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Ficha técnica: Plasma animal

Ficha técnica com o valor nutricional (comparação de tabelas), produção, comércio e estudos mais recentes sobre o plasma animal.

Introdução

O plasma animal é um produto obtido do processamento do sangue proveniente dos abatedouros. Pode ter uma origem multi-espécie (mistura de plasmas de bovino e suíno) ou mono-espécie (só bovino ou só suíno) atendendo basicamente às regulamentações e normativas regionais aplicáveis à alimentação animal.

O processo de obtenção do plasma começa no abatedouro com a coleta do sangue e com a incorporação de sais com efeito anticoagulante (citrato trisódico e tripolifosfato sódico). Em seguida, submete-se o sangue tratado a processos para separar o plasma dos glóbulos vermelhos que representam ¾ partes do total. Após a filtração, os métodos de separação mais comumente utilizados atualmente são a osmose inversa ou a filtração (quer seja nano- ou ultra filtração). Finalmente, o plasma uma vez separado é secado mediante um processo de atomização para obter um produto final seco, estável e não compacto que tenha um aspecto de pó de cor creme.

O processo de separação é o determinante para a qualidade do produto final, diferenciando-se basicamente em conteúdo de proteína e sais. O plasma obtido por osmose inversa apresenta menor conteúdo de proteína e maior concentração de sais (±70% de PB e >15% cinzas) enquanto que a filtração permite uma maior concentração de proteína (±78%) e uma grande redução das cinzas (5-6%). A nível mundial há tendências de uso de uma ou outra técnica em função dos sistemas de processamento utilizados na regional.

O plasma como ingrediente para a alimentação animal apresenta uma proteína de elevada qualidade e digestibilidade já que basicamente contém proteínas plasmáticas (albuminas e globulinas).Quanto aos aminoácidos, o plasma é rico em lisina e treonina mas pobre em aminoácidos sulfatados e ramificados, especialmente não balanceado em isoleucina. O plasma tem sido, basicamente, utilizado em dietas de leitões devido ao seu elevado custo, contudo na atualidade e devido à sua funcionalidade, está sendo considerado a sua utilização em outras fases da criação.

Finalmente, não podemos esquecer que, na UE e desde o ano 2005, só se permite a utilização de plasma suíno proveniente de origens autorizadas (Regulamento CE 1292/2005) nas dietas para suínos. Por isso é que no âmbito da suinicultura da UE muitas vezes se fale de Plasma Suíno e não de Plasma Animal.

Estudo comparativo dos valores nutricionais


Os sistemas utilizados na comparação são: FEDNA (Espanhola), CVB (Holandesa), INRA (Francesa), NRC (EUA) e do Brasil.

FEDNA1 CVB2 INRA2 NRC Brasil
MS (%) 91,4 - - 91,9 91,3
Valor energético (kcal/kg)
Proteína bruta (%) 70,6-78,0 - - 77,84 71,7
Extrato etéreo (%) 0,8-0,6 - - 2,0 1,03
Fibra bruta (%) 0,0 - - 0,0 0,0
Amido (%) 0,0 - - 0,0 0,0
Açúcares (%) 2,0-3,0 - - - -
ED crescimento 3520-3956 - - 4546 4122
EM crescimento 2980-3270 - - 4017 3763
EL crescimento 1660-1815 - - 2506 2280
EL reprodutoras 1660-1815 - - 2506 2280
Valor proteico
Digestibilidade proteína bruta (%) 88-90 - - 81 95,5
Composição aminoácidos (% PB)
Lys 8,70 - - 8,86 9,09
Met 1,12-0,73 - - 1,02 1,24
Met + Cys 3,93-4,30 - - 4,35 4,28
Thr 5,98 - - 5,74 6,23
Trp 1,68-1,81 - - 1,81 1,83
Ile 3,35-3,50 - - 3,46 3,15
Val 6,61-6,52 - - 6,58 6,86
Arg 5,90 - - 5,64 5,51
Digestibilidade ileal estandartizada (% PB)
Lys 93-92 - - 87 95,1
Met 91-90 - - 84 93,5
Met + Cys 91 - - 84,5 92,9
Thr 91-89 - - 80 92,5
Trp 90-91 - - 92 90,2
Ile 92 - - 85 89,5
Val 92 - - 82 93,5
Arg 90-91 - - 91 96,1
Minerais (%)
Ca 0,20-0,15 - - 0,13 0,17
P 0,15-1,20 - - 1,28 0,46
P fítico 0 - - 0 0
P disponível 0,14-1,20 - - - 0,46
P digestível 0,12-1,10 - - 1,25 0,42
Na 6,30-2,80 - - 2,76 3,12
Cl 4,60-1,30 - - 1,19 0
K 0,42-0,17 - - 0,02 0,56
Mg 0,1-0,02 - - 0,03 0,02

