O Brasil quadruplicou a produção de suínos nos últimos 40 anos, mérito conjunto de uma cadeia vitoriosa. Importante conhecer um pouco mais a fundo este movimento para termos real noção do que foi feito e do que somos capazes de traçar como expectativas futuras.
A suinocultura tem como objetivo principal a maior agregação de valor ao produto final, tendo quatro grandes indicadores da operação: prolificidade, conversão alimentar (CA), viabilidade e qualidade. A considerável evolução produtiva no Brasil é reflexo direto especialmente dos pontos de maior impacto na produção: prolificidade e conversão alimentar.
A prolificidade traduzida em leitões desmamados por fêmea por ano é a multiplicação direta do número de leitões desmamados por fêmea e o número de partos no ano. O incremente deste indicador foi de quase 5 leitões desde 2008 (Agriness 2021). Por outro lado, a conversão alimentar (kg de ração consumida para formar 1 kg de peso vivo) também teve um expressivo ganho, sendo comuns já lotes com números inferiores a 2:1.
Os grandes diferenciais neste ganho de produtividade estão relacionados aos pilares básicos da produção: genética, sanidade, nutrição, manejo, instalações e gestão. Impossível dissociar a importância isolada de cada um no ganho produtivo (Figura 1).
Genética: Um dos divisores de água em relação à genética ocorreu a partir do final dos anos 90 com a massificação da inseminação artificial (IA). Período de construção das primeiras grandes centrais de sêmen e difusão da tecnologia a campo o que permitiu de forma rápida o aumento do valor zootécnico dos machos doadores, além da própria IA elevar os padrões de higiene e manejos relacionados ao período de gestação. Outro grande impacto ocorreu com o ingresso de diferentes linhagens genéticas a partir do início dos anos 2000, elevando o patamar em relação à prolificidade e maior competitividade entre as empresas fornecedoras.
Sanidade: Um grande passo do Brasil em relação à sanidade foi a estruturação do modelo em sítios de produção separados. O uso da IA foi determinante para a expansão de granjas familiares pequenas de ciclo completo para granjas específicas em sítios de produção separados, reduzindo a pressão infecciosa pela não manutenção de animais de diferentes idades no mesmo sítio. Este mesmo movimento proporcionou o início da produção em lotes maiores (manejo em bandas de 2, 3 ou 4 semanas), os conceitos sanitários de produção todos dentro-todos fora, a especialização e capacitação direcionada por idade dos animais (sítios 1 ,2, 3 e 4) e os rigores de biosseguridade conforme modelo produtivo. Cabe reforçar a importância dos programas de monitorias que visam manter a atenção à qualquer alteração sanitária, sejam novos desafios ou aqueles que surgem em função de mudanças no perfil do agente, do hospedeiro ou do ambiente envolvido.
Nutrição: O foco direcionado por fases é um dos grandes diferenciais da nutrição na produtividade. Na reprodução, além da necessidade de um maior rigor em relação à qualidade das matérias-primas, o direcionamento do manejo considerando o escore corporal das matrizes – individualizado - trouxe um grande impulso em relação à prolificidade, viabilidade de matrizes e indiretamente na qualidade dos leitões pelo maior suprimento de leite. Tanto nas fases de creche como terminação, tivemos uma maior oferta de equipamentos de maior qualidade, o que sem dúvida permitiu melhor regulagem e rigor no suprimento por fase e este, sem dúvida é um dos grandes pontos de atenção em termos de CA.
Manejo/Gestão: O maior gargalo em relação à produção atual está relacionado à mão-de-obra. O Brasil conta com um expressivo incremento na profissionalização da cadeia, suporte das universidades, instituições de pesquisa, associações e empresas produtoras, porém ainda temos um turnover elevado na atividade em todos os segmentos produtivos. O movimento de classe via associações tem elevado a visibilidade da cadeia, profissionalizado as relações e sem dúvida contribuído muito no aumento do consumo da carne suína o que indiretamente move a cadeia em relação ao aperfeiçoamento técnico e melhora na competitividade e produtividade na cadeia.
Instalações: Diferente do setor de avicultura, a suinocultura brasileira ainda conta com distintos projetos construtivos e um número ainda muito baixo de investimentos em relação à climatização das instalações. A partir da década de 2010 têm crescido os projetos de granjas climatizadas nos setores de maternidade e gestação especialmente. Um dos grandes desafios atuais é o investimento para adequação aos modelos de bem-estar animal com a migração dos alojamentos individuais para gestação coletiva. Além das questões econômicas ainda estamos em momento de aprendizagem à adequação, como um ponto de atenção e direcionamento de suporte técnico especializado (Figura 2).
Nossa cadeia produtiva foi consolidada por trabalho sério e responsável em todos os segmentos. O dinamismo desta cadeia nos move e desafia. Importante refletirmos no que foi feito, nas tecnologias que não se tinha há 20 ou 30 anos atrás e que hoje estão consolidadas. O Brasil é um pioneiro por natureza e não podemos perder nosso foco em produzir bem e com qualidade e custos efetivos. Nós estamos numa cadeia que faz coisas boas, para as pessoas e para comer!