Vamos parar por um minuto a análise do impacto da Peste Suína Africana (PSA) e vamos considerar as lições que podemos extrair do que está acontecendo na China quanto a produção suína mundial. Em um futuro relativamente próximo, muitos países produtores de carne suína terão lições similares ao que os nossos colegas chineses estão enfrentando e minimizar as suas consequências requererá que mergulhe com muito mais intensidade na inovação para servir de base do seu negócio.
A inovação é o processo de procura constante da solução seguinte, antes de que seja esmagado pelo colapso provocado pela inadequação ao presente. Muita gente não pode acompanhar este ritmo porque o conhecimento convencional fará com que se agarre a uma situação mais segura a curto prazo, que é muito mais confortável. Ainda assim, para ter êxito no futuro, a aposta na inovação, como um princípio fundamental, será um requisito indiscutível já que o ritmo de mudança irá acelerar drasticamente.
Se realmente entende o que se passou na China, sabe que o problema primordial não é apenas a biossegurança falha a nível de granja, mas também a nível regional. Consideramos este caso como uma manifestação de um "salto tecnológico" que ocorreu terrivelmente mal. Os países em desenvolvimento tiveram um grande êxito saltando-se algumas das fases tecnológicas pelas que passou a evolução dos países desenvolvidos como a UE e os Estados Unidos. Isto conhece-se como salto tecnológico ou salto de rã.
Observe como os seus filhos ou netos mexem no celular ou no tablet e pense no que você fazia com a mesma idade. Eles não precisam desses cadernos de bolso ou dos calendários em papel. Eles também irão deixar para trás as câmaras de 35 mm, o telefone fixo ou a calculadora. Faz ideia do panorama que estou descrevendo? Os robots eliminarão os trabalhos intensivos que persistiram durante mais de dois séculos em países industrializados como os EUA e a UE? Claro que sim.
Tendo em conta as ideias anteriores, se fossemos construir, quase que do zero, um sistema moderno de produção de carne suína em uma mega escala e a um ritmo acelerado como a China está tentando, você iria transferir os sistemas atuais de produção de carne suína da Europa e dos Estados Unidos para um país que está passando por tantas mudanças drásticas ?
Considere o aparecimento dos serviços veterinários especializados em suíno nos EUA e na UE. Considere a existência de laboratórios de diagnóstico, as regulamentações oficiais de pesos e carcaças, o controle estatal da contaminação e do uso dos nutrientes do efluente (em vez da sua simples eliminação) como um grande objetivo. Considere que a autorização para abrir uma nova granja é o produto final de uma análise multi-variável realizada por uma equipe interdisciplinar de engenheiros e políticos com tempo suficiente para minimizar futuros problemas. Adicione a isso, o desenvolvimento de uma rede que permite transportar grandes grupos de animais em caminhões, frigoríficos modernos e uma cadeia de distribuição de alimentos segura até ao consumidor final, a transparência de preços entre mercados, etc. Assim, daremos conta que os sistemas de produção dos EUA e da UE foram formados pelo desenvolvimento conjunto de uma série de sistemas de suporte exclusivos que ainda não se encontram na China (porque não havia qualquer necessidade até agora). O que era um sistema robusto na Europa, era frágil lá.
Assim, ainda que os analistas de dados das granjas chinesas estejam muito por acima dos analistas dos EUA e da UE no uso de inteligência artificial para o manejo da produção suína, os seus sistemas têm este imenso calcanhar de Aquiles que nega estas contribuições. Por falar em calcanhar de Aquiles, como pensar que se pode competir quando a "carne limpa", uma cultura celular com o sabor, textura, características sensoriais, sustentabilidade, vantagens no uso de recursos renováveis, baixo custo e uma melhoria dramática da saúde, alterem os seus planos orientados para um mercado de exportação em crescimento constante? Se a sua primeira ideia é esforçar-se para reduzir o custo de produção de forma a poder continuar a ser competitivo, rapidamente sentirá dor no calcanhar. Os investimentos das grandes empresas de alimentação nesta tecnologia estão aumentando e os governos estão prestes a inclui-la, em níveis significativos, em refeitórios escolares, militares, federais e estatais, redes de fast food, etc. Os nossos sistemas atuais estão construídos numa base de conhecimentos convencionais que rapidamente vão deixar de ser úteis. Comece a assumir a inovação porque, ao fim do dia, somos todos China.