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O PIB per capita é um fator determinante no consumo de carne suína na América Latina?

1 comentários

O consumo de carne suína em vários países da região não responde da mesma forma ao nível de renda da população.

Consumo per capita

O consumo per capita de carne suína pode ser definido como a variável que permite medir e analisar as taxas de consumo de um país ou região em determinado período e cujo cálculo consiste em dividir o consumo aparente do território de interesse pelo número de sua população.

Nos últimos 13 anos, o consumo per capita da maioria dos países latino-americanos seguiu uma trajetória de crescimento, embora com valores heterogêneos por país, que atualmente oscilam entre 5 e 20 kg/hab. Precisamente, o ano de 2021 caracterizou-se por apresentar níveis expressivos de consumo na maioria dos países da região, que foram superiores a 10 kg/habitante.

Nesse sentido, temos que o México se posicionou como o maior consumidor com 19,4 kg/habitante. Em segundo lugar está o Chile com 18,7 kg/habitante e em terceiro lugar temos o Uruguai com 17,7 kg/habitante.

Consumo per capita estimado de carne de suíno por país em 2021

Fonte: USDA- Banco Mundial, Cálculos Departamento de Análise Econômica 333 América Latina, Colômbia: dados retirados de Porkcolombia. Valores em quilogramas por habitante por ano.
Fonte: USDA- Banco Mundial, Cálculos Departamento de Análise Econômica 333 América Latina, Colômbia: dados retirados de Porkcolombia. Valores em quilogramas por habitante por ano.

Ingresso per capita

A renda per capita ou também conhecida como PIB per capita, é um indicador econômico que mede a relação entre o nível de renda de um país e sua população. Historicamente, a América Latina caracteriza-se por apresentar uma grande disparidade de renda per capita. Ainda hoje, algumas nações dobram a renda de outras apesar de ser uma área relativamente pequena, como é o caso do Uruguai, que ao longo da última década maior renda per capita da região e cuja renda estimada para o ano de 2021 foi de cerca de US$ 16.000/habitante.

Estimado ingresso per capita em USD por país 2021

  Fonte: Banco Mundial. Valores em dólares a preços constantes de 2010 por habitante por ano.
  Fonte: Banco Mundial. Valores em dólares a preços constantes de 2010 por habitante por ano.

Correlação entre renda per capita e consumo per capita de carne suína

Recentemente, Brett Stuart, analista econômico da Global AgriTrends, apresentou a análise de um modelo muito semelhante ao apresentado a seguir, no qual se propunha avaliar a correlação existente entre o PIB global e o consumo mundial de carnes (Inclui: Bovinos, Suínos e Aves) , encontrando uma correlação de 0,9903 entre essas duas variáveis, indicando que dado um aumento de US$ 37 bilhões no PIB global na próxima década, seria gerado um consumo adicional de 78 milhões de toneladas de carne (das quais 23 milhões corresponderiam à carne suína), ou seja, entre 2020 e 2030 o consumo de carne cresceria em aproximadamente 37%. O exposto justifica ainda a necessidade de avaliar a relação dessas duas variáveis ​​especificamente para o setor de suínos na América Latina.

Para a análise, foram retiradas informações históricas sobre consumo de carne suína e renda per capita nos últimos 13 anos para os seguintes 15 países da América Latina: Costa Rica, Uruguai, Paraguai, Colômbia, El Salvador, Panamá, Honduras, Chile, México, Peru, Guatemala, Argentina, República Dominicana, Brasil e Equador.

Em seguida, por meio de um modelo de regressão matemática por país, buscou-se encontrar a relação entre consumo e PIB per capita, que neste caso seria a variável explicativa ou independente. O objetivo principal foi determinar se havia ou não relação causal entre as duas variáveis ​​do estudo. Da mesma forma, o modelo busca determinar qual será o impacto no consumo diante de uma mudança no PIB per capita.

O primeiro indicador avaliado no modelo de regressão para cada país foi o coeficiente de determinação ou R2, que reflete a qualidade de ajuste de um modelo à variável que se pretende explicar, neste caso, o consumo per capita. É importante indicar que o resultado do coeficiente de determinação varia entre 0 e 1, portanto, quanto mais próximo de 1 for o seu valor, maior será o ajuste do modelo à variável que estamos tentando explicar. Por outro lado, quanto mais próximo de zero, menos ajustado será o modelo e, portanto, menos confiável será (Tabela 1).

