Falha na expressão do cio;
- Maior mortalidade embrionária (se início da gestação);
- Maior número de natimortos (se a gestação estiver tardia);
- Aumento da mortalidade de porcas.
7. Medidas para Minimizar os Efeitos do Estresse Térmico
Por todas essas possíveis perdas produtivas que podem ocorrer, ações consistentes relacionadas à ambiência, manejo e nutrição devem ser adotadas a fim de minimizar os efeitos estresse térmico. Dentre essas ações temos:
7.1. Monitoramento e Ambiência
- Monitoramento diário de temperatura e umidade do galpão (com informações de máximas e mínimas);
- Equipamentos ajustados para prover o maior conforto térmico possível.
7.2. Manejo Alimentar
- Alimentação em maior frequência e menores quantidades por vez;
- Fornecimento de ração nos horários mais frescos do dia;
- Concentração das dietas;
- Dietas mais palatáveis.
7.3. Suplementação Nutricional
- Uso de antioxidantes. O estresse por calor, devido ao aumento do metabolismo e da frequência respiratória, causa produção excessiva de radicais livres no animal, levando ao estresse oxidativo;
- Uso de aditivo que promova o balanço osmótico a fim de manter a hidratação celular;
- Direcionamento correto do balanço eletrolítico em otimizações de ração. Fêmeas sendo alimentadas com dietas com baixo nível de DEB são mais sensíveis ao estresse por calor. O estresse por calor causa um aumento na taxa de respiração, resultando em menor nível de bicarbonato (HCO3-) no sangue. O aumento na taxa de respiração reduz ainda mais o equilíbrio eletrolítico da porca, criando um ciclo vicioso.
8. Conclusão
Assim, ações efetivas para minimizar o efeito do estresse por calor devem ser realizadas, visto que a ambiência é o primeiro fator limitante para atingir a eficiência máxima de produção em regiões de clima quente, como América Latina.
Deve-se ressaltar que os efeitos climáticos são intensificados nos genótipos modernos devido às altas taxas de crescimento, deposição de tecido muscular e potencial reprodutivo. Portanto, medidas de controle devem estar presentes de forma prática e cotidiana na produção de suínos modernos.
Camila Tófoli - Diretora Técnica de Monogástrico – Vilomix Latam
Zootecnista com Mestrado em Nutrição de Suínos pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Botucatu
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