Saúde intestinal no período pós desmame – a importância da microflora intestinal balanceada
Em granjas tecnificadas no Brasil o desmame ocorre com média de 21 dias, idade em que os leitões ainda são fisiologicamente e imunologicamente imaturos. Isto se dá devido à baixa secreção de enzimas digestivas e dificuldade de mantença de baixo pH gastrointestinal (6), e ainda, neste período o leite da fêmea suína apresenta baixa quantidade de imunoglobulinas.
Somado a estes fatores, o estresse do desmame induz a produção de moléculas inflamatórias que causam mobilização energética e proteica e, consequentemente, desvio de nutrientes necessários para o crescimento e produção de proteínas do sistema imune inato e adaptativo (13). Como resultado, estes animais apresentam desequilíbrio na microflora gastrointestinal (disbiose) e imunossupressão, o que os tornam susceptíveis a infecções por microrganismos patogênicos oportunistas (12).
De forma geral, a saúde intestinal é promovida por um equilíbrio da secreção de moléculas anti-inflamatórias e pró-inflamatórias. A disbiose desregula este equilíbrio, induzindo inflamação crônica no tecido epitelial. Este dano tecidual pode resultar em deficiências imunológicas locais no intestino, com redução do tamanho e da quantidade de linfonodos mesentéricos e células imunes (8). Isto gera uma cascata de eventos que resultam em sérias consequências ao organismo animal.
Várias pesquisas têm demonstrado a grande importância de espécies simbióticas bacterianas no controle e prevenção de doenças entéricas, e indiretamente, de doenças oriundas de imunossupressão causada por disbiose (9; 1; 3; 10). A interação de fragmentos de bactérias simbióticas com receptores de células epiteliais intestinais resulta em mudanças na produção de imunoglobulinas, o que provavelmente afeta as interações entre o sistema imune e a microbiota. Estas bactérias benéficas promovem um equilíbrio da inflamação local, através do estímulo à produção de moléculas anti-inflamatórias, induzindo a recuperação epitelial (8).
Além desta relação direta com a regulação da saúde intestinal, indiretamente as bactérias simbióticas beneficiam o hospedeiro através de metabólitos formados a partir da fermentação, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Os efeitos benéficos destes ácidos incluem: redução do pH do meio, fonte de energia para células epiteliais, moduladores da inflamação, vasodilatadores e otimizadores da motilidade intestinal e da cicatrização (7; 5; 4). Estudos comprovam que o aumento na produção e absorção intestinal de AGCCs promovem melhorias a nível de metabolização hepática de nutrientes e a nível de sistema nervoso, induzindo a produção de hormônios que regulam a homeostase (11; 2).
Uma ferramenta muito utilizada mundialmente pelos suinocultores para prevenção e controle de doenças entéricas tem sido o uso de antimicrobianos como promotores de crescimento. Porém, seu uso exacerbado trouxe um problema de saúde pública mundial: surgimento de estirpes bacterianas resistentes. Contudo, a redução e/ou banimento do uso destes compostos em dietas animais trouxeram problemas de aumento da morbidade e mortalidade. Frente a esta realidade que se aproxima do Brasil, torna-se cada vez mais importante o estudo e a correta utilização de compostos alternativos capazes de promover melhorias sobre a saúde intestinal dos animais, já que homeostasia intestinal é imprescindível para que ocorra sinergismo entre microflora, células e nutrientes, potencializando inclusive o efeito de aditivos alimentares.
O equilíbrio da microflora intestinal de leitões em período pós-desmame pode favorecer a expressão do máximo potencial genético para desempenho, reduzindo os dias para o abate, e assim, reduzindo os gastos com a mantença destes animais na propriedade, resultando em maior retorno econômico ao produtor.
Para mais informações a Núttria está à disposição, entre em contato pelo e-mail: tecnico@nuttria.com.
Autora: Patrícia Versuti Arantes Alvarenga- Nutricionista de Suínos.