1Para o sistema de avaliação FEDNA apresenta-se o intervalo de valores (mínimo e máximo) procedentes da integração das 2 classificações diferentes que este sistema de avaliação considera basicamente em função do conteúdo em proteína, que difere basicamente devido a processo de obtenção (osmose inversa vs nano ou ultra filtração).

2Para os sistemas de avaliação INRA e CVB não se apresentam dados já que ambos os sistemas não contemplam o Plasma Animal como ingrediente.

Diferente de outros ingredientes deve-se destacar que dois dos sistemas de avaliação selecionados (INRA e CVB) não contemplam o Plasma Sanguíneo Animal como ingrediente para a alimentação animal e, portanto, só se apresentam dados da avaliação nutritiva para este ingrediente da FEDNA, NRC e BRASIL. Além disso, a FEDNA apresenta dois tipos de Plasma Sanguíneo Animal, basicamente diferenciadas em função do conteúdo em proteína (±70% e ±80%), valores diretamente associados ao tipo de processo para obtenção do produto (concentração do plasma antes da atomização, por osmose inversa ou nano filtração ou ultra filtração, respectivamente). A avaliação do conteúdo de proteína para o BRASIL (±72%) e para o NRC (±78%), emparelham-se com as duas qualidades diferenciadas pela FEDNA, respondendo claramente ao sistema de obtenção mais típico de cada área de produção e o seu sistema de avaliação.

O intervalo de matéria seca proposto para os diferentes sistemas de avaliação é muito parecido para todos os sistemas, apresentando pouca variação entre eles (91,5%±0,31).

A variação observada no conteúdo de proteína associada ao processo de obtenção do produto, é consistente para os restantes dos nutrientes (principalmente AA) bem como para a estimativa do valor de energia, dado que a influência do conteúdo em gordura (2%±0,6) não permite explicar nenhum efeito na previsão do valor de energia. Se não considerarmos o BRASIL que apresenta um valor de EL (2280 kcal/kg) relativamente alto com um conteúdo de proteína inferior que o do NRC (para uma EL 226kcal/kg inferior), pode-se observar uma resposta mais linear entre o conteúdo de proteína e o valor da EL (r2 = 0,40).

Em termos de aminoácidos totais, tendo como referência a lisina, o BRASIL possue um maior conteúdo em lisina por unidade de proteína do que o NRC (+2,5%) e do que a FEDNA (+4,3%). Uma tendência similar pode ser observada para a Metionina, o Triptófano e a Arginina, ainda que para a Valina o diferencial de +4,3% equipara-se ao NRC e para a FEDNA e no caso da Treonina a relação inverte-se sendo de +7,8% relativamente ao NRC e de +4% em relação à FEDNA. Por último devemos destacar que a FEDNA e o NRC em média superestimam o conteúdo em Isoleucina por unidade de proteína em >9% relativamente ao BRASIL, um efeito que no caso deste aminoácido está diretamente associado ao sistema de obtenção, já que essa superestimação da FEDNA em relação ao BRASIL, quando se considera o conteúdo em isoleucina para o Plasma 78% de Proteína, é >11%. O coeficiente de digestibilidade da proteína e da lisina apresenta um intervalo entre 81-90% e 87-95%, respectivamente. Tal como para o conteúdo em AA, observa-se uma superestimação do coeficiente de digestibilidade proposto pelo BRASIL relativamente ao NRC (+15% e +8%) e mais ligeira em relação à FEDNA (+7% e +3%).

