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Da planta à granja: o impacto da fabricação de ração

Sempre se fala sobre a composição dos custos na produção de suínos, em grande parte determinada pela ração, no entanto, pouco se fala sobre o impacto que a fábrica de ração pode ter no desempenho e lucratividade das granjas.

Figura 1: Relação direta que a fábrica de ração tem com a granja, consequentemente com a eficiência e rentabilidade final do negócio
Figura 1: Relação direta que a fábrica de ração tem com a granja, consequentemente com a eficiência e rentabilidade final do negócio

O preparo de rações não consiste apenas em misturar nutrientes essenciais, mas também gera responsabilidade com a saúde, segurança, bem-estar dos animais e das pessoas, somado ao compromisso com a lucratividade do produtor, ingredientes obrigatórios na produção dos alimentos.

Alguns dos processos que comumente podem afetar positiva ou negativamente a eficiência produtiva, o consumo de ração, a saúde animal, mas sobretudo a rentabilidade e economia da granja são os seguintes:

Moagem

O fato de moer os ingredientes favorece a mistura correta, reduz a probabilidade de segregação de partículas nas rações de farinha e melhora a qualidade do pellet. Nos animais, otimiza o aproveitamento dos nutrientes, devido à maior superfície de contato com as enzimas digestivas.

O tamanho das partículas pode ser medido através do diâmetro geométrico médio (DMG) e seu desvio padrão, que tem um valor ótimo de acordo com a categoria do animal. Muito baixo DGM (partículas finas) aumenta os casos de úlceras gástricas, reduz o consumo de ração e consequentemente a eficiência da produção, em casos extremos pode até levar à morte dos animais.

Passando pelos comedouros, é comum encontrar alimentos com partículas extremamente grosseiras e irregulares ou encontrar pedaços de cereais nas fezes, mostrando que os animais não conseguiram digerir os alimentos de forma satisfatória, afetando diretamente a eficiência produtiva da granja. Como exemplo, as Figuras 2 e 3 demonstram a diferença entre uma curva de retenção de partículas ideal para rações de suínos em crescimento versus uma curva real de uma granja comercial.

Figura 2. Curva teórica esperada - % de partículas retidas

Figura 2: Curva de retenção de partículas de ração ideal para suínos em crescimento.
Figura 2: Curva de retenção de partículas de ração ideal para suínos em crescimento.

Figura 3. Curva real analisada - Partículas retidas, %

Figura 3: Curva de retenção real de partículas alimentares de suínos em crescimento de uma granja comercial. Neste alimento há maior % de partículas retidas nas peneiras de maior calibre, evidenciando que a ração contém partículas mais grosseiras do que as esperadas para animais desta categoria.
Figura 3: Curva de retenção real de partículas alimentares de suínos em crescimento de uma granja comercial. Neste alimento há maior % de partículas retidas nas peneiras de maior calibre, evidenciando que a ração contém partículas mais grosseiras do que as esperadas para animais desta categoria.

Tabela 1: Tabela de recomendações para diâmetro geométrico médio (DGM) em micrômetros de acordo com a categoria animal.

Categoria Animal Diâmetro geométrico médio (DGM)
Leitão 400 μm - 500 μm
Crescimento 500 μm - 650 μm
Matrizes reprodutoras 500 μm - 600 μm

Fonte: Neta, 2015; Zanotto, 1999; Penz, 1998.

Dosagem:

A dosagem correta dos ingredientes é essencial para atender as necessidades nutricionais dos animais. A precisão é o atributo mais importante do processo, sendo fundamental conhecer e respeitar os limites de desvios aceitáveis.

Geralmente, nas fábricas de rações, a lista de ingredientes disponíveis é reduzida e as principais causas de intoxicação, como minerais-traço, são incluídas em pré-misturas ou núcleos comerciais. Dessa forma, o principal risco está relacionado à falta de dosagem de algum ingrediente.

Um exemplo bastante comum é a presença de animais com problemas de desenvolvimento ósseo ou fraturas, causados ​​por falha no dispensador ou esquecimento do operador de adicionar a pré-mistura/núcleo mineral ao misturador. Assim como erros na dosagem de aminoácidos e medicamentos podem reduzir a eficiência produtiva ou comprometer a saúde dos animais.

Contaminação cruzada:

Existem muitos pontos críticos que podem levar à contaminação cruzada, como transporte interno, silos, moegas, moinhos, misturadores, peletizadores, utensílios, pessoas, caminhões, pragas, etc.

Um exemplo clássico pode ser a contaminação de rações contendo ionóforos com antibióticos de pleuromutilina como a tiamulina. Os efeitos sobre os animais podem ser devastadores, com alta mortalidade.

