O ano de 2024 foi um período marcante para a suinocultura brasileira, especialmente no segundo semestre, que se destacou como um dos melhores momentos dos últimos 30 anos. Este texto tem como objetivo comparar os resultados recentes com a série histórica de dados, contribuindo para uma compreensão mais ampla do setor no longo prazo.
Para isso, utilizamos duas fontes: os preços dos cereais da SEAB-PR (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná) e a média mensal de preços do suíno, fornecida pela ASEMG (Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais), abrangendo o período desde 1995, logo após a implementação do Plano Real. Esses dados fornecem uma perspectiva abrangente sobre a dinâmica do setor ao longo de três décadas.

A essência da suinocultura é a troca de carne por grãos, sendo os preços do suíno vivo, do milho e do farelo de soja fatores cruciais para a rentabilidade. A análise dos preços, ajustados pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, revelou padrões interessantes de flutuação ao longo dos anos.
Mais importante que os valores das relações em si são suas flutuações no tempo. Elas que nos dão os melhores comparativos com o semestre recente. Esse é um artigo que pode ser lido basicamente olhando os gráficos, embora a gente também vá fazer breve descrição deles.
O milho ao produtor mensal atualizado pela inflação (gráfico 1) mostra claramente 2 picos expressivos. Em 2002 e em 2021 acima de R$ 95,0 por saca. Vários picos intermediários em torno de R$ 75,0. E vales abaixo de R$ 45,0. O ano de 2024 foi bem na média.

No farelo de soja, os preços ultrapassaram R$ 3.000,00 por tonelada FOB em anos como 2002, 2004, 2012, 2020/21 e 2022/23, enquanto os menores valores, abaixo de R$ 2.000,00, ocorreram em períodos como 1998, 2005/07, 2010/11 e 2017. Assim como o milho, os preços em 2024 permaneceram na média do período analisado.

O suíno vivo CIF frigorífico deflacionado mensal, conhecido por sua volatilidade, ultrapassou os R$ 10,00 em vários momentos, inclusive em 2024. Os períodos de menor valor, abaixo de R$ 6,00, foram registrados em 2005/06, 2012, 2017 e 2022.

Para avaliar as relações de troca, foi aplicada uma média móvel semestral, proporcionando uma análise mais consistente ao suavizar as oscilações de curto prazo. Fizemos com o milho, o farelo de soja e como um “mix” de 75% de milho com 25% de farelo de soja, simulando a ração média do suíno.
Relação de troca com o milho. Picos próximos de 11 kg de milho por cada kg do suíno em 1997,2001, 2005, 2006,2008, 2014, 2017. Vales abaixo de 7 kg: 2000, 2003, 2011, 2012, 2016, 2018 e 2021/22. Mais uma vez o 2024 esteve na faixa mediana.

Relação de troca com o farelo de soja. Picos próximos de 5 kg de farelo por cada kg do suíno em 1999, 2005, 2008, 2010/11. Os vales abaixo de 3 kg em 2002/3, 2009, 2012, 2016, 2018, 2021/22. O 2024 foi dos melhores períodos depois de 2012 já que houve uma mudança de patamares observado no gráfico 5.


Mas, para fazermos a classificação dos melhores e piores anos vamos usar o mix 75%milho + 25% farelo de soja, retirando o 1995 por influência dos resíduos do plano Real.

O melhor ainda é o histórico ano de 2005, seguido por 2010, 2014, 2006, 2008, 2001, 2017, 2020 para depois chegarmos em 2024. O momento mais difícil em intensidade foi 2022, 2021, o histórico 2003, seguidos por 2018, 2016 e 2012.
Para fecharmos o raciocínio, podemos dizer que, por essas séries de dados e por uma métrica de média móvel semestral, o momento em 2024 é apenas o oitavo em um total de 30 anos. Mas ele foi temporalmente muito próximo dos 2 piores resultados pelo mesmo critério: 2022 e 2021 ainda mais intensos que o 2003.
Se trocarmos o critério de intensidade para duração, certamente a crise de 2021/2022 é a mais significativa.
Essa reflexão precisa ser adicionada da realidade de cada empreendimento suinícola nesses 30 anos. As “sensações” também são individuais devido à cada momento específico do ponto de vista de escala do negócio, tecnologia, crescimento de granja, outros investimentos, endividamento ou qualquer variável de conotação individual.
Outro ponto chave é que essas análises são calculadas com valores lineares mês a mês e, na realidade, várias granjas fazem compras estratégicas de insumos, vendas com intensidades diferentes entre meses melhores ou piores de mercado e outros mecanismos de proteção dos lucros.
Essas ressalvas apenas visam facilitar o entendimento do mais importante que são as relações e proporções entre as variáveis descritas ao longo do tempo.
Chegando à conclusão, o segundo semestre de 2024 foi um período que certamente está em torno dos 25% melhores momentos da suinocultura brasileira em 3 décadas juntamente com outros períodos tão bons quanto além claro dos momentos difíceis.
Uma das boas escolhas em cenários como o atual é a preparação para futuros desafios fortalecendo sua resiliência como empresa, afinal, o capitalismo, feito de ciclos, oportunidades e riscos.