Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (4/4)
São vários os pontos a ser trabalhados nas granjas para atender os requisitos de bem-estar dos animais. Independente disso, a implantação de boas práticas somente será assegurada por meio da sensibilização dos colaboradores aos pontos críticos do processo de produção. Iniciativas de capacitação e desenvolvimento dos colaboradores são frentes de trabalhos extremamente relevantes para o bom desempenho e harmonia dos grupos.
Sistema de piso no alojamento coletivo
A qualidade do piso possui grande influência na saúde do casco, sendo maior a prevalência e a intensidade dos problemas de locomoção quando são utilizados os pisos de concreto ripado no lugar dos pisos de concreto compacto (SPOOLDER et al., 2009; KILBRIDE et al., 2010; PLUYM, 2013).
Quando compactos, os pisos devem possuir um bom sistema de drenagem, evitando umidade excessiva do ambiente que pode expor a baia a elevada pressão de infecção. Quando não possuir um bom sistema de drenagem, será necessária a limpeza diária da baia.
O piso deve possuir superfície porosa, porém não abrasiva para evitar futuras lesões de cascos. O tamanho das gretas do piso ripado deve ser considerado na hora da construção, devendo ser adequado para o escoamento da urina e fezes do animal e ao mesmo tempo não permitir que as unhas dos animais possam se prender nos espaços entre elas.
Quando vazado (ripado), as frestas devem apresentar uma largura máxima de 20 a 22 mm - isso permitirá que a baia se mantenha limpa, facilitando a queda dos dejetos ao fosso. As placas vazadas do piso devem apresentar suas frestas direcionadas em sentido paralelo à posição das fêmeas no minibox, facilitando o apoio dos aprumos ao piso e reduzindo lesões de cascos. A figura abaixo exemplifica a estrutura de piso na baia coletiva de minibox (Figura 1).
Figura 1. Estrutura de piso na baia coletiva de minibox. Fonte: acervo pessoal dos autores.
Possibilitando maior conforto às fêmeas, as instalações devem oferecer área própria para o descanso. Esta área deve possuir superfície limpa e compacta, com espaço suficiente para que todas as fêmeas se deitem simultaneamente.
Um layout adequado deve ser composto por uma área de convivência comum das matrizes, onde irão se alimentar, beber água e escolher a área de deposição dos dejetos e outras áreas em anexo de descanso e refúgio. Estas baias de descanso e refúgio devem ser separadas por paredes sólidas, de forma a permitir que as matrizes subordinadas se escondam das demais, e possuir um solo de cimento compacto, não escorregadio, que dará mais conforto para elas se deitarem e descansarem. Deve-se garantir uma quantidade suficiente de bebedouros para os animais de forma a reduzir as disputas por água. De preferência, os bebedouros devem estar bem espalhados na baia para permitir o fácil acesso dos animais
Adequação das instalações
Antes de iniciar a adequação da granja ao padrões de bem-estar animal, é fundamental a realização de um estudo criterioso do processo e da propriedade. Oportunidades de melhoria devem ser identificadas e analisadas detalhadamente, assegurando a sustentabilidade das decisões ao longo dos próximos anos de atividade.
De forma geral, muitos produtores são questionados a respeito de qual a melhor alternativa: reforma das antigas instalações ou construção de novos projetos já adequados às premissas de bem-estar animal. Certamente, a resposta deve vir acompanhada de uma análise profunda e detalhada das condições pré-existentes, planos futuros, depreciação das instalações, somadas aos investimentos necessários, capturas de custos operacionais e lacunas técnicas presentes em cada situação.
A Tabela 1 a seguir apresenta um quadro comparativo entre adequações de granjas e novas construções.
Tabela 1. Análise comparativa entre a adaptações de granjas antigas e construção de novos projetos.
Adaptações | Novas construções | |
---|---|---|
Custo | + | ++ |
Tempo de construção | + | +++ |
Produtividade | Arriscado | ++ |
+baixo, ++moderado, +++elevado. Fonte: PIC, 2017.
A figura 2 é um exemplo de adequação de granja:
Figura 2. Exemplo de adequação de granja. (1) granja antiga, (2 e 3) granja em reforma e (4) granja reformada.
Pontos relevantes
A reforma de uma granja em operação possui desafios particulares, seja pela limitação de espaço ou pela exposição sanitária devido ao trânsito de pessoas, veículos ou mesmo entrada de materiais. Por isso, um importante ponto que deve ser considerado antes do início das obras é o treinamento de terceiros sobre as normas de biosseguridade.
Para isso, é importante fazer um bom planejamento levando-se em conta as características da instalação e compreendendo qual projeto se adapta melhor à unidade. Outro fator que precisa ser considerado é o treinamento de capacitação constante da equipe ao novo modelo construtivo. Além do treinamento, os colaboradores devem fazer o acompanhamento constante dos grupos a fim de minimizar problemas com lesões ocorridas por brigas no momento do reagrupamento.
Conclusões
O crescente interesse dos consumidores a respeito da origem dos alimentos e a forma como são produzidos é uma realidade nas diferentes cadeias produtivas. Nesta direção, a suinocultura deve se posicionar de forma proativa, adequando processos, incorporando boas práticas e maior ética como valor agregado a seus produtos.
As excelentes performances técnicas de produtividade já não são mais dúvidas nos sistemas que operam com elevado padrão de bem-estar animal na produção de suínos. A utilização de boas práticas e a capacitação técnica dos colaboradores somadas à transformação gradativa dos sistemas de gestação individuais para coletivos mostram-se uma oportunidade de ganhar competitividade em mercados nacionais e internacionais.
Como quarto maior produtor e exportador de produtos suínos do mundo, o Brasil possui um papel fundamental em atuar de maneira proativa e decisiva na evolução de sua cadeia produtiva a partir da adoção e inovação constante de boas práticas de produção.
Autores: Vamiré Sens, Julia Neves e Juliana Ribas.
Para conferir os três primeiros artigos da série, acesse:
Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (1/4)
Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (2/4)
Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (3/4)
Contato:
Entre em contato conosco através do formulário