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Ficha Técnica: Bagaço de girassol

Ficha técnica com o valor nutricional (comparação de tabelas) e estudos mais recentes sobre o bagaço de girassol.

Introdução

O girassol (Helianthus annuus L.) é uma planta herbácea de cultivo anual da família das asteráceas que apresenta uma inflorescência composta de cerca 15-30 cm de diâmetro e produz umas sementes conhecidas como pipas de girassol. As pipas são na realidade um fruto com casca de aproximadamente 20 mm de comprimento e 15 mm de largura que contém no seu interior uma semente oleaginosa. Existem dois tipos de girassol: os de alta aptidão oleaginosa (40% de óleo) e baixa aptidão oleaginosa (<30% óelo) mas, pelo seu interesse para a indústria extractiva, >90% da produção de semente é do tipo oleoso já que produzem óleo de alto valor nutricional. Como co-produto da extracção de óleo, são obtidos os begaços de girassol, uma boa fonte de proteína para a alimentação animal.

A quantidade de bagaço de girassol é muito variável e depende basicamente do tipo e processo de extracção utilizado. Há que ter em conta que a casca representa >25% do fruto, o que dificulta tanto o rendimento de extracção como a qualidade final dos bagaços que, em muitos casos, é feito uma descasca antes da extracção. As sementes são trituradas inteiras e depois por métodos físicos separada cerca de 10-12% da fracção fibrosa correspondente à casca. A fracção de semente parcialmente descascada é submetida a pressão por “expeller” (prensa de torno) resultando num bagaço de extracção com um conteúdo de até 15% de óleo. Mas muitas vezes o processo continua com uma extracção com solventes melhorando o rendimento de extracção de óleo, o que resulta num bagaço final com <2% de conteúdo em gordura e maior concentração de proteína. A extracção com solventes não invalida o uso do bagaço de girassol para alimentação de suíno, a excepção da produção biológica onde a UE proíbe o seu uso.

Como o resto das fontes de proteína de origem vegetal, o valor para a alimentação de suíno depende da sua qualidade e conteúdo em proteína, que determinam as diferentes categorias existentes no mercado. Indirectamente, o conteúdo em fibra e gordura determina também a qualidade do produto e condicionam o aspecto e cor do ingrediente, de forma que se pode apreciar a simple vista uma gradação de cinzento até preto em função da quantidade de casca que o bagaço contenha. É um ingrediente com menor conteúdo em proteína e mais fibroso que os bagaços de soja mas apresenta um bom perfil de aminoácidos para suíno (ainda que pobre em lisina, o conteúdo em aminoácidos sulfurados, triptófano e arginina é interessante) e, apesar do seu conteúdo em fibra, apresenta boa palatabilidade. Embora seja recomendado essencialmente para porcos de engorde e porcas em gestação e lactação, bagaços de muito boa qualidade também poderiam ser considerados para leitões em transição.

Estudo comparativo dos valores nutricionais

Os sistemas utilizados na comparação são FEDNA (Espanha), CVB (Holanda), INRA (França), NRC (EUA) e do Brasil.

