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Espaço disponível, mistura de animais ou alimentação por fases: qual fator tem maior impacto na produtividade da terminação?

Mais espaço disponível para suínos de terminação melhora sua produção? Devemos procurar ter grupos iguais? Este estudo avalia o efeito de diferentes elementos no desempenho da fase.

Artigo comentado

Camp Montoro J, Pessoa J, Solà-Oriol D, Muns R, Gasa J, Manzanilla EG. Effect of Phase Feeding, Space Allowance and Mixing on Productive Performance of Grower-Finisher Pigs. Animals. 2022; 12(3):390. https://doi.org/10.3390/ani12030390

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Comentário acadêmico, por Josep Gasa

Efeito da alimentação faseada, espaço disponível e mistura de animais no rendimento produtivo de suínos de terminação.

A pesquisa procura avaliar o efeito de três fatores de produção e manejo sobre os parâmetros produtivos e de carcaça de suínos de terminação entre 11 e 21 semanas de vida. Especificamente, o trabalho estuda:

  • a mistura ou não de leitões de diferentes leitegadas na mesma baia,
  • o espaço disponível por suíno ou densidade animal:
    • 0,96 vs 0,78 m2/suíno equivalente a 10 ou 13 suínos por baia de 9 m 2
  • a alimentação por fases:
    • alimentação única: 0,95g SID Lys/Mj EN durante todo o período.
    • duas alimentações:
      • Primeira alimentação: 0,95 g SID Lys/Mj EN da semana 11 à semana 15/16 de vida,
      • Segunda alimentação: 0,82 g SID Lys/Mj EN a partir da semana 16, amarrados ou abatidos.

Três experimentos foram realizados:

  • No primeiro e no segundo são comparados, em layouts 2x2
    • Duas densidades (0,96 x 0,78 m2/suíno)
    • Misturar ou não leitões de leitegadas diferentes
      • Nos grupos “não mistos”
        • Alimentação em fases
          • Alimentação única 0,95 g SID Lys/Mj EN
          • Duas alimentações:
            • semana 11 a 15 --> 0,95 g SID Lys/Mj EN
            • Semana 15 - final -> 0,82gSID Lys/Mj EN

O Experimento 3 é essencialmente a repetição da segunda comparação (densidades e ração) usando leitegadas mistas.

Os resultados indicam a mistura de leitegadas como o fator de maior impacto. Os suínos que foram misturados comeram e cresceram significativamente menos e a diferença de peso com animais não misturados excedeu 5 kg às 21 semanas de idade. Em todo o caso, quando se utilizam grupos pequenos (entre 10 e 13 suínos), os resultados não são generalizáveis ​​a grupos grandes. A diferença de densidade de animais ou de espaço disponível por suíno teve pouco efeito nos resultados produtivos, em parte porque o espaço testado (0,96 ou 0,78 m2/suíno) excede em muito o mínimo permitido pela UE (0,65) e que o peso médio de abate não exceda 110kg. No entanto, com densidades mais altas ou espaços mais apertados, agora comuns como resultado da hiperprolificidade, os resultados podem ser diferentes. Na verdade, em um comentário precedente (novembro 2022) estabeleceu-se um espaço ótimo de 0,76 m2/suíno de até 105 kg em condições de termoneutralidade.

A administração de uma ou duas rações durante as dez semanas do experimento só modificou os rendimentos produtivos quando os suínos não foram misturados. A ração única melhorou significativamente o peso de abate (aproximadamente 2-4 kg), crescimento e conversão alimentar (experimentos 1 e 2). Estas diferenças desapareceram nos suínos mistos (experimento 3). No entanto, presumivelmente o programa de alimentação dupla reduziu a excreção de nitrogênio que não foi medida.

Por fim, nenhum dos fatores estudados afetou significativamente o percentual de carne magra, a espessura do toucinho ou o teor de músculo das carcaças.

Este trabalho mostra as dificuldades experimentais e de projeto envolvidas em trabalhar com fatores de produção ou de manejo inter-relacionados, e os cuidados necessários que devem ser tomados para generalizar e/ou extrapolar os resultados para diferentes condições de produção.

Comentário prático, por Josep Casanovas

Os veterinários são especialistas em bem-estar animal. A parte mais importante do nosso trabalho é que as pessoas que trabalham com animais também o sejam. Dos diferentes fatores que afetam a produtividade, o manejo, as ações realizadas pelo suinocultor, têm uma incidência muito importante.

Por isso, trabalhos de pesquisa como este, que relacionam as condições de bem-estar animal com a produção e os índices de qualidade da carcaça, são muito apreciados.

Esses trabalhos nos permitem conhecer mais sobre o Bem-Estar Animal Real, que deve ser a base para forjar o Bem-Estar Animal Legal. Associar bem-estar a dados produtivos me parece um avanço muito importante. Uma forma de medir o bem-estar é a produtividade.

Conforme demonstrado pelo Bem-Estar Animal Legal, quando se fala em Bem-Estar, muitos preconceitos são gerados, entendidos como uma série de pré-conceitos, que a realidade dos dados se encarrega de colocar em prática.

  • Parecer Pré-concebido nº1, os animais em fase de crescimento devem ser alojados em grupos iguais.