Deve-se destacar, que tipo de processamento tem um impacto muito importante no conteúdo final de cinzas que o produto apresenta (oscilando entre 12-15%) obtido por concentração prévia à atomização por osmose inversa (FEDNA 70% PB e BRASIL) relativamente ao obtido por nano ou ultra filtração que apresentam menor conteúdo em minerais. Neste sentido, a resposta é similar para Na, Cl e K, conteúdos elevados que se explicam pela adição, no caso do sódio e do cloro, de sais anticoagulantes (principalmente citrato trisódico e tripolifosfato sódico) durante a coleta e processamento. Isto é devido ao sistema de osmose inversa que elimina sais e, portanto, concentra todos os solutos, enquanto que partes desses sais se perdem durante o processo de nano ou ultra filtração. Pelo contrário, também é importante destacar que o sistema de ultra filtração permite uma redução significativa do conteúdo mineral acumulado, o conteúdo em P total e P digestível é claramente superior para a FEDNA 80% PB e para o NRC apresentando valores de 1,20%, que se explica porque enquanto a ultra filtração elimina sais, o P fica ligado às frações de plasma atuando como estabilizador.

Descobertas recentes

1. Efeito de uma alimentação com plasma bovino seco por spray no rendimento e mortalidade dos leitões desmamados positivos a PRRSv.

O estudo foi realizado para avaliar o efeito da suplementação com plasma em leitões positivos a PRRSv durante o período de transição. Observou-se um maior peso corporal nos leitões suplementados com plasma seco por spray; o GMD e o consumo acumulados também foram superiores. Além disso, também se observou uma redução da taxa de mortalidade. Pode-se concluir que a suplementação com plasma seco por spray em leitões positivos a PRRSv durante a transição pode ter um efeito positivo no rendimento e reduzir as perdas de leitões.

2. Uso de plasma seco por spray como alternativa aos antibióticos na ração de leitões, modo de ação e biossegurança.

O plasma seco por spray pode representar uma alternativa efetiva aos antibióticos para leitões, particularmente nas primeiras semanas pós-desmame, com uma eficácia melhor ou equivalente no rendimento dos leitões em comparação aos antibióticos ou outros produtos antimicrobianos alternativos. A eficácia do SDP (spray dried plasma) na alimentação animal parece estar principalmente relacionada com uma melhoria da função da barreira da mucosa intestinal e da modulação da resposta imunitária da mucosa. Os estudos de biossegurança disponíveis dão evidências suficientes para sustentar que o uso comercial de SDPP (spray dried porcine plasma) é um produto seguro para os suínos.

3. Influência do plasma seco por spray nas dietas iniciais associado a um programa convencional de vacinação no rendimento do desmame ao abate.

A vacinação favoreceu uma resposta de anticorpos a longo prazo contra o PCV2 e uma moderada contra o Mycoplasma suis para animais da primeira fase de crescimento expostos a PCV2. O uso de SDPP na dieta inicial, juntamente com a vacinação, resultou no melhor efeito a longo prazo na sobrevivência até o abate e no peso da carcaça.

4. Efeito do plasma suíno seco por spray no rendimento, resposta imunitária, capacidade antioxidante total e morfologia intestinal de leitões.

O uso de SDPP na dieta aumentou o rendimento do crescimento durante a transição. Após 1 semana pós-desmame, os animais alimentados com SDPP tiveram um maior GMD, consumo e CA em comparação com os animais controle. No dia 28, os suínos alimentados com SDPP tinham maior peso e tenderam a ter um maior GMD e um maior consumo em comparação com os suínos controle. Além disso, o efeito positivo na morfologia intestinal pode ser explicado pelo aumento da proliferação de enterócitos.

5. O plasma animal seco por spray como alternativa aos antibióticos em leitões recém desmamados – Revisão.

O uso de plasma suíno seco por spray para a alimentação de leitões recém desmamados teve ótima eficiência, o que se explica, em parte, pela especificidade das suas IgG contra agentes patogênicos suínos. Estabeleceu-se que, após o desmame, o nível óptimo de inclusão pode ficar entre 4-8 %. A melhoria da eficiência alimentar pode ser explicada por um menor gasto de energia e de nutrientes para construir uma resposta imunitária frente aos desafios. Finalmente, as IgG e outras substâncias bioativas que contêm podem ajudar a reduzir a incidência da diarreia em leitões desmamados alimentados com plasma.

Referências


FEDNA: http://www.fundacionfedna.org/
NRC 1982. United States-Canadian Tables of Feed Composition: Nutritional Data for United States and Canadian Feeds, Third Revision.
Rostagno, H,S, 2017, Tabelas Brasileiras para aves e suínos, Composição de Alimentos e Requerimentos Nutricionais, 4° Ed

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