Contexto mundial
A partir do último trimestre de 2021, os preços das matérias-primas iniciaram uma trajetória ascendente, derivada de diversos fatores conjunturais, como o aumento da inflação, a reativação das economias, os gargalos nas cadeias produtivas e as perdas nas safras sul-americanas devido a condições meteorológicas adversas. Uma tendência que se acentuou muito mais com a materialização da guerra entre Rússia e Ucrânia em 24 de fevereiro, sendo a Ucrânia o quarto maior exportador mundial de milho e com as restrições à navegação e comércio no Mar de Azov e no Mar Negro. Por causa da guerra, gerou-se uma crise de abastecimento que afetou principalmente a União Europeia e levou à volatilidade dos preços dos grãos nos mercados mundiais, que também transcendeu os preços da soja.
De fato, segundo dados da Chicago Board Trade (CBOT), os preços dessas matérias-primas este ano atingiram seu maior valor desde 2012, consolidando uma média de US$ 320/t (t) para o milho em 2 de maio e US$ 650/t. t para soja em 10 de junho.

De acordo com o relatório mais recente do Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA: Grãos: Mercados Mundiais e Comércio, em 22 de julho as delegações da Ucrânia, Turquia, Rússia e as Nações Unidas assinaram um acordo para fornecer passagem segura de grãos dos portos ucranianos de Odessa, Chornomorsk e Pyvdenny, o que garantiria o movimento de grãos ucranianos através do Mar Negro. Esse acordo aliviou bastante a pressão sobre os preços mundiais do milho, que se refletiu na queda dos preços da CBOT em julho. Embora haja otimismo cauteloso sobre o acordo, os futuros das duas matérias-primas voltaram a transitar em trajetória ascendente a partir de agosto, como veremos a seguir.
Milho
Segundo a CBOT, o preço médio de agosto para o contrato com vencimento em setembro próximo foi de US$ 248,8/t, valor 14,5% superior à média de agosto de 2021 (US$ 217,3/t), variação de 10%. Por outro lado, a média dos seis contratos próximos ao vencimento (US$ 245,7/t), mostra um aumento de 5,2% em relação à média de julho (US$ 233,5/t) e de 12,1% em relação à média de janeiro (US$ 219,2). /t).
Tabela 1. Futuro médio de milho USD/t.
Vencimento
Fonte: CBOT, cálculos Departamento de Economia e Inteligência de Mercados 333 América Latina.
Devido ao exposto, temos que os contratos com vencimento entre setembro de 2022 e julho de 2023, estariam oscilando em torno de US$ 250/t, enquanto os com vencimento mais distante (setembro e dezembro de 2023) giram em torno de US$ 235/t.

Soja
Para o mês de agosto, o preço médio do futuro da soja também apresentou tendência geral de alta, segundo dados da CBOT. De fato, para o contrato que vence no mesmo mês, consolidou-se uma média de US$ 600,1/t, o que significou um aumento de 18,8% em relação à média de agosto de 2021 (US$ 505,2/t) e de 9,2% em relação à média de julho passado (US$ 549,6/t). Da mesma forma, a variação do ano para este contrato significou um aumento no preço de 17,1%. Por outro lado, a média dos 6 contratos próximos ao vencimento foi de US$ 528,6/t, o que representa uma variação média mensal de 5% e 9,9% no acumulado do ano.
Tabela 2. Futuro médio de soja USD/t.
Vencimento
Fonte: CBOT, cálculos Departamento de Economia e Inteligência de Mercados 333 América Latina.
O contrato que expirou em agosto caracterizou-se por marcar um gap muito acentuado em relação aos demais futuros. Por outro lado, o vencimento em setembro terminou com média de US$ 551/t, valor superior ao dos próximos vencimentos, que foram cotados em torno de US$ 522/t.


Como afeta o setor de suínos
Levando em consideração o comportamento dos contratos futuros, podemos afirmar que a situação do mercado de matérias-primas é bastante complexa, tendo em vista a sensibilidade dos grãos e oleaginosas a choques externos como conflitos geopolíticos, clima desfavorável, aumento do preço do petróleo, entre outros fatores que geram grande volatilidade que mantém a tendência de alta dos preços.
O exposto se traduz em maiores custos de produção para o setor, principalmente naqueles países que possuem alta dependência das importações de milho e soja para a fabricação de suas rações balanceadas, como é o caso da Colômbia e do Peru. Nesse sentido, a situação fica ainda mais complicada se levarmos em conta os altos níveis de inflação que limitam o consumo e a desvalorização das moedas locais frente ao dólar, situação que encarece as importações.