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O que nos ensina o mercado de petróleo na pandemia da Covid-19?

Oferta versus procura. Desde sempre ouvimos falar que são essas duas palavras mágicas a determinar os preços das mercadorias. Trata-se na verdade dos fundamentos mais básicos de funcionamento dos mercados em uma economia capitalista.

Sempre procuramos observar e entender o mercado de suínos em Minas Gerais sobre esta mesma ótica, lembrando-se que ele é totalmente integrado ao do Brasil e também sofre influência do que acontece no resto do Mundo. Os preços são cíclicos e com a retração inicial de consumo e as expectativas negativas era previsível que houvesse uma queda acentuada que, diga-se de passagem, aconteceu com praticamente todos os produtos na economia em geral.

Como agentes de formação de preços na Associação Mineira de Suinocultores recusamos a acreditar em alterações artificiais do mercado de carnes em nosso país que é de “concorrência perfeita”: há muitos vendedores (oferta) e muitos compradores (procura). Em oposição ao mercado de “concorrência perfeita” temos o de “concorrência imperfeita”. Nele, há certo desequilíbrio entre a oferta e a procura fazendo com que uma das partes exerça domínio e influencie o preço daquilo que está sendo comercializado.

Evolução das cotações do Brasil comparado com outros mercados importantes.
Evolução das cotações do Brasil comparado com outros mercados importantes.

Um exemplo clássico de concorrência imperfeita é o cartel formado pela OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que comanda 44% da produção mundial e 81% das reservas conhecidas, controlando o volume de produção e consegue assim direcionar o preço de seu interesse no mercado. Ou pelo menos conseguia até então...parece que não mais...

Agora, no mês de março de 2020, o que vimos foi uma combinação de retração da demanda por causa da pandemia Covid19, consequente crescimento dos estoques e da oferta, indefinição sobre expectativas de consumo futuro e efeito manada nos contratos de negociação do produto.

É uma oportunidade única de ver todos esses mecanismos em ação de modo tão didático em um produto que passamos uma vida a vê-lo operar sobre o modelo de concorrência imperfeita e direcionada.

O que isso nos trás de aprendizado?

Se é difícil manipular preços para uma instituição da dimensão que se tornou a OPEP, o que dirá para uma associação estadual de frigoríficos.

Mercado de Minas Gerais pode ser forte no Brasil mas não é uma ilha: está tudo interligado. O preço por aqui é consequência dessa dinâmica e não causa dela.

Não há indivíduo em qualquer elo da cadeia que afete ou controle o mercado. Ele é dinâmico, soberano e impessoal!

Mas porque parece que tem alguém interferindo? A queda foi intensa, praticamente 40% em pouco mais de 30 dias. Embora tenha sido muito, foi compatível com o famoso “efeito manada” decorrente das expectativas negativas ligadas à pandemia. O inverso também foi verdadeiro: quase 28% de recuperação em metade do tempo da queda.

Se compararmos com as trajetórias do Canadá e dos EUA vamos encontrar semelhanças, afinal, o evento causador disso tudo foi mundial!

E de onde veem todas essas reações dos agentes de mercado? Nas quedas tendemos a enxergar que há grande distorções em curso mas, nas altas tendemos a achar que nada é mais justo. Na verdade, são as mesmas forças atuando apenas em sentidos opostos.

O que acontece é que quando o mercado não nos é favorável nosso sistema de defesa mental instintivo, controlado pela parte emocional do cérebro, entra em cena e procura um culpado. Ele é o monitor do perigo, o juiz do bem-estar, o defensor da sobrevivência.

Mas isso não é bom. A indignação não é boa conselheira de negócios. A correta avaliação do cenário é que irá permitir as melhores escolhas.

É hora de colocar o cérebro racional para agir! Ele que é o encarregado do planejamento, da antecipação, da percepção de tempo e de contexto e por fim da inibição de ações inadequadas.

Todo o acompanhamento de dados, em vários níveis, que é feito para a preparação das Bolsas de Minas Gerais já nos ensinou que o mercado é soberano, responde à oferta e à procura que são precedidas e influenciadas pelas expectativas. Nada mais!

Como disse Douglas Adans, escritor inglês: “Quando se culpa os outros, renuncia-se à capacidade de mudar.”

É muito importante que cada um entenda os fundamentos reais em ação no mercado de suínos, que são os mesmos em todos os outros mercados, porque são eles que vão permitir as melhores escolhas individuais.

 

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