Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (3/4)
Em todo o mundo, o alojamento de fêmeas suínas é um dos principais temas de bem estar animal discutido atualmente na suinocultura. Diversos países já aprovaram leis ou estão em processo de aprovação de novas regras sobre o alojamento das matrizes suínas no período de gestação.
De maneira geral, são vários os sistemas disponíveis para adequação das granjas em operação ao bem-estar animal. A escolha deve ser feita por meio da análise criteriosa das oportunidades presentes no processo. A Tabela 1 a seguir compara os diferentes sistemas, ilustrando as vantagens e oportunidades presentes.
Tabela 1. Comparativo entre sistemas de alimentação de matrizes suínas.
Gaiolas | Gaiolas de livre acesso | Arraçoamento no piso | Minibox |
Estação Eletrônica de Alimentação |
|
---|---|---|---|---|---|
Escore Corporal | ++++ | +++ | ++ | +++ | ++++ |
Agressões | x | x | xxx | xx | xx |
Custos Construção | x | xxx | x | x | xxx |
Custos Operacionais | x | xx | xx | xx | xx |
Facilidade de Manejo | ++++ | +++ | +++ | +++ | ++ |
Uso de Ração de Gestação | x | xx | xxx | xx | x |
+ pobre, ++ aceitável, +++ bom, ++++ muito bom x baixo, xx moderado, xxx alto * Considerando o potencial de obter melhor controle do escore corporal (EC). Fonte: PIC, 2017.
Tempo de permanência em cela individual
Durante o período de formação dos grupos (agrupamento das fêmeas em baias coletivas), são comuns as disputas para estabelecer a hierarquia e situações de estresses podem ser rotineiramente observadas quando não controladas. Escoriações de pele, lesões em orelhas, genitálias, aparelho mamário e traumas no sistema locomotor são exemplo de possíveis injúrias que às fêmeas acometem durante as brigas.
O equilíbrio entre as brigas irá começar a ocorrer 24 horas após a mistura, podendo se estender de 36 a até 48 horas. O indicado é misturar as fêmeas após elas se alimentarem e quando a temperatura estiver amena. A mistura de matrizes em dias e horários quentes proporciona mais interações agonísticas (brigas) e queda no desempenho reprodutivo.
A gestação tem duração média de 114 (± 4) dias e é dividida em: 1) fase de ovo ou zigoto, 2) fase embrionária e 3) fase fetal (LIMA et al.,2006). A fase de ovo ou zigoto vai desde a fecundação até o desenvolvimento das membranas fetais primitivas do zigoto no útero. Essa fase dura aproximadamente 12 dias, período no qual o CL se desenvolve e produz progesterona, responsável pelo desenvolvimento e preparação do endométrio para o desenvolvimento fetal. Na fase 2, de embrião ou organogênese ocorre a implantação dos embriões de maneira equitativa nos cornos uterinos devido à migração dos ovos até a sua nidação, que ocorre por volta de 17 a 24 dias após a fertilização. Nesse período formam-se os tecidos, órgãos e sistemas mais importantes do organismo e é quando o risco de perdas reprodutivas, como reabsorção e abortos, é muito alto (SOUZA, 2009). Consequentemente, recomenda-se transferir as fêmeas antes ou depois desta fase crítica.
O mais seguro é realizar o reagrupamento após o término da formação placentária, por volta dos 35 dias de gestação. Neste momento a implantação dos embriões já está concluída, reduzindo as perdas reprodutivas (RIBAS et al., 2018).
Cuidados Importantes durante o alojamento coletivo
A migração do sistema de gestação individual ao sistema coletivo não significa, por si só, uma melhora nas condições de bem-estar dos animais. Problemas de bem-estar e de manejo são intensificados durante o alojamento coletivo em razão da competição entre os animais favorecendo a incidência de lesões. Neste modelo o estresse relacionado ao reagrupamento e à alimentação constituem um dos principais desafios do sistema (DIAS et al., 2016). Brigas e disputas seguidas de lesões e traumas são rotineiramente observadas no momento da organização hierárquica da baia.
Figura 1. Grupo de fêmeas em sistema de gestação coletivo de minibox. Fonte: acervo pessoal dos autores.
Depois de estabilizada a hierarquia da baia, a inclusão de novas fêmeas não deve ocorrer de maneira singular, mas em grupos de dois a três indivíduos. Esta situação poderá expor a fêmea a agressões intensas e prolongadas por parte do grupo, favorecendo lesões, traumas e até mesmo perda da fêmea. Após a inclusão, o grupo deve ficar em observação nas próximas 48 horas para identificação de conflitos. Caso estes sejam prolongados, intervenções devem ser realizadas para preservar a integridade das fêmeas.
Manejo racional das matrizes
Um bom manejo sempre deve começar por um bom planejamento. Se a atividade é mudar as matrizes da baia de gestação para a baia maternidade, deve-se observar se já possui gaiolas suficientes livres na baia maternidade, se o ambiente já foi lavado, se está tendo alguma atividade que possa estressar as matrizes no novo ambiente, horário que essas fêmeas serão manejadas e se todos os equipamentos estão funcionando (bebedouro e comedouro automático), entre outros.
A qualidade do manejo de condução das matrizes também interfere nos parâmetros reprodutivos da granja. Um manejo silencioso facilita a condução dos animais, uma vez que se diminuem os pontos de distrações. Não se deve utilizar vassouras, paus, choques etc para bater ou tocar nos animais para conduzi-los. O ideal é utilizar uma prancha ou uma bandeirinha para guiá-los.
Para a retirada das fêmeas da gaiola é aconselhado utilizar um tapa olho, que pode ser facilmente construído com o auxílio de um galão cortado na diagonal. Essa ferramenta facilita muito o manejo, uma vez que a matriz irá querer fugir do equipamento andando para trás e a proteção lateral do tapa olho irá impedir que a fêmea se distraia. Nunca se deve retirar as matrizes da gaiola puxando a cauda, orelha, batendo na cabeça ou cutucando os olhos. Todas essas ações possuem grandes chances de machucar os animais, além de causar estresse e desconforto. Devemos lembrar que um bom manejo na fase gestacional das matrizes irá garantir o sucesso da leitegada, longevidade da fêmea e melhoras nos parâmetros reprodutivos das fêmeas.
Autores: Vamiré Sens, Julia Neves e Juliana Ribas.
Para conferir os dois primeiros artigos da série, acesse:
Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para gestação coletiva (1/4)
Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (2/4)
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