Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para a gestação coletiva (2/4)

05-Dez-2022
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Nos últimos anos, um novo perfil de consumidor tem se destacado nos mercados nacionais e internacionais de produtos de proteína animal. Para estes consumidores, já não é mais suficiente um produto ser saboroso, com boa apresentação e de fácil preparo. A conscientização crescente da relação alimentação e saúde e o maior interesse quanto à origem dos alimentos e a forma como são produzidos incentivam a cadeia produtora de suínos a operar de maneira cada vez mais sustentável. Neste sentido, a adoção de práticas de produção que utilizam técnicas de bem-estar animal ganham relevância como estratégia para promover maior harmonia entre homem, animal e ambiente.

Comportamento das matrizes suínas

Em condições de vida livre, os suínos são animais gregários que vivem em grupos formados por três a quatro matrizes e as suas leitegadas. O machos são solitários, porém, podem viver em grupos de dois a três animais de mesmo parentesco. Os grupos formados pelas fêmeas garantem a sobrevivência dos leitões quando criados em vida livre, uma vez que, enquanto umas fêmeas forrageiam, as outras cuidam da leitegada.

Os suínos possuem também o hábito de fuçar. A expressão desse comportamento é muito importante para os animais que vivem em vida livre, pois permite que eles encontrem maior variedade de alimentos, principalmente os tubérculos.

Diversos estudos encontraram que fêmeas criadas em sistemas coletivos de gestação se demonstram mais calmas e com menos comportamentos estereotipados do que as matrizes mantidas em gaiolas, deixando evidente a importância desse comportamento gregário (em comunidade) para as matrizes suínas.

Formação dos grupos

A hierarquia nos suínos tende a se estabelecer nas primeiras 24 a 36 horas após a mistura, diminuindo assim a intensidade das brigas e a disputa por alimento. Sempre que forem introduzidos novos animais no grupo, a hierarquia é quebrada e as brigas retornam até se atingir novamente o equilíbrio.

Importância do manejo

Um suinocultor pode trabalhar com a melhor linhagem de matrizes suínas e possuir uma excelente instalação, porém nada disso será suficiente se seus funcionários não forem capacitados para trabalhar com as matrizes e realizar os manejos de forma adequada.

O sucesso de uma criação animal, portanto, é o conhecimento básico do comportamento da espécie a ser manejada. Um bom manejo leva em consideração a harmonia entre estes três pilares: funcionários, animais e ambiente.

Sistema de gestação em celas individuais

Atualmente, o sistema de produção predominante no Brasil é o intensivo confinado, sendo representado por um leque variado de granjas, com diferentes escalas, tecnologias e layout, em sua maioria, integrados aos sistemas de produção de agroindústrias (RIBAS et al., 2015). Estes modelos de granjas industriais produtoras de leitões foram concebidos com racionalização dos espaços físicos, permitindo um maior número de fêmeas por metro quadrado. Por este mesmo motivo, os sistemas de alojamento de fêmeas em celas de gestação individual foram utilizados em larga escala no cenário de produção nacional.

Figura 1. Alojamento individual em celas de gestação em sistema confinado de produção. Fonte: acervo pessoal dos autores.

A gestação em celas individuais frequentemente tem sido associada a problemas de bem-estar devido à privação de exercícios físicos, favorecendo problemas locomotores e limitando os comportamentos inatos da espécie. (Gregory, 2007; Broom & Fraser, 2010).

Um dos problemas observados em animais em confinamento extremo é o comportamento exploratório redirecionado, podendo resultar em graves problemas, como por exemplo a caudofagia. Matrizes alojadas em celas individuais apresentam estereotipias oriundas de ociosidade (RIBAS et al., 2015).

Morder barras, mascar ou engolir a língua são exemplos de estereotipias. A frustração representada por estes comportamentos e privação de atividades e movimentos alteram o equilíbrio hormonal dos animais e predispõem a ocorrência de doenças, problemas reprodutivos e morte súbita (RIBAS et al., 2015).

Apesar de assegurar um bom controle de fornecimento de ração e reduzir as brigas entre as fêmeas, as celas de gestação individual são cada vez mais questionadas quanto à prática do bem-estar animal pelos motivos expostos anteriormente. Este sistema tem sido apontado pelos grupos de proteção animal e consumidores como um sistema “desumano e cruel” de produção de suínos.

Autores: Vamiré Sens, Julia Neves e Juliana Ribas.

 

Para conferir o primeiro artigo da série, acesse:

Sistemas de alojamento de fêmeas suínas adaptados para gestação coletiva (1/4)

 

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