O colostro desempenha um papel crucial nos primeiros anos de vida dos leitões, fornecendo a energia, os nutrientes e o suporte imunitário necessários à sua sobrevivência, crescimento e saúde. No entanto, a produção e a qualidade do colostro variam muito de matriz para matriz. Ao contrário da produção de leite, a produção de colostro é influenciada principalmente por fatores específicos da fêmea, e não pelo tamanho da leitegada ou pela intensidade da amamentação dos leitões. A ingestão adequada de colostro é essencial, pois influencia diretamente a sobrevivência, a saúde e o crescimento dos leitões, tanto imediatamente após o nascimento como ao longo do seu desenvolvimento inicial. Este artigo explora as complexidades da produção de colostro, concentrando-se em como podemos melhorar a sua qualidade e consistência para apoiar o bem-estar e o desempenho dos leitões.
Colostro, leite de transição e leite maduro: fases e diferenças
Colostro:

A maior parte ocorre antes do parto e dura 24 horas após o início do trabalho de parto. Caracteriza-se por possuir alto teor de proteínas impulsionado principalmente pelo seu teor de imunoglobulinas.
A imunoglobulina mais encontrada é a IgG, que pode passar pelas células epiteliais mamárias, uma vez que as junções estreitas não são fortes nesse momento (Figura 1). Nem o seu volume nem o seu peso estão ligados ao tamanho da leitegada ou ao efeito da lactação; pelo contrário, está ligado ao indivíduo, o que pode tornar variável o seu conteúdo entre matrizes (Quensel 2011).

Leite de transição:
Começa a aparecer entre 24 e 34 horas após o parto. Após 34 horas, o leite transitório é secretado e é oficialmente denominado início da lactação ou segunda fase da lactogênese. O teor de proteína é significativamente diferente daquele das primeiras horas de colostro e, com o passar do tempo, diferencia-se ainda mais, como pode ser visto na Figura 2 (Theil et al., 2014).
Leite maduro:
Difere do colostro por ter menor teor de proteínas, mais gordura e energia, o que auxilia no crescimento e desenvolvimento dos leitões. A sua produção é estimulada pelo efeito da lactação da leitegada.

Ingestão de colostro: existe um mínimo recomendado?
Um leitão médio de 1,4 kg ao nascer necessita de aproximadamente 250 g de colostro, ou 180 g por quilograma de peso (Quensel 2012), para reduzir o risco de mortalidade, fornecer imunidade passiva essencial e promover ligeiro ganho de peso. Quesnel et al. (2012) sugerem que pelo menos um terço das matrizes não produz colostro suficiente para satisfazer as necessidades da sua leitegada, sublinhando a necessidade crítica de abordar a insuficiência de colostro para melhorar a sobrevivência e a saúde dos leitões.
Produção e qualidade do colostro
Como vários autores relataram, a quantidade de colostro não depende do tamanho da leitegada, mas sim de cada matriz. Portanto, com a utilização generalizada de fêmeas hiperprolíficas, é desejável ter um colostro mais concentrado em termos de conteúdo de imunoglobulinas. O colostro da matriz contém predominantemente IgG.
Quando evolui para leite maduro, a principal imunoglobulina é a IgA, conforme Tabela 1 (Theil et al., 2014). A imunoglobulina A tem um papel crucial na proteção do trato gastrointestinal e na prevenção da diarreia durante o período neonatal e durante a lactação. Portanto, qualquer estratégia que possa ajudar a aumentar a IgG no colostro e ao mesmo tempo aumentar a IgA no leite maduro será desejável.
Tabela 1: Conteúdo de imunoglobulinas no colostro e no leite maduro da matriz.
Colostro | Leite maduro | |
---|---|---|
IgG (total) (mg/ml) | 61,8 | 1,6 |
IgA (mg/ml) | 11,3 | 4,1 |
IgM (mg/ml) | 3,8 | 1,5 |
Theil et al., (2014) modificado após Butler e Kehrli (2005)

Uma prática muito utilizada para aumentar a qualidade do colostro é vacinar primíparas e fêmeas adultas 3-4 semanas antes do parto, o que leva a um aumento de imunoglobulinas e a uma proteção específica contra certas doenças presentes na granja.
Outra opção é analisar alguns aditivos que podem ser utilizados para aumentar a qualidade do colostro. Quesnel e Farmer (2019) resumiram diferentes aditivos nutricionais que podem potencialmente impactar o colostro, vários dos quais contêm beta-glucanos como estimuladores imunológicos.
Os beta-glucanos podem potencializar a resposta vacinal, o que ajudará a aumentar a quantidade de imunoglobulinas no sangue e, consequentemente, no colostro, ajudando assim as matrizes que não produzem colostro suficiente. Ter um suplemento que possa ajudar a aumentar a quantidade de imunoglobulinas no sangue antes do nascimento, que podem passar pela glândula mamária durante a colostrogênese, parece ser uma boa área de oportunidade para aumentar a imunidade passiva sem esforço.
De Carvalho et al., (2023) conduziram um ensaio para investigar isso e suplementaram com beta-glucanos a partir do 85º dia de gestação e durante a lactação. Observaram aumento de 24,9% na produção de colostro (p<0,05), o que levou a um ganho de peso significativamente maior 18 horas após o nascimento, 34 g, o que representou um aumento de 50% em relação ao grupo controle (p<0,05). A quantidade não foi o único parâmetro afetado pelo tratamento. O conteúdo de imunoglobulinas no colostro aumentou significativamente em 16% no conteúdo de IgG e IgM, enquanto observaram um aumento numérico no conteúdo de IgA (p-valor=0,069). Outro reflexo do aumento da qualidade do colostro foi a quantidade de imunoglobulinas no soro dos leitões, que foi significativamente maior, com aumentos de 51,25% de IgG, 120,19% de IgA e 144,78% de IgM, efetivamente acrescentando mais da metade ao conteúdo de IgG nos leitões.
Conclusões
Melhorar a qualidade do colostro é essencial não só para aumentar o desempenho, mas também para continuarmos na nossa busca pela redução de antibióticos, tendo animais mais saudáveis e criados de forma sustentável. Os beta-glucanos são excelentes compostos bioativos que podem nos ajudar a melhorar a imunidade passiva de uma forma prática e econômica.