FEDNA1* CVB1 INRA1 NRC1 BRASIL2
MS (%) 89,4-90,4 91,3-90,1 88,7-89,7 87,9-90,4 89,6
Valor energético (kcal/kg)
Proteína bruta (%) 28,0-36,0 18,3-36,8 27,7-34,3 30,7-39,9 33,4
Extrato etéreo (%) 1,3-1,1 10,3-0,9 2,0-1,7 3,1-2,9 2,0
Fibra bruta (%) 26,0-18,2 37,2-17,6 25,5-21,2 23,4-18,4 24,7
Amido (%) 1,8 0,7-4,07 0,0 2,0-2,1 4,4
Açúcares (%) 4,1 2,6-6,3 5,2-5,7 - -
ED crescimento 2355-2710 - 2140-2440 2010-2840 2159
EM crescimento 2165-2460 - 1950-2220 1801-2569 1951
EL crescimento 1165-1400 -1405 1090-1260 937-1482 1003
EL matrizes 1295-1490 -1405 1240-1400 937-1482 1234
Valor proteico
Digestibilidade proteína bruta (%) 75-79 80 70-74 83-81 80
Composição aminoácidos (%)
Lys 3,57 3,50 3,60-3,50 3,68-3,64 3,41
Met 2,26 2,20 2,30 2,41-1,96 2,10
Met + Cys 4,01 3,90 4,00 4,14-3,16 3,77
Thr 3,60 3,70 3,60 3,81-3,44 3,47
Trp 1,30 1,20 1,20 1,27-1,20 1,29
Ile 4,05 4,10 4,10 4,20-3,86 3,74
Val 4,90 4,90 4,90 4,92-4,42 4,58
Arg 8,10 8,10 8,10-8,20 8,24-8,33 7,99
Digestibilidade ileal standartizada (%)
Lys 79-73 79 80-82 80-78 79,2
Met 86-79 88 92 90-89 90,4
Met + Cys 83-77 82,5 88 85-85,5 85,4
Thr 79-70 80 82-81 80-77 79,7
Trp 81-76 83 85-84 84-80 83,5
Ile 82-76 83 86-85 82-79 83,3
Val 81-74 81 84-83 79 81,1
Arg 90-85 92 95-93 93 92,2
Minerais (%)
Ca 0,40 0,29-0,36 0,39-0,41 0,38-0,39 0,35
P 0,90-1,15 0,55-1,16 1,01-1,08 0,95-1,16 0,98
Pfítico 0,79-0,95 0,44-0,93 0,86-0,92 0,80-1,03 0,66
Pdisponível 0,11-0,20 - - - 0,32
Pdigestível 0,14-0,18 0,15-0,17 0,19-0,21 0,29-0,24 0,25
Na 0,03 0,02 0,02-0,01 0,02-0,04 0,02
Cl 0,10-0,14 0,10 0,14 0,10-0,04 0,15
K 1,35-1,60 1,29-1,56 1,51-1,62 1,07-1,27 1,42
Mg 0,54-0,58 0,38-0,57 0,51-0,55 0,68-0,75 0,65

1Para os sistemas de avaliação FEDNA, CVB, INRA e NRC é apresentado o intervalo de valores (mínimo e máximo) procedentes da integração das diferentes classificações que estes sistemas de avaliação consideram essencialmente em função do conteúdo em proteína, que difere essencialmente devido ao tipo de processamento e sistema de extração da gordura e a quantidade residual de gordura e fibra no bagaço, sendo CVB e FEDNA quem mais categorias de produto apresenta associadas a estas variáveis.

2Para o sistema de avaliação BRASIL apenas é apresentado o dado médio já que este sistema considera uma só qualidade como valor médio para este concentrado de proteína.

(*) Os intervalos de EE para os bagaços de extração física ou expeller oscilam entre 9,1% e 8,5% para concentrações de proteína de 31% e 34%, respectivamente (valores intermédios ao intervalo apresentado na tabela). Resta destacar, tal como está refletido no texto, que os maiores valores de energia respondem também ao conteúdo de gordura residual nos bagaços (FEDNA)

Nos bagaços de girassol, como para o resto dos concentrados de proteína vegetal provenientes da extração, com exceção dos produtos de soja, a gama de qualidades considerada pela maioria dos sistemas de avaliação é muito ampla e depende do sistema e do processamento de extração e sua capacidade de extrair o óleo. Além disso, no caso do girassol, a variabilidade é aumentada dependendo se o descasque é considerado ou não e a eficiência para remover a cascas antes da extração.

Com exceção do BRASIL, que considera apenas uma única qualidade média, todos os outros sistemas apresentam várias categorias. CVB e FEDNA fraccionam com base no método de extração: físico ou físico + solventes, com várias qualidades dentro de cada categoria. Pelo contrário, o INRA e o NRC classificam de acordo com o teor de fibra ou, o que quer que seja, conforme se considera ou não descascado, embora o NRC se destaque claramente pelo seu baixo teor de gordura residual, pois considera a extracção com solventes como processamento único.

Para esta revisão, foram escolhidos os valores máximos e mínimos, coincidentes com os extremos utilizados ao nível comercial contemplados nas tabelas dos sistemas de avaliação.