Referências
(1) DI GIACINTO, C., MARINARO, M., SANCHEZ, M., STROBER, W., BOIRIVANT, M. Probiotics ameliorate recurrent Th1-mediated murine colitis by inducing IL-10 and IL-10-dependent TGF-beta-bearing regulatory cells. The Journal of Immunology, v.174, p.3237–3246, 2005. (2) FLEMING, A.S.; MONAIKUL, S.; PATSAVAS, A.J.; WAWORUNTU, R.V.; BERG, B.M.; DILGER R.N. Dietary polydextrose and galactooligosaccharide increase exploratory behavior, improve recognition memory, and alter neurochemistry in the young pig. Nutritional Neuroscience, v.18, p.1-14, 2017. (3) FRANK, D.N., PACE, N.R. Gastrointestinal microbiology enters the metagenomics era. Current Opinion in Gastroenterology, v.24, p.4–10, 2008. (4) FRANSEN, F., SAHASRABUDHE, N.M., ELDERMAN, M., BOSVELD, M., ELAIDY,S., HUGENHOLTZ, F., BORGHUIS, T., KOUSEMAKER, B., WINKEL, S., VAN DER GAAST-DE JONGH, C., DE JONGE, M.I., BOEKSCHOTEN, M.V., SMIDT, H., SCHOLS, H.A., DE VOS, P. β2→ 1-Fructans modulate the immune system in vivo in a microbiota-dependent and independent fashion. Frontiers in Immunology, v.8, p.1-14, 2017. (5) GIBSON, G.R., SCOTT, K.P., RASTALL, R.A., TUOHY, K.M., HOTCHKISS, A., DUBERT-FERRANDON, A., GAREAU, M., MURPHY, E.F., SAULNIER, D., LOH, G.,MACFARLANE, S., DELZENNE, N., RINGEL, Y., KOZIANOWSKI, G., DICKMANN, R., LENOIR-WIJNKOOP, I., WALKER, C., BUDDINGTON, R. Dietary prebiotics: current status and new definition. Food Science & Technology Bulletin Functional Foods, v.7, p.1–19, 2010. (6) PLUSKE, J.R.; HAMPSON, D.J.; WILLIAMS, I.H. Factors influencing the structure and function of the small intestine in the weaned pig: a review. Livestock Production Science, v. 51, p. 215-236, 1997. (7) ROZEBOOM, D.W., SHAW, D.T., TEMPELMAN, R.J., MIGUEL, J.C., PETTIGREW, J.E., CONNOLLY, A. Effects of mannan oligosaccharide and an antimicrobial product in nursery diets on performance of pigs reared on three different farms. Journal of Animal Science, v.83, p.2637-2644, 2005. (8) ROUND, J.L, MAZMANIAN, S.K. The gut microbiome shapes intestinal immune responses during health and disease. Nature Reviews Immunology, v.9, p.313-323, 2005. (9) SARTOR, R.B. Therapeutic manipulation of the enteric microflora in inflammatory bowel diseases: antibiotics, probiotics, and prebiotics. Gastroenterology, v.126, p.1620–1633, 2004. (10) SCHOKKER, D., FLEDDERUS, J., JANSEN, R., VASTENHOUW, S.A., BREE, F.M., SMITS, M.A., JANSMAN, A.A.J.M. Supplementation of fructooligosaccharides to suckling piglets affects intestinal microbiota colonization and immune development. Journal of Animal Science, v.96, p. 2139-2153, 2018. (11) SEIFERT, S., WATZL, B. Inulin and oligofructose: review of experimental data on immune modulation. The Journal of Nutrition, v.137, p.2563-2567, 2007. (12) STRUBE, M.L., MEYER, A.S., BOYE, M. Mini review: basic physiology and factors influencing exogenous enzymes activity in the porcine gastrointestinal tract. Animal Nutrition and Feed Technology, v.13, p.441–459, 2013. (13) TIZARD, I.R. Imunologia Veterinária: Uma Introdução., 2014. Elsevier: São Paulo. (14) XU, R.J.; WANG, F.; ZHANG, S.H. Postnatal adaptation of the gastrointestinal tract in neonatal pigs: a possible role of milk-borne growth factors. Livestock Production Science, v.66, p.95–107, 2000.
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