Tabela 1 Principais resultados do modelo de regressão

País Relação Bondade de Ajuste R2 Aumento 1 US$ Grama Adicional Incremento do PIB para aumentar 1 Kg de Consumo
Argentina Inversa 0.434 -2.3 -USD 432.57
Brasil Inversa 0.069 -0.4 -USD 2,799.36
Chile Inversa 0.663 -3.5 -USD 283.11
Colômbia Direta 0.768 5.1 USD 196.12
Costa Rica Direta 0.947 3.2 USD 313.74
Equador Direta 0.045 1.0 USD 1,013.75
El Salvador Direta 0.761 2.6 USD 387.27
Guatemala Direta 0.456 0.4 USD 2,404.49
Honduras Direta 0.682 5.7 USD 175.11
México Direta 0.650 3.0 USD 328.20
Panamá Direta 0.706 1.0 USD 1,009.97
Paraguai Direta 0.836 5.4 USD 185.67
Peru Direta 0.469 3.6 USD 277.89
República Dominicana Direta 0.229 0.5 USD 2,083.55
Uruguai Direta 0.837 2.5 USD 401.75

Levando em conta o exposto, verificou-se que a Costa Rica foi o país que apresentou a maior bondade de ajuste, com coeficiente de determinação de 0,947, da mesma forma, temos que Uruguai, Paraguai, Colômbia, El Salvador, Panamá, Honduras, Chile e México , apresentaram um R2 aceitável para explicar a relação entre consumo e PIB per capita, que foi superior a 0,6 em todos esses casos.

No entanto, os resultados para Peru, Guatemala, Argentina, República Dominicana, Brasil e Equador indicaram coeficientes de determinação inferiores a 0,6, razão pela qual foram descartados para a análise dos demais parâmetros, pois não há relação determinante entre as variáveis que estão tentando ser explicados.

Em seguida, avaliou-se a significância individual e a significância global de cada modelo ajustado, o que possibilitou identificar se existe uma relação linear entre as duas variáveis, consumo e renda per capita, constatando que todos aqueles países cujo coeficiente de determinação foi maior que 0,6, foram significativos tanto globalmente como individualmente.

Conclusões

A hipótese inicial que sugere que com o aumento do PIB per capita, o consumo de carne suína aumenta em 9 dos 15 países analisados: Costa Rica, Uruguai, Paraguai, Colômbia, El Salvador, Panamá, Honduras e México. As duas variáveis ​​do estudo foram evidenciadas, com exceção do Chile, cuja relação se mostrou inversa, pois, com o aumento da renda, o consumo diminui.

Por sua vez, Honduras, Paraguai e Colômbia foram os países mais sensíveis a aumentos de renda per capita, pois para cada dólar adicional de renda per capita, o consumo cresceria mais de 5 gramas. No caso da Costa Rica, México, El Salvador e Uruguai, o aumento do consumo seria entre 2 e 3,2 gramas para cada dólar a mais. Da mesma forma, o Panamá revelou-se o país menos sensível a aumentos de renda, com apenas 1 grama de aumento no consumo para cada dólar a mais.

O caso do Chile é particular, pois a relação entre renda per capita e consumo é inversa, ou seja, quando a renda aumenta, o consumo tende a cair, o que pode ser devido à volatilidade observada na série para este país.

Surpreendentemente, para o Brasil, que é líder em suinocultura na América Latina, o modelo indicou que não há relação confiável entre renda e consumo per capita, de modo que outras variáveis ​​teriam que ser avaliadas para encontrar aquelas que determinam a correlação e sensibilidade do nível de consumo. O mesmo se aplicaria aos demais países que ficaram de fora da análise: Peru, Guatemala, Argentina, República Dominicana e Equador.

Por fim, à luz dos resultados obtidos, é possível inferir que ao longo dos últimos anos a carne suína deixou de ser considerada um bem de luxo, cujo consumo cresceu paralelamente ao aumento do poder aquisitivo da população. Por outro lado, é possível concluir que a carne suína se tornou uma parte importante e essencial do consumo habitual das famílias e que isso seria motivado mais por outros fatores como as preferências e necessidades diárias do consumidor do que pelo seu nível de renda.

Comentários ao artigo

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23-Mar-2022 alvimar-jallesExcelente artigo Carlos! E é especial ver nossa hipótese dessa "descorrelação" (texto de 15/10/2021) sendo provada por análise estatística.
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