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Como a imunidade materna afeta a resposta imunitária gerada pela vacinação precoce dos leitões?

Dependendo dos níveis de imunidade materna, pode ocorrer potencial interferência com a vacina, comprometendo a soroconversão e a eficácia da vacina.

As espécies Suidae são caracterizadas por uma placenta epiteliocorial de seis camadas que, a menos que seja lesionada durante a gestação, evita a difusão de moléculas grandes, como imunoglobulinas, da matriz para os leitões. Por outro lado, os leitões podem produzir seus próprios anticorpos contra antígenos no último terço da gestação e possuem componentes extracelulares e células imunológicas imaturas funcionais capazes de responder a infecções. Portanto, os neonatos não são totalmente imunologicamente competentes e considera-se que a resposta imune protetora adaptativa completa dos leitões requer cerca de quatro semanas para ser estabelecida. Consequentemente, a proteção dos leitões recém-nascidos contra agentes infecciosos depende da aquisição de imunidade materna a partir do colostro e do leite.

A quantidade de imunidade materna transferida das fêmeas para os seus descendentes é determinada por:

  • nível de imunidade da matriz no momento do parto
  • momento da ingestão do colostro após o nascimento
  • volume de colostro ingerido

Em todos os casos, aumentar a imunidade das matrizes a agentes patogênicos específicos através da exposição e/ou vacinação é uma ferramenta de gestão útil para mitigar os efeitos clínicos nos leitões e retardar a infecção até que o seu sistema imunitário esteja totalmente preparado para responder. Contudo, a duração da imunidade materna é bastante variável entre os patógenos. Em condições de campo, geralmente é quantificado levando-se em consideração apenas uma parte do sistema imunológico, a resposta humoral: os anticorpos maternos. A duração dos anticorpos maternos refere-se à idade do leitão em que os seus níveis de anticorpos maternos caem abaixo do limite de detecção do teste. É importante considerar que a duração dos anticorpos maternos depende da sua concentração inicial e do limiar do teste sorológico utilizado.

Se o nível de imunidade materna diminuir antes que o sistema imunológico do leitão tenha reagido contra um determinado patógeno, existe uma janela de tempo desprotegida em que o leitão é altamente suscetível à infecção. Portanto, o cenário desejável é vacinar os leitões antes da infecção natural, embora isto implique que a vacinação seja realizada na presença de imunidade materna para a maioria dos patógenos.

Dependendo dos níveis dessa imunidade materna, pode ocorrer potencial interferência com a vacina, comprometendo a soroconversão e a eficácia da vacina. A imunidade materna em leitões pode advir de infecção natural, vacinação ou ambas. Neste último caso, e especialmente se as matrizes forem vacinadas no final da gestação, a quantidade de anticorpos maternos quantificáveis ​​transferidos pode ser muito elevada, aumentando o risco de interferência. No entanto, vacinar matrizes e leitões no momento certo pode dar os melhores resultados em termos de proteção e produtividade da granja.

A interferência na eficácia da vacina pode envolver vários mecanismos, incluindo:

  • neutralização do antígeno imunizante
  • mascaramento de epítopos de células B
  • e/ou diminuição da síntese de Ig neonatal através da inibição da maturação e desenvolvimento de células B.

É importante ressaltar que a interferência na eficácia da vacina é considerada principalmente com vacinas administradas por via intramuscular (e provavelmente por via intradérmica) que geram respostas imunes sistêmicas e, em última análise, mucosas. No entanto, o grau de interferência potencial na eficácia da vacina devido a anticorpos maternos com vacinas administradas através de superfícies mucosas permanece desconhecido.

Na presença de níveis elevados de títulos sistêmicos de anticorpos no momento da vacinação intramuscular, o efeito interferente mais comum é a redução ou ausência de soroconversão. Contudo, a chave é saber se esta interferência na soroconversão se traduz numa menor eficácia da vacina. O método mais utilizado para quantificar a eficácia da vacinação em termos de parâmetros produtivos é o cálculo do ganho médio diário (GMD).

Atualmente, os leitões são vacinados contra vários patógenos desde cedo. Os principais agentes infecciosos para os quais foram desenvolvidas vacinas para leitões estão detalhados na Tabela 1, que inclui dados atuais sobre a potencial interferência na eficácia da vacina. É importante ressaltar que embora essa interferência seja geralmente caracterizada pela comparação de grupos vacinados experimentalmente com diferentes títulos de anticorpos, ela também pode ser estudada pela comparação de grupos vacinados de diferentes idades.