Outro ponto importante é a presença de pragas como pombos e ratos, que podem contaminar os alimentos com altas cargas de Salmonella, causando sérios problemas entéricos, principalmente em suínos de primeira idade.

Tabela 2: Principais achados e causas de contaminação cruzada em fábricas de ração.

Tipo de contaminação cruzada Exemplos práticos Principais causas
Físicas

Presença de corpos estranhos nos alimentos (plástico, madeira, etc.)

Falta de ímãs distribuídos ao longo da linha;

Falta de grades de contenção estrategicamente localizadas ao longo da linha.

Presença de grãos de milho no farelo de soja ou qualquer contaminação entre as matérias-primas

Falhas mecânicas na linha;

Erros humanos na montagem de rotas de distribuição.

Químicas

Presença de resíduos de medicamentos acima do permitido em alimentos livres de medicamentos;

Presença de monensina em alimentos que incluem tiamulina em sua formulação

Presença de resíduos no misturador;

Presença de resíduos em silos;

Presença de resíduos no transporte;

Presença de resíduos em caminhões de transporte;

Procedimento de limpeza de linhas e caminhões de transporte é insuficiente;

Falhas mecânicas na linha;

Erros no planejamento da produção.

Presença de alimentos com perfil nutricional errôneo quanto à sua categoria;

Presença de medicamentos em alimentos isentos de medicamentos.

Erro ao descarregar os alimentos no silo correspondente;

Falhas mecânicas na linha;

Falta ou falha na rastreabilidade dos alimentos.

Microbiológicas

Contagem microbiológica acima do permitido;

Casos clínicos de salmonelose em leitões

Presença de animais domésticos na fábrica;

Presença de pragas na fábrica;

Poluição do ar e/ou da água;

Contaminação por funcionários.

Armazenamento:

A forma como as matérias-primas ou alimentos finais são armazenados, bem como a ordem e limpeza dos armazéns, podem ser determinantes para a qualidade final dos produtos.

Óleos vegetais ou gorduras animais são comumente utilizados na formulação de alimentos, devido ao seu alto teor energético. Geralmente seu armazenamento é incorreto, com longos períodos de exposição a altas temperaturas ou luz solar, em recipientes inadequados, sujos e sem o uso habitual de antioxidantes, causando peroxidação de ácidos graxos e perda de atividade de vitaminas lipossolúveis. Resultando em menor palatabilidade, rejeição de consumo e baixa eficiência.

Figura 4: Recomendações para o armazenamento correto de óleos vegetais e gorduras animais

Recomendações para o armazenamento correto de óleos vegetais e gorduras animais.
Recomendações para o armazenamento correto de óleos vegetais e gorduras animais.

Tabela 3. Principais antioxidantes sintéticos e naturais utilizados para a conservação de matérias-primas de gorduras e óleos

Sintéticos
Butil-hidroxi-anisol (BHA)
Butil-hidroxi-tolueno (BHT)
Terc-butil-hidroquinona (TBHQ)
Propil galato (PG)
Naturais
Tocoferoles
Ácidos fenólicos
Acido ascórbico

* Verificar a legislação vigente em seu país

As micotoxinas também podem estar diretamente relacionadas a deficiências de armazenamento, como falta de rotação, alta presença de grãos danificados, insetos, falta de aeração e altas temperaturas. Causando diversos problemas desde o baixo consumo ou rejeição de alimentos, até sinais clínicos e óbitos em casos extremos.

Tabela 4: Micotoxinas que representam o maior risco para a saúde animal e humana.

Micotoxinas Fungos produtores Matérias primas
Aflatoxina Aspergilus flavus, A. parasiticus. Milho, amendoim, oleaginosas, outros cereais.
Fumonisinas Fusarium verticilioides, F proliferatum, Alternaria alternata f. sp. Lucopersici. Milho e outros cereais.
Zearalenona

Fusarium graminearum, F. culmorum, F.esquiseti.

Milho, cevada, trigo, sorgo, arroz, centeio, soja

Deoxinivalenol

Fusarium graminearum, F.culmorum. Milho, cevada, centeio, aveia, trigo.
Toxina T-2 Fusarium sporotrichioides, Myrothecium, Phomopsis, etc. Milho, trigo e outros cereais. .
Ocratoxina Aspergillus ochraceous, A. carbonarius, Penicilium sp., Fusarium sp. Milho, cevada, café, arroz, feijões e trigo.

Fonte: adaptação Embrapa, 2015.

Esses são apenas alguns dos pontos de impacto que a fabricação de ração pode gerar na granja, é fundamental conhecer a dinâmica de cada um para estabelecer controles eficazes e assim evitar impactos negativos. Através de uma relação de cooperação e confiança, onde o objetivo comum é maximizar a rentabilidade dos produtores.

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