Ao contrário de outros concentrados de proteína vegetal de processos de extração, o teor de proteína é diretamente condicionado pelo nível de fibra (e depende basicamente do grau de eficiência da fase de descasque, que muitas vezes não é capaz de eliminar mais do que 8-10% da casca ), de modo que o conteúdo final de fibra entre os produtos é altamente variável (CV ~ 21%). Esta casca remanescente condiciona a qualidade do bagaço de girassol, atuando como fator de diluição e determinando o teor final de proteína nas farinhas e bagaços comercializados (R2 = -0,90 físico e -0,82 físico + solventes). No entanto, apenas para extração física ou expeller (mas não físico + solventes) o teor de gordura residual atua como um fator de diluição e é o que determina (após o teor de fibra) a concentração final de proteína nos bagaços comercializados deste sistema de extração (R2 = - 0,88)

Com exceção do INRA e FEDNA, que apresentam coeficiente de digestibilidade de proteínas inferior à média (-5% a -10%) para os bagaços com maior teor de fibra, o restante dos sistemas FEDNA, CVB, INRA e NRC apresentam coeficientes de digestibilidade muito semelhante entre eles (média = 80%; (CV ~ 1,2%), as grandes diferenças dentro de cada sistema, principalmente para FEDNA e CVB, estão associadas ao sistema de extração física.

O NRC dá um valor inferior para a energia líquida (EL), (entre -450 em relação à média e -1015 kcal / kg do que as avaliações mais extremas), que é basicamente explicado pela presença de casca. O valor EL para o resto dos sistemas é muito semelhante e claramente dependente do sistema de extração e a sua eficiência, indicando uma relação positiva clara entre o teor de gordura e o valor EL (R2> 0,65). Deve-se notar que a diferença entre aqueles bagaços de sistemas de extração muito eficientes com níveis de gordura residual <2% apresentam claramente um diferencial de quase -575kcal EL / kg em relação ao resto (-31%). Em termos gerais, a estimativa do valor EL é determinada basicamente pelo teor de casca (fibra dependendo do grau de descasque) juntamente com o teor de gordura residual na farinha dependendo do sistema de extração e a sua eficiência.

O conteúdo de amido, considerado nulo para INRA ou quase desprezível para FEDNA e NRC (~ 2%), é variável e aumentando até> 4,5% para CVB e BRASIL, resultando numa grande variabilidade global (CV> 40%), embora com um impacto desprezível no conteúdo de energia, bem como no conteúdo em açúcares.

Em relação aos aminoácidos totais, destaca-se a deficiência de lisina, mas há um bom conteúdo de aminoácidos sulfurados totais e arginina com relação à proteína, mas independente do valor total, pode-se observar que não há grandes diferenças entre os diferentes sistemas (CV <2%) independente do conteúdo de proteína dos bagaços (considerando uma faixa de PB entre ~ 20 e ~ 40%). O coeficiente de digestibilidade dos aminoácidos é mais variável entre os sistemas de extração do que entre os sistemas de titulação para o mesmo sistema de extração, embora a média seja semelhante para todos os AAs, a variabilidade é maior para extração física + solventes do que para extração. Extrusão física ou expeller (basicamente FEDNA e CVB) com CV de 2,7% e 1,3%, respectivamente.

Descobertas recentes

1. Energia líquida do bagaço de girassol com alto conteúdo proteico administrada a suínos em crescimento e efeito do fósforo dietético sobre os valores medidos de EL

Este estudo foi realizado para determinar os valores energéticos do bagaço de girassol rico em proteínas (HP-SFM). A EL do HP-SFM calculada foi 2062 kcal / kg e 2151 kcal / kg respectivamente, dependendo do valor basal deficiente em P ou adequado em P. Embora não tenham sido observadas diferenças nos valores de energia, a quantidade de P na dieta basal pode afectar o balanço energético ao modificar o uso de N, portanto, uma dieta basal contendo uma quantidade adequada de P é preferível quando se usa o método da diferença para o cálculo da EL num ingrediente alimentar como o bagaço de girassol com alto teor de PB.