Tabela 1. Interferência dos anticorpos maternos com a eficácia da vacina em termos de parâmetros sorológicos e produtivos para vários patógenos respiratórios e sistêmicos suínos.

Patógeno Idade da vacinação (em semanas)

Interferência na soroconversão de anticorpos (teste usado) (1)

Interferência nos parâmetros produtivos (parâmetros avaliados) (2)

Vírus da influenza suína 3 Sim (teste HI) NE
Diferentes grupos de idade Sim (teste HI) NE
16 Sim (teste HI, ELISA) NE
Vírus da síndrome reprodutiva e respiratória suína 3 Sim (ELISA, VNT) NE
3 & 4 Sim (ELISA) NE
Circovírus suíno 2 4 Sim (ELISA) Não (GMD)
3 NE Não (GMD)
3 Sim (IPMA, VNT) NE
3 Sim (ELISA) NE
3 Sim (IPMA) NE
4 Sim (IPMA) Não (GMD)
Diferentes grupos de idade Sim (ELISA) Sim (GMD)
4 Sim (ELISA) NE
3 Sim ELISA) Somente quando os valores S/P na vacinação são extremadamente altos (GMD)
2 NE Não (GMD, mortalidade)
M. hyopneumoniae 1 & 4 Sim (ELISA) Não (GMD, mortalidade)
2 Sim (ELISA) NE
1 & 4 Sim (NC) NE
1 Não (ELISA) NE
1 Não (ELISA) NE
1 Sim (ELISA) NE
1 Sim (ELISA) NE
A. pleuropneumoniae 6 Sim (ELISA) NE
6 Sim (ELISA) NE

(1) “Sim” quando a idade e/ou anticorpos maternos dos animais estudados estão associados a uma resposta reduzida/atrasada de anticorpos ativos pós-vacinação; “Não” quando a idade e/ou anticorpos maternos dos animais estudados não são atribuídos a uma resposta reduzida/retardada de anticorpos ativos pós-vacinais; “NE” quando os anticorpos séricos não foram avaliados. Teste HI: teste de inibição da hemaglutinação; VNT: teste de neutralização do vírus; ELISA: ensaio imunoenzimático; IPMA: Ensaio em monocamada de imunoperoxidase; NC: Não citado.

(2) NE: Não avaliado; GMD: ganho médio diário.

Vários estudos sobre agentes patogénicos incluídos na Tabela 1 demonstraram que os anticorpos maternos podem interferir com a soroconversão, particularmente quando os títulos de anticorpos sistémicos eram elevados no momento da vacinação dos leitões. Portanto, em alguns casos pode ser interessante esperar pela diminuição dos anticorpos maternos e vacinar os leitões a partir das 3 – 4 semanas de idade, ou mesmo mais tarde. Pelo contrário, quando também foi avaliada a eficácia da vacina, a interferência foi demonstrada em termos de soroconversão gerada pela imunização, mas raramente se traduziu em piores parâmetros produtivos. No entanto, deve-se notar que é pouco provável que sejam publicados estudos sobre a falta de eficácia comercial das vacinas. Além disso, seria também interessante investigar se a existência de imunidade mediada por células antígeno-específicas de origem materna no leitão recém-nascido pode influenciar o desenvolvimento da imunidade induzida pelas vacinas, particularmente nos casos em que o leitão é vacinado muito cedo.

Em geral, de acordo com a literatura existente, a vacinação precoce dos leitões pode ser considerada uma opção muito importante para os proteger em termos de redução dos sinais clínicos e melhoria dos parâmetros de desempenho, apesar do potencial problema de interferência sorológica. Porém, nenhuma interferência conclusiva em relação aos parâmetros de desempenho foi demonstrada com base na literatura publicada.

Extraído do artigo: Impact of maternally derived immunity on immune responses elicited by piglet early vaccination against the most common pathogens involved in porcine respiratory disease complex. Martínez-Boixaderas N, Garza-Moreno L, Sibila M, Segalés J.Gerente de Saúde Suína. 16 de março de 2022;8(1):11.

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