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Deflação é o nome do jogo!

A concorrência é responsável por reduzir os preços em todos os níveis da cadeia produtiva, seja no produtor, atacado ou varejo.

É usual que conversemos da comparação entre preços nominais versus preços deflacionados em nossos bate-papos e apresentações. Os gráficos de preços comparados em prazos longos, corrigidos pelo adequado índice de inflação são uma ferramenta poderosa para o entendimento dos cenários de preços.

A família de indexadores de IGP (Índice Geral de Preços) da Fundação Getúlio Vargas, calculados desde 1947, é a usualmente mais comum para nosso setor porque ele tem 60% de preços de atacado (IPA), 30% de preços do varejo (IPC) e 10% de preços da construção civil (INCC), sendo, portanto, mais capaz de capturar as variações do câmbio, do produtor e do atacado, que não é exatamente a mesma inflação dos consumidores.

Dentro do grupo, utilizamos o IGP-DI por ter o calendário do primeiro ao último dia de cada mês, o que coincide com as séries de preços dos institutos de pesquisa agropecuária. Isso traz mais precisão aos resultados.

Vamos então, observar a variação de alguns preços de 2019 até 2023. O ano de 2019 foi anterior aos 2 eventos poderosos que aconteceram na economia mundial e mais especificamente também na cadeia global de carnes, inclusive classificados como “cisnes negros”: a epidemia de Peste Suína Africana na Ásia e a Pandemia global de Covid19.

Nesse artigo todas as análises são da série de preços da SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, calculadas desde 1995 com algumas coletas já feitas desde a década de 1980.

Vamos começar pelos gráficos das carnes ao produtor. São dois. O primeiro de preços das 3 principais carnes em valores nominais (gráfico 1). O preço do kg vivo do bovino, derivado diretamente da arroba, estava na casa de R$ 4,8, o frango vivo em R$ 3,0 e o suíno vivo em R$ 3,5. Atualmente o boi está em torno de R$ 7,8, frango R$ 4,4 e suíno R$ 6,0. Nominalmente eles crescem...mas só nominalmente.

Gráfico 1: Preços mensais do quilo vivo nominais aos produtores no Paraná. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 1: Preços mensais do quilo vivo nominais aos produtores no Paraná. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

Quando observamos o gráfico deflacionado percebemos que ele traz os valores de 2019 a valores presentes, atualizados, e a observação da flutuação tem efeitos totalmente diferentes. Está claro no gráfico 2 a seguir que os valores nominais de 2019, atualizados, são muito semelhantes aos de hoje.

Gráfico 2: Preços mensais do quilo vivo aos produtores no Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 2: Preços mensais do quilo vivo aos produtores no Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

E por quê? Porque deflacionar ou atualizar os preços pela inflação é exatamente isso. O que se faz é dividir cada preço ao longo do tempo pelo índice de inflação registrado na época de sua ocorrência e multiplicar pelo último índice mais próximo dos dias atuais. Se você observar a dinâmica do gráfico 3 vai perceber exatamente o descrito acima.

Gráfico 3: Índices de inflação brasileiros. Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 3: Índices de inflação brasileiros. Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: Alvimar Jalles.

E isso é uma regra? Uma lei de economia? Não, de modo algum!

O inverso da deflação é a inflação. E se estivéssemos tendo escassez de oferta de carnes, estaríamos aqui falando justamente da inflação ou alta dos preços. O que temos aqui é que, como a oferta de carnes não diminuiu, apesar da crise cavalar da suinocultura, o frango também bate recordes de produção e o boi está no auge da fase de ciclo pecuário de abates de vacas, garantindo folgada oferta na sua categoria, esse excesso gera a deflação.

Do mesmo modo que os ventos favoráveis à escassez de animais por excesso de demanda de 2020/2021 impulsionaram os preços, o impulso desse mesmo biênio gerou o excesso de oferta que derrubou os preços a partir de 2022.

E os cereais? Como estão se comportando? Da mesma maneira praticamente.

Observamos no gráfico 4 com os preços do milho ao produtor no Paraná uma deflação quase perfeita voltando aos valores vigentes em 2019.

Gráfico 4: Preços mensais da saca de milho aos produtores no Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 4: Preços mensais da saca de milho aos produtores no Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

E o farelo de soja, mostrando que essa deflação não é obrigatória. Esse produto, por suas razões específicas, diferente dos demais analisados está com valores deflacionados em torno de 28% acima dos valores vigentes no início de 2019.