2. Conteúdo em energia líquida da sêmea de arroz, bagaço de gérmen de milho, ração com glúten de milho, farinha de amendoím e bagaço de girassol em porcos em crescimento.

Esta experiência foi realizada para determinar o conteúdo de energía de energia (EL) de diferentes ingredientes da ração para suínos em crescimento usando calorimetria indireta. Os ingredientes estudados foram: sêmea de arroz integral (FFRB), gluten feed de milho (CGM), bagaço com gérmen de milho (CGF), farinha de amendoim extraída com solvente (PNM) e bagaço de girassol descascado (SFM). Os valores EN observados foram maiores para FFRB e PNM e menores para milho e coprodutos SFM.

3. Efeitos do nivel de fibra dietética e do peso corporal dos suínos sobre a digestibilidade dos nutrientes e a energia disponível na dieta rica em fibra baseada na sêmea de trigo ou bagaço de girassol

Os objetivos deste estudo foram investigar o efeito do peso corporal sobre a energia disponível em dietas ricas em fibras contendo dois níveis de FDN e avaliar o efeito do tipo de fibra e do nível de FDN sobre a digestibilidade do AA usando dietas com alto ou baixo teor de proteína em combinação com sêmea de trigo ou bagaço de girassol. A adição de bagaço de girassol aumentou a digestibilidade ileal padronizada de Met. Em conclusão, as dietas ricas em fibras apresentaram diferentes valores nutricionais nas diferentes fases de peso dos suínos. A digestibilidade do AA depende principalmente da composição química das dietas.

4. A fermentação de bagaço de colza, bagaço de girassol e grãos na combinação com sêmea de trigo aumenta a solubilidade das proteínas e fósforo.

O presente trabalho estudou a solubilização da proteína, N e o P quando foram fermentadas proporções crescentes de sêmea de trigo com bagaço de colza (RSM), bagaço de girassol (SFM), grãos (FB) ou uma combinação destas (RSM / SFM / FB). As principais descobertas foram que a fermentação de RSM, SFM, FB e RSM / SFM / FB com ou sem sêmea de trigo revela um potencial para aumentar a digestibilidade das proteínas e o P e portanto, reduz a excreção de N e P dos porcos nos ingredientes da ração avaliados.

5. Digestibilidade de aminoácidos das proteínas vegetais dos ingredientes de rações para suínos em crescimento.

O presente trabalho foi realizado para determinar a digestibilidade de N e AA de diferentes fontes de proteínas (concentrado de proteína de batata, concentrado de proteína de soja, isolado de proteína de soja, bagaço de linhaça, de girassol, de semente de algodão, de canola e de camelina) proporcionadas a porcos em crescimento. A digestibilidade ileal aparente (DIA) e a digestibilidade ileal standartizada (DIE) do N para o concentrado de batata, o concentrado de soja e o isolado de soja foram semelhantes e maiores que as do bagaço de linhaça. A DIA e DIE de N e todos os AA foram maiores para o bagaço de girassol e bagaço de canola teve DIA e DIE semelhantes de N, Met, Thr, Leu e Val. A DIA e DIE de todos os AA essenciais, exceto Met e Trp, foram mais baixos para o bagaço de girassol. O bagaço de semente de algodão teve uma DIA e uma DIE mais baixas para Lys, Ile, Leu, Met, Thr e Val em comparação com as outras fontes de proteínas. Portanto, concluiu-se que a digestibilidade de N e AA varia muito entre os bagaços de sementes oleaginosas.

Referências

FEDNA: http://www.fundacionfedna.org/
FND. CVB Feed Table 2016. http://www.cvbdiervoeding.nl
INRA. Sauvant D, Perez, J, y Tran G, 2004, Tables de composition et de valeur nutritive des matières premières destinées aux animaux d'élevage.
NRC 1982. United States-Canadian Tables of Feed Composition: Nutritional Data for United States and Canadian Feeds, Third Revision.
Rostagno, H,S, 2017, Tablas Brasileñas para aves y cerdos, Composición de Alimentos y Requerimientos Nutricionales, 4° Ed.

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