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Qual a melhor estratégia na compra de insumos?

Ponto cada vez mais importante na sustentabilidade econômica da suinocultura.

Numa atividade onde mais de 70% do custo de produção relaciona-se à ração dos animais, comprar bem os insumos é tão importante quanto obter produtividade na granja. Profissionalização, controle de custos, planejamento estratégico e compreensão da dinâmica do mercado de grãos são pontos chave para se manter na atividade com margens financeiras que determinem a sustentabilidade econômica da granja. O preço pago pelo suíno é estabelecido pelo mercado e, neste quesito, há pouquíssima margem de manobra, visto que, numa cadeia de produção de ciclo longo não há como controlar a oferta de animais no curto prazo e, aquilo que a granja produziu tem que entregar, não há como reter a espera de melhora do preço. Por outro lado, o custo pode sim ser gerido de tal forma que se garanta uma espécie de “teto”.

Até um passado recente bastava se planejar para comprar os insumos na baixa, o que normalmente ocorre na época de colheita. Porém, em função das mudanças do mercado nos últimos anos, às quais veremos a seguir, está cada vez mais difícil adquirir o grão na “boca da colheitadeira”. É preciso conhecer a dinâmica do mercado de grãos e acompanhar sistematicamente os movimentos deste mercado com estratégias racionais de antecipação da compra.

Produtores de milho capitalizados, com maior facilidade de armazenagem (uso crescente de silos bolsa), mercado de exportação favorável (dólar valorizado e demanda externa por milho e soja em alta) e migração cada vez maior do plantio de milho da primeira para a segunda safra (de maior risco climático), determinam uma tendência da redução da oferta de grãos no mercado interno e movimentos especulativos, com a consequente pressão de alta de preço. Muitas vezes, como se observa neste último trimestre de 2020, há estoque de milho no mercado doméstico, mas este estoque apresenta baixa disponibilidade para venda efetiva, ou seja, o preço sobe não pela escassez ou falta de milho, mas porque quem detém o milho não vende esperando um momento com preço mais alto ou porque já vendeu antecipadamente para outros, especialmente as tradings.

Ano após ano o plantio de milho tem migrado para a segunda safra que já representa mais de 70% da produção nacional deste cereal (gráfico 1), sendo que mais da metade de toda a produção está na região centro-oeste. O maior desdobramento disso é o maior risco climático, visto que a segunda safra adentra o início do período seco no cerrado, cujo eventual escasseamento precoce de chuvas pode provocar quebras substanciais na produtividade, como aconteceu em 2016, quando houve desabastecimento de milho no mercado doméstico.

Gráfico 1. Evolução da área plantada de milho no Brasil, em mil hectares, na 1ª, 2ª e 3ª safra (Fonte: Conab). Desde a safra 2012 /13 o plantio de milho tem “migrado” para a segunda safra, de maior risco climático e mais concentrada na região centro-oeste.
Gráfico 1. Evolução da área plantada de milho no Brasil, em mil hectares, na 1ª, 2ª e 3ª safra (Fonte: Conab). Desde a safra 2012 /13 o plantio de milho tem “migrado” para a segunda safra, de maior risco climático e mais concentrada na região centro-oeste.

A produção de milho, e também de soja, mais concentrada no centro-oeste tem consequências também sobre a logística, visto que a maior parte do consumo de rações para aves e suínos ocorre na região sul, e a proximidade do centro-oeste com o arco norte têm determinado um barateamento da logística de exportação. No caso do milho há ainda a proliferação de usinas de etanol que utilizam este cereal nos estados de Mato Grosso e Goiás. A propósito, as exportações, tanto de soja quanto de milho, têm sido um canal de escoamento crescente e grande concorrente das cadeias de proteína animal do Brasil. Por esse motivo, o câmbio do dólar e a movimentação do mercado mundial e safras de outros grandes produtores, como EUA e Argentina e compradores, como a China, devem ser pontos de atenção para projetar os preços dos grãos no mercado doméstico.

Além da inserção definitiva do Brasil como grande exportador de milho no mercado internacional, há ainda o crescimento de um concorrente por este cereal que é o etanol de milho, nos estados do Mato Grosso e Goiás.

Desde 2017 há uma tendência do crescimento destas indústrias que, se por um lado, concorrerão com as cadeias de carnes (tabela 1), por outro lado têm como resíduo o DDG, um produto proteico que pode substituir parcialmente o farelo de soja na ração e, por razões de padronização e qualidade, ainda é pouco utilizado na suinocultura brasileira.

Tabela 1 . Consumo doméstico do milho no Brasil nos últimos anos (Fonte: Conab). Destaque para o crescimento da demanda de usinas de etanol.
Tabela 1 . Consumo doméstico do milho no Brasil nos últimos anos (Fonte: Conab). Destaque para o crescimento da demanda de usinas de etanol.

Mas afinal, como o produtor deve proceder? Primeiramente conhecer o custo de produção, entendendo o quanto cada insumo pesa na composição dos gastos de seu sistema de produção; a partir disso, projetar, dentro do possível, até que valor pode pagar pelos principais insumos, considerando as prováveis oscilações no mercado de venda do suíno, afim de manter margem positiva na atividade; acompanhar o mercado de grãos, com atenção a perspectivas e concretização do clima (chuvas nas regiões produtoras), plantio e colheita, no Brasil, EUA e Argentina, demanda da China e outros grandes importadores; planejar armazenamento e/ou retirada, conforme a demanda e aquisição de insumo; buscar capital de giro para melhorar a capacidade de barganha com o pagamento antecipado de parte ou de todo o insumo comprado antecipadamente; escolher uma ou mais ferramentas de mercado futuro, como hedge, negociação de “travamento” junto às esmagadoras de soja, contratos particulares com produtores de milho e leilões reversos. Importante lembrar que qualquer operação no mercado futuro é uma operação de risco. Porém, o risco será menor, tanto melhor se trabalhar em cada um dos fatores de análise supra citados.

Não há dúvida que a dinâmica do mercado de grãos no Brasil mudou muito nos últimos anos. O suinocultor é um transformador de grãos em carne. A compra de insumos da “mão para a boca” tem que ser substituída por estratégias de antecipação de aquisição, buscando custos que mantenham a atividade competitiva.

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