Ao longo de 2022 presenciamos a escalada dos preços internacionais do milho e da soja, gerada por diversos eventos conjunturais como instabilidade macroeconômica, conflito Rússia-Ucrânia, perdas nas safras sul-americanas, entre tantos outros fatores, que resultaram em aumento substancial dos custos de produção para a suinocultura globalmente, afetando muito as finanças das granjas e reduzindo consideravelmente as margens de lucro dos produtores. Mesmo os Estados Unidos e o Brasil, que têm vantagem comparativa como maiores produtores e exportadores mundiais de grãos e oleaginosas, também sentiram o impacto do aumento geral dos custos de produção.
Agora, como a maioria dos países latino-americanos depende da importação de matérias-primas para o desenvolvimento de sua suinocultura, devemos levar em conta que a participação de nossa região nas importações mundiais é de 22% para o milho, 17% para farinha de soja e 8% para soja, portanto, ao calcular o consumo interno total destes por país, temos que, com exceção do Uruguai, Argentina, Brasil, Paraguai e Bolívia, a maioria das produções locais não são representativas e em pouquíssimos casos participam com mais de 50% dentro da estrutura de seu consumo aparente (Gráfico 1).
Uma das grandes fragilidades da dependência da importação de milho e soja na América Latina é ter que superar a volatilidade característica de seus preços internacionais, já que estes sempre são influenciados por múltiplas externalidades como fatores climáticos, ambiente geopolítico, previsões de safra, entre muitos outros , que a longo prazo se traduzem num impacto direto nos custos de produção, seja negativo como em 2022, seja positivo como o que vimos até agora este ano com a queda dos valores dos contratos futuros (gráfico 2).
E é que, ao contrário do que ocorreu no ano passado, a atual trajetória dos preços internacionais do milho e da soja descreve uma tendência de queda, que seria amparada pela previsão de maiores safras mundiais tanto do grão quanto da oleaginosa para a nova safra 2023/24, bem como na recuperação da produção argentina, após a queda histórica de sua produção registrada no ciclo 2022/23.
Sem dúvida, esta é uma notícia muito boa para o nosso setor, pois, graças a essas projeções de oferta abundante, a tendência de queda consegue continuar, já que a pressão sobre os preços diminui diante da demanda crescente, que por sua vez representa algum alívio para os custos de produção e uma melhoria nas margens de lucro dos produtores. Além disso, observa-se que as taxas de inflação já começam a diminuir na maioria das economias latino-americanas, o que também favorece muito a dinâmica da produção de suínos na região.
No entanto, apesar de existirem atualmente perspectivas bastante animadoras para o mercado de commodities, devemos estar atentos a diversas situações que podem causar um retrocesso e empurrar os preços para cima. Por um lado, temos a ameaça do fenômeno El Niño, que pode afetar gravemente as diferentes fases das lavouras, levar a uma menor produção e, portanto, a uma queda na oferta. Da mesma forma, a preocupação com a renovação do contrato do Black Sea Grain Broker pode continuar causando volatilidade nos preços, principalmente no milho, pois foi observado que, quando a prorrogação está prestes a expirar, os preços tendem a se desestabilizar, pois o nervosismo é gerado no mercado; e no caso hipotético de não renovação do acordo, as necessidades de grãos europeus teriam que ser atendidas em outros mercados como o americano, o que reduziria a disponibilidade de milho para nossa região e poderia motivar um aumento de preços.
Por fim, devemos lembrar que, via de regra, a volatilidade é inerente a todas as commodities, ainda mais às agrícolas, e que a evolução dos preços está sujeita a mudanças por qualquer externalidade ou situação de mercado. Nesse sentido, é altamente recomendável adotar a cultura de hedge por meio de instrumentos financeiros como opções de compra massiva de matérias-primas, mesmo que nos deparemos com preços favoráveis como os atuais, pois estes podem ajudar a mitigar substancialmente os riscos diante das oscilações, mudanças bruscas nos preços de grãos e oleaginosas diante de qualquer eventualidade desfavorável, sendo este um investimento que, de certa forma, nos protegerá da incerteza de possíveis perdas futuras.