Gráfico 5: Preços mensais da tonelada de farelo de soja no atacado do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 5: Preços mensais da tonelada de farelo de soja no atacado do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

Aproveitando a reflexão em matéria de economia de mercado vamos ver o que aconteceu com as carnes no atacado e no varejo.

No atacado vemos uma deflação semelhante, mas sem a mesma intensidade de variação dos preços das carnes ao produtor e dos cereais.

Gráfico 6: Preços mensais de carnes no atacado do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 6: Preços mensais de carnes no atacado do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

E no varejo um comportamento já fora dos padrões dos outros elos da cadeia. Nos cortes suínos uma manutenção da tendência de queda de longo prazo, no frango resfriado flutuações dentro de um eixo de estabilidade e tentativas de aumento nos cortes de bovino.

Gráfico 7: Preços mensais de carnes suínas e de frango no varejo do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 7: Preços mensais de carnes suínas e de frango no varejo do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 8: Preços mensais de carnes bovinas no varejo do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.
Gráfico 8: Preços mensais de carnes bovinas no varejo do Paraná deflacionados pelo IGP-DI. Fonte: SEAB – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Elaboração: Alvimar Jalles.

Alguém apressadamente poderá vir com o argumento de que o varejo não abaixa os preços como se isso fosse alguma obrigação o que é absolutamente inválido.

Uma porque é falso. O varejo flutua seus preços, para cima e para baixo, de acordo com sua oferta e sua demanda e não pelo seu preço de compra de matéria-prima.

E outra porque ele não tem essa obrigação.

É o mesmo que fazemos com o preço do suíno vivo. Nunca vimos alguém dar descontos no preço de venda por ter comprado milho ou farelo de soja mais em conta. A regra que vale para o nosso negócio vale para o negócio dos outros.

Na verdade, a produção, o processamento e atacado seguido pelo varejo são negócios diferentes dentro da mesma cadeia produtiva. Cada um com suas características, desafios, ônus e bônus. Não são extensões automáticas uns dos outros.

Vide a tabela 1 onde colocamos os preços mínimos e máximos do período analisado, o delta também deflacionado e a variação percentual entre eles. Cada negócio é único.

Tabela 1: Preços mínimos e máximos atualizados pelo IGP-DI entre janeiro de 2019 e julho de 2023.

Pico Piso Delta Percentual
Suíno vivo R$ 8,43 R$ 5,36 R$ 3,07 - 57,2%
Boi vivo R$ 10,72 R$ 6,99 R$ 3,73 - 53,3%
Frango vivo R$ 6,00 R$ 4,30 R$ 1,69 - 39,3%
Milho produtor R$ 95,36 R$ 38,73 R$ 56,63 - 146,2%
Farelo de soja atacado R$ 3.609,02 R$ 1.879,04 R$ 1,729,97 - 92,1%
Traseiro bovino atacado R$ 26,66 R$ 17,69 R$ 8,98 - 50,7%
Dianteiro bovino atacado R$ 19,33 R$ 11,90 R$ 7,43 - 62,5%
Carcaça suína atacado R$ 16,49 R$ 8,48 R$ 8,01 - 94,5%
Frango resfriado atacado R$ 9,06 R$ 6,16 R$ 2,91 - 47,2%
Lombo suíno varejo R$ 31,16 R$ 21,09 R$ 10,07 - 47,8%
Pernil suíno com osso varejo R$ 21,00 R$ 12,15 R$ 8,85 - 72,8%
Frango resfriado varejo R$ 14,83 R$ 9,37 R$ 5,46 - 58,3%
Acém bovino varejo R$ 31,16 R$ 24,82 R$ 6,34 - 25,6%
Filé bovino varejo R$ 80,16 R$ 60,17 R$ 19,98 - 33,2%

A concorrência é responsável por reduzir os preços em todos os níveis da cadeia produtiva, seja no produtor, atacado ou varejo.

Isso pode ocorrer devido ao excesso de oferta de mercadorias, baixa demanda ou qualquer outra regra válida do mercado. Não é originada por conspirações fictícias.

Quando sobra produto, a queda dos preços é automática porque ninguém quer ficar com mercadoria perecível estocada.

É assim que a deflação das carnes surge.

Felizmente, essa queda nos preços também afetou os nossos custos de produção, trazendo alívio para a suinocultura, que tem enfrentado sequência de prejuízos.

Já que aumentar os preços tem sido um grande desafio considerando que, no Brasil, a cadeia de carnes vem produzindo sempre mais que fazia no passado.

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