Saiba como os fitogênicos podem melhorar o desempenho de matrizes suínas em lactação
Em um cenário de alta produtividade das fêmeas suínas com até 40,60 leitões desmamados/fêmea/ano (Agriness, 2022), é fato que, além de potencial genético, status sanitário e manejo, estas fêmeas exigem aporte nutricional adequado às suas necessidades para suportar a hiperprolificidade sem perda demasiada do escore corporal. Neste contexto, o período de lactação é decisivo para o bom desempenho da fêmea, já que a perda de condição corporal pode ser grande em função da alta demanda de produção de leite que pode colocar as fêmeas em um grau crescente de estresse oxidativo (Li et al., 2022).
Aditivos nutricionais que reduzem o estresse oxidativo, a inflamação, melhoram a absorção de nutrientes e fortalecem o sistema imunológico quando adicionados à dieta das fêmeas gestantes e lactantes auxiliam na manutenção da produtividade e minimizam as perdas produzidas pela alta demanda metabólica durante a lactação.
Os aditivos fitogênicos são componentes bioativos derivados de plantas (Pandey et al., 2023) que incluem óleos essenciais e extratos naturais, os quais têm ganhado destaque pois são ricos em compostos que ajudam a combater o estresse oxidativo, reduzir a inflamação e melhorar a digestibilidade de nutrientes (Mosolov et al., 2022). Além da capacidade de modular a resposta inflamatória, também auxiliam na promoção da saúde intestinal (Gómez-García et al., 2019), fortalecem o sistema imunológico e melhoram o bem-estar dos animais o que faz deles uma ferramenta valiosa para promoção da saúde e para melhorar desempenho dos animais.
Além dos óleos essenciais, os fitogênicos compreendem também as substâncias pungentes, substâncias amargas, saponinas, flavonoides, mucilagens e taninos, os quais são obtidos de diferentes partes das plantas e extraídos por processos distintos.
Os fitogênicos podem ser incluídos às dietas como aditivos funcionais e são caracterizados por baixos níveis residuais, ausência de desenvolvimento de resistência e efeitos adversos mínimos (Li et al., 2021).
Para os animais, mais especificamente para as fêmeas suínas, podemos citar alguns benefícios dos fitogênicos, dentre eles:
- Aumento no consumo de ração durante a lactação em fêmeas que recebem o composto do anis estrelado na dieta devido à sua composição aromática. As matrizes beneficiam-se do aumento da ingestão de ração para produção de leite durante a lactação, com consequente melhora no desempenho da leitegada.
- As substâncias ativas do óleo essencial de gengibre também estimulam o apetite. Além disso o gengibre apresenta efeitos anti-inflamatórios, influencia o metabolismo e promove vasodilatação.
- Os óleos essenciais da cúrcuma são conhecidos por seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. Ademais, a curcumina pode ajudar a melhorar o fluxo biliar e apoiar a digestibilidade dos nutrientes. A curcumina tem atividade imunomoduladora e anti-inflamatória.
- Os óleos essenciais do tomilho apresentam efeitos antimicrobianos, antioxidantes, anti-inflamatórios e analgésicos.
- Óleos essenciais de plantas como orégano ou sálvia aumentam a atividade das enzimas pancreáticas, as quais melhoram a digestão dos nutrientes da ração. Isto ocorre porque os óleos essenciais, as substâncias amargas e pungentes contidas nas plantas estimulam os receptores olfativos e gustativos, aumentando reflexivamente a excitabilidade do centro alimentar. Como resultado, o apetite, a salivação, as secreções das glândulas do estômago, pâncreas e intestino e os fluxos biliar e sanguíneo aumentam, promovendo melhores digestão e absorção dos nutrientes.
Mas será que estes benefícios já foram comprovados cientificamente?
Sim. Vários estudos foram feitos e demonstraram, por exemplo, efeito benéfico do orégano (folha seca, flor e óleo) sobre o desempenho reprodutivo de fêmeas suínas primíparas e multíparas, com redução na taxa anual de mortalidade, na taxa de descarte na lactação, melhoria na taxa de parto, no número de leitões nascidos por leitegada e declínio na taxa de natimortos (Allan and Bilkei, 2005). O óleo essencial de orégano tem como principais compostos ativos o carvacrol e timol, que apresentam propriedades antimicrobianas (Hammer et al., 1999) e antioxidantes (Kulisic et al., 2004), resultando em melhor função da barreira intestinal. Adicionalmente, estudo feito com óleo essencial de orégano em matrizes nas fases de gestação e lactação demonstrou que houve impacto positivo deste fitogênico tanto para as matrizes quanto para os leitões. Isto foi comprovado por redução nos marcadores de estresse oxidativo no primeiro dia de lactação, aumento na contagem de Lactobacillus e redução de E. coli e Enterococcus. Já ao término da lactação, houve tendência a aumento na ingestão de alimento que resultou em maior ganho de peso diário dos leitões (Tan et al., 2015). Esta modulação na microbiota foi confirmada por estudo recente no qual animais suplementados com óleo de orégano durante a lactação tiveram aumento na abundância relativa da família Lactobacilaceae e de famílias conhecidas por serem importantes na digestão de fibras (Akkermansiaceae), com transferência desta microbiota das mães para seus leitões, modulando a microbiota da leitegada positivamente (Hall et al., 2021).
