Produção Brasileira de Suínos: Como se formam os custos de produção?

A suinocultura representa uma atividade de grande impacto técnico-financeiro para o país e, ao lado da avicultura movimenta riqueza para a economia brasileira. No ano de 2022 estas duas atividades representaram 13,5% do Valor Bruto da Produção (VBP) do agronegócio nacional, algo em torno de R$ 144 bilhões (aproximadamente U$ 28,8 bilhões). Somente a suinocultura gera mais de 1,5 milhões de empregos, diretos e indiretos.

No Brasil esta atividade é desenvolvida basicamente em três modelos produtivos: produção integrada, produção via cooperativas e produção independente. Cada um tem suas vantagens e desvantagens. No modelo independente não há vínculo contratual, as decisões técnico-financeiras são do próprio produtor, há uma maior possibilidade de negociação do produto final com uma maior exposição ao risco por estar sujeito às flutuações de mercado. Já nos modelos integrado e cooperado, existe a formalização contratual, garantindo um fluxo de produção e venda mais estável o que tem grande impacto especialmente em momentos de crise. Todos os modelos produtivos acessam às mesmas vias nos custos de produção e por se tratar de uma cadeia longa e complexa é muito importante o equilíbrio entre momentos de maior ou menor ganho na manutenção de pelo menos três dos principais fatores impactantes no custo (nutrição, instalações e plantel). Atualmente a participação da produção independente no Brasil está ao redor de 17%.

Desconsiderando o modelo de produção, o maior balizador é o custo de produção, que a partir dele se determina o sucesso ou não da atividade para enfrentar o mercado.

Ao observar os custos de produção do último levantamento feito pela INTERPIG, realizado em 2022 considerando dados de 2021, percebe-se a produção no Brasil com um maior impacto da alimentação (ao redor de 80%) e um menor impacto da mão de obra (ao redor de 3%) sobre o custo total da produção em relação aos demais países.

Analisando a composição aberta dos custos de produção da Embrapa Suínos e Aves do mês de março 2023 (tabela 1), observamos o grande impacto da nutrição, seguidos da depreciação e custo de capital e quase que uma igualdade nos custos de manutenção, mão de obra, diversos e transporte.

Tabela 1: Composição aberta dos custos de produção da Embrapa Suínos e Aves do mês de março 2023.

A nutrição elaborada no Brasil considera basicamente os componentes derivados de milho e soja, ainda com pouca utilização de componentes considerados “alternativos”. Existe uma parcela de utilização de sorgo, aveia, centeio e arroz, mas ainda com baixa representatividade. Interessante observar a distribuição da produção de suínos (abates) nas cinco diferentes regiões do Brasil e sua evolução nos últimos 20 anos bem como o comparativo da produção e evolução do cultivo de milho. É nítido o aumento em produção e produtividade tanto dos cereais como dos suínos (figuras 1 e 2), bem como o aumento na participação da produção nos locais mais próximos ou com melhor escoamento da produção de cereais. Chama atenção a participação da região Centro-Oeste que cresceu quase 10 pontos percentuais em produção de suínos e mais de 36 pontos percentuais na produção de milho por exemplo.

Sem dúvida o Brasil tem um potencial muito diferenciado em relação aos grandes produtores mundiais ao considerar a possibilidade de cultivo de duas e até três safras em algumas regiões. As condições de clima, temperatura, regime pluviométrico, área cultivável e disponibilidade de água, além da grande evolução tecnológica na agricultura sem dúvida tornam o Brasil um dos grandes competidores mundiais, levando em conta o grande impacto da nutrição sobre o custo final do produto acabado.

Se por um lado a proximidade da produção de suínos à origem dos grãos é uma vantagem competitiva econômica, por outro um dos grandes gargalos do Brasil continua sendo a infraestrutura para transporte tanto de matérias primas como produto acabado, havendo enormes oportunidades em relação ao transporte ferroviário e hidroviário.

Comparativamente a outros países do hemisfério Norte e alguns do Sul, o Brasil conta com um menor desafio sanitário relativo a enfermidades virais como Peste Suína Africana e Clássica, Síndrome Respiratória e Reprodutiva dos Suínos, Febre Aftosa e Gastroenterite Transmissível dos Suínos entre outras. O impacto da sanidade tem correlação direta sobre o custo de produção por interferir principalmente nas taxas reprodutivas e mortalidades (diminuição de animais) e especialmente um impacto até maior de forma crônica sobre os índices de conversão alimentar. O potencial de perdas gerado especialmente por doenças virais pode ser catastrófico, que além do comprometimento na produtividade leva a prejuízos até maiores como as sanções comerciais e até o fechamento de zonas produtivas. A situação sanitária mundial relativa aos desafios virais principalmente, tem sido uma grande oportunidade comercial e deve ser mantida como um dos maiores pontos de atenção de vigilância sanitária e biosseguridade.

A Suinocultura é sem dúvida uma atividade de grandes desafios e oportunidades. O Brasil aumentou seu consumo e produção e ainda existem muitas oportunidades para evoluir tanto em produção quanto em produtividade.