A leitura de um artigo recente em pig333.com ("Effects of pen location on thermoregulation and growth performance of grow-finish pigs") me levou a pensar sobre a importância dos fatores a serem considerados ao projetar e conduzir estudos de nutrição de suínos. Este estudo específico (publicado em Translational Animal Science 2019; 3 (4): 1375-1382) foi projetado especificamente para ilustrar os impactos da variabilidade do microclima em um galpão na termorregulação e produção.
A realização de estudos de nutrição suína é geralmente um exercício demorado e caro, seja conduzido em pesquisas dedicadas e instalações comerciais ou um teste na granja. Portanto, não é desejável que os resultados obtidos com esses estudos possam ser impactados desfavoravelmente ou interpretados pelo desenho experimental que foi usado. Ler o artigo acima mencionado me lembrou de uma instalação experimental onde uma vez conduzimos estudos sobre nutrição de leitões em creche e encontramos um problema relacionado. Não se quer estudar, por exemplo, os efeitos do aumento dos níveis de energia da dieta sobre o desempenho pós-desmame, quando uma parte dessa energia está sendo redirecionada para a manutenção do animal, porque os suínos estão abaixo de sua temperatura crítica ideal.
A instalação em questão podia ser aquecida e resfriada por meio de entradas de ar (acionadas por ventilador), mas elas ficavam em apenas um lado do prédio. O galpão não era ventilado em túnel. Foi notado, (apesar da temperatura ambiente flutuar minimamente ao longo de um período de 24 horas em todo o galpão), que os suínos localizados em baias perto das correntes de ar, eram frequentemente mais peludos (sinal de frio) e às vezes mostravam mais diarreia (outro sinal de estar com frio). O preocupante era que os resultados de estudos nutricionais cuidadosamente planejados poderiam estar sendo comprometidos simplesmente em virtude da localização dessas baias. Como consequência, e além de randomizar os tratamentos dietéticos para os suínos com base no peso corporal, leitegada de origem, sexo e assim por diante, os tratamentos também foram ''bloqueados'' de acordo com a localização das baias ao longo daquele lado da parede.
O que é "bloquear"?
Em seu editorial "Diretrizes para projeto experimental e análises estatísticas em estudos animais submetidos para publicação no Asian-Australasian Journal of Animal Sciences", Seo e colaboradores (2018) referiram-se ao bloqueio como a prática em que as unidades experimentais (ou seja, um indivíduo suíno ou uma baia de suínos, dependendo das circunstâncias) são colocados em grupos de unidades semelhantes com base em um ou mais fatores que são conhecidos ou esperados que afetem as respostas a serem medidas e testadas. Em estudos de creche, e conforme mencionado acima, características como peso corporal, leitegada de origem e sexo são comumente usadas para bloqueio; tal desenho experimental é denominado desenho de bloco completo aleatório (ou RCBD). Ao formar grupos mais homogêneos de unidades experimentais, o bloqueio reduz o erro experimental de modo que os tratamentos experimentais impostos (por exemplo, estes podem ser uma comparação de diferentes níveis de um aditivo alimentar em relação a um tratamento de controle positivo ou diferentes razões de aminoácidos SID) fornecem a maior chance de detectar diferenças estatísticas entre esses tratamentos. A este respeito, e somente se apropriado, a localização das baias em um edifício também deve ser usada como fator de bloqueio no projeto experimental.
Voltando ao estudo que mencionei no início deste artigo: quais foram os impactos da localização das baias naquele galpão? Os pesquisadores descobriram que a localização das baias teve um impacto significativo na temperatura corporal que, por sua vez, afetou negativamente a proporção ganho-alimentação, apesar das semelhanças na temperatura ambiente da baia e na umidade relativa entre todas as baias (Tabela 1).
Tabela 1. Influência da localização da baia (U) e do período de registro (R) nos parâmetros de crescimento em suíno de engorda no final do verão (Kpodo et al., 2019).
P1 | P2 | P3 | Valor P | ||||||
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CP | CI | CP | CI | CP | CI | U | R | UxR | |
Consumo diário de ração, kg | 2,12 | 2,11 | 2,21 | 2,17 | 2,50 | 2,45 | 0,71 | <0,01 | 0,96 |
Ganho diário, kg | 0,68 | 0,69 | 0,68 | 0,74 | 0,80 | 0,81 | 0,28 | <0,01 | 0,78 |
Eficiência (G:P), kg:kg | 0,32 | 0,33 | 0,32 | 0,35 | 0,32 | 0,33 | 0,02 | 0,40 | 0,18 |
CP: baias periféricas, localizadas 0,70 ± 0,29 m de cada lado do ventilador mais próximo.
CI: baias internas, localizadas na linha de visão direta entre os ventiladores e as entradas de ar.
Conclusão final: a realização de estudos de nutrição suína requer tempo, esforço e dinheiro; portanto, certifique-se de que o desenho experimental considera todos os fatores possíveis que podem influenciar os resultados experimentais dos tratamentos testados. Se você tiver dúvidas sobre o tipo de desenho a ser usado, consulte primeiro alguém que tenha experiência com os princípios de experimentação animal. Normalmente, esse investimento inicial compensa no longo prazo.
* Referências completas estão disponíveis mediante solicitação.