Além do orégano, a canela e o tomilho também contribuem para a supressão do crescimento da biomassa microbiana patogênica no intestino (Mosolov et al., 2022).
A canela, quando suplementada para suínos, demonstrou benefícios sobre a eficiência alimentar dos animais (Hung et al., 2012) e sobre o metabolismo por meio da melhora na sensibilidade à insulina (Cottrell et al., 2020), hormônio anabólico importante na manutenção da síntese proteica muscular que atua no transporte de glicose e aminoácidos para o interior das células, favorecendo a síntese de proteínas, glicogênio e triglicerídeos (Huepa et al., 2017). Durante a lactação, como forma de uma adaptação fisiológica para aumentar a disponibilidade de glicose para a glândula mamária, as fêmeas se tornam resistentes à insulina (Quesnel, 2009), justamente no momento de catabolismo lactacional, em que as exigências nutricionais são altas e o consumo de alimento pode não ser suficiente para atender as demandas. Neste contexto, tendem a entrar em balanço energético negativo e as reservas corporais podem ser mobilizadas para atender as exigências. Adicionalmente, o desenvolvimento da resistência à insulina aumenta os níveis de glicose no sangue, reduz o consumo alimentar (Mellagi et al., 2010), e acentua o déficit nutricional das fêmeas. A mobilização de proteína corporal para suprir as exigências da síntese de leite aliada a redução no apetite são prejudiciais às matrizes suínas, portanto, fornecer um composto que aumente a sensibilidade a insulina pode reduzir as perdas corporais.
Outro fitogênico com eficácia comprovada é o extraído da Garcinia indica, o garcinol, tradicionalmente utilizado em regiões tropicais, com propriedades antioxidantes (Padhye et al., 2009). Fêmeas suínas alimentadas com garcinol no final da gestação e durante a lactação apresentaram melhora no status sanitário materno e no estado antioxidante, no teor de proteína do leite, equilíbrio ácido-base no sangue do cordão umbilical e no desempenho dos leitões (Wang et al., 2019). O estresse oxidativo está relacionado a muitas enfermidades por acelerar a produção de radicais livres, resultando em danos às células, DNA, proteínas, lipídios e perda da função biológica (He et al., 2019), e por estar associado a inflamação e redução da integridade da barreira intestinal (Hu et al., 2017). Dessa forma, o uso de substâncias antioxidantes obtidas de plantas é estratégia promissora e eficaz para reduzir a incidência de enfermidades e os prejuízos à saúde e bem-estar dos animais.
A suplementação de óleo de linhaça para fêmeas suínas em lactação promoveu melhoria na concentração de imunoglobulinas no plasma, colostro e leite, bem como na concentração de ácidos graxos no leite (Chen et al., 2017), favorecendo os leitões mediante acréscimo de imunidade transferida via colostro e promoção de maior ganho de peso por melhoria na qualidade do leite.
Outro fitogênico de certa forma curioso, adicionado a dieta de lactação foi o cactus (Opuntia ficus-indica), que promoveu melhora na ingestão de ração e posterior efeito positivo sobre a modulação da microbiota da leitegada por seus compostos com propriedades bacteriostáticas, os fenóis e flavonoides (Ortiz et al., 2019).
Como demonstrado por pesquisas recentes, diversos são os compostos fitogênicos disponíveis para serem adicionados às dietas das fêmeas e promissores são os resultados. Diante da crescente demanda por promoção da saúde, por produtos alternativos aos antimicrobianos, por manutenção do equilíbrio da microbiota, por redução da inflamação e garantia de máximo desempenho dos animais, o uso dos fitogênicos deve ser visto como uma ferramenta valiosa.
Talvez reste uma dúvida para o leitor deste texto, sobre porque temos que adicionar estes compostos fitogênicos na dieta dos animais. Para tanto, temos que nos lembrar que na natureza os suínos ingerem uma série de plantas que contêm compostos ativos benéficos para a saúde. Da mesma forma, nós humanos, que também somos onívoros, temos na nossa dieta uma série de vegetais com compostos fitogênicos, como alho, cebola, pimenta, limão, canela, entre outros. Assim, suplementar os suínos com compostos fitogênicos é uma forma de resgatar uma funcionalidade importante na alimentação dos animais, que além de fornecer nutrientes, deve fornecer compostos ativos que promovam a saúde e a eubiose.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em: https://comunicacao-agriness.s3.sa-east-1.amazonaws.com/diagramacao_relatorio_melhores_versao_reduzida_PT.pdf?utm_source=site+melhores&utm_medium=botao+topo&utm_campaign=pocket15ed
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Texto elaborado por Prof. Geraldo Camilo Alberton, Daiane Gullich Donin, Andrea Panzardi, gerente de Produtos Aditivos suínos da Cargill e Alexandre da Rocha, Consultor técnico de aditivos da Cargill.
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