Em geral gostamos de ver os animais iguais, mas isso força a mistura. Para manter os grupos uniformes, faça uma triagem e revise pelo menos algumas vezes, na hora do desmame e na hora da terminação.

Os resultados do estudo não suportam esta opinião preconcebida. A mistura é um dos principais inimigos do Bem-Estar Animal. Ter que ir restaurando a hierarquia não é uma boa opção.

  • Opinião preconcebida nº 2, quanto mais espaço disponível, melhor.

Todos nós já tivemos experiências muito agradáveis ​​sobre o que significa para os suínos na fase de crescimento dar-lhes mais espaço. Ao passar os animais maiores para uma próxima fase, os animais restantes têm melhor desempenho, pois possuem mais recursos.

Novamente aqui os resultados do estudo acabam não endossando a opinião preconcebida.

Também é verdade que muitos mais estudos seriam necessários para poder afirmar isso categoricamente. O resultado vai depender muito de diversos fatores, como quando o estudo foi realizado. No que diz respeito à densidade, o inverno não é igual ao verão. As necessidades de espaço no verão são maiores enquanto no inverno é mais fácil aceitar o atrito e o contato.

Em situações onde existe uma sazonalidade muito acentuada, os resultados de um estudo como este estarão muito condicionados pela época do ano em que são realizados.

Estou ansioso para que alguém faça alguma pesquisa sobre o tamanho do grupo. Num grupo grande, o espaço é muito melhor aproveitado, é mais fácil conseguir boas condições de bem-estar ambiental e penso que os inconvenientes de nidificação e mistura são minimizados, principalmente se trabalhar com um grupo que já foi socializado no maternidade desde a primeira semana de vida.

Figura 1. Um grupo de leitões socializado na maternidade.
Figura 1. Um grupo de leitões socializado na maternidade.

Quanto à variável da alimentação faseada, terei de guardar a minha opinião para comentários futuros, mas sem dúvida o número de fórmulas que vão intervir, a gama de pesos, a sazonalidade... também serão importantes..

Resumo do artigo comentado

Camp Montoro J, Pessoa J, Solà-Oriol D, Muns R, Gasa J, Manzanilla EG. Effect of Phase Feeding, Space Allowance and Mixing on Productive Performance of Grower-Finisher Pigs. Animals. 2022; 12(3):390. https://doi.org/10.3390/ani12030390

Métodos: Este estudo investiga os efeitos do espaço disponível, mistura de animais e alimentação faseada sobre o desempenho de suínos em terminação. Três testes foram realizados. Nos ensaios 1 e 2, 345 suínos/ensaio entraram na fase de terminação com 11 semanas de idade e foram distribuídos em dois espaços disponíveis: 0,96 m2/suíno (n = 15 baias; 10 suínos/baia) e 0,78 m2/suíno (n = 15 baias; 13 suínos/baia). A mistura de animais foi aplicada em 5 baias para cada espaço disponível, o que deu origem a um planejamento fatorial 2 × 2 (espaço disponível × mistura). Para alimentação faseada, 2 dietas com 0,95 e 0,82 g de lisina digestível ileal padronizada/MJ de energia líquida foram administradas a 5 baias para cada espaço disponível (em baias sem mistura de animais), o que levou a outro planejamento fatorial 2 × 2 (disponível espaço × potência de fase). No ensaio 3, 230 porcos foram transferidos para terminação com 11 semanas de idade, misturados e alocados em 4 tratamentos (espaço disponível × fase de alimentação; n = 5 baias). Os dados foram analisados ​​usando modelos mistos lineares generalizados.

Figura 2. Ilustração esquemática do delineamento experimental nos ensaios 1, 2 e 3. Nos ensaios 1 e 2, o delineamento experimental foi um arranjo fatorial 2 × 2 com espaço disponível x mistura animal e espaço disponível x alimentação faseada como tratamentos, respectivamente. No experimento 3, o delineamento experimental foi um arranjo fatorial 2 × 2 com espaço disponível x fase de alimentação como tratamento e a mistura animal foi aplicada a todas as baias. Fonte: Montoro et al. 2022.
Figura 2. Ilustração esquemática do delineamento experimental nos ensaios 1, 2 e 3. Nos ensaios 1 e 2, o delineamento experimental foi um arranjo fatorial 2 × 2 com espaço disponível x mistura animal e espaço disponível x alimentação faseada como tratamentos, respectivamente. No experimento 3, o delineamento experimental foi um arranjo fatorial 2 × 2 com espaço disponível x fase de alimentação como tratamento e a mistura animal foi aplicada a todas as baias. Fonte: Montoro et al. 2022.

Resultados:

O espaço disponível não afetou o desempenho. Os suínos não misturados pesavam 5,40 (ensaio 1) e 5,25 (ensaio 2) kg a mais do que os suínos mistos com 21 semanas de idade. A alimentação faseada reduziu o desempenho dos suínos em 3,45 (ensaio 1) e 4,05 (ensaio 2) kg às 21 semanas de idade.

Conclusão:

A mistura de animais e a redução da taxa padronizada de lisina digestível ileal:energia líquida de 0,95 para 0,82 g/MJ às 15-16 semanas de idade tem um efeito mais marcante no desempenho do que a redução do espaço disponível de 0,96 para 0,78 m2/suíno.

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