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Conselhos para a detecção do cio

Na primeira parte desta série de artigos abordamos o tema de como realizar uma correta estimulação para a entrada em cio. Neste artigo continuamos a conversar com o especialista em Reprodução e Inseminação Artificial Suína, Javier Gil Pascual e vamos focar na detecção do cio.

O macho

É muito importante trabalhar bem com o macho. É habitual ver em granjas médias ou grandes o uso do mesmo macho durante 50-60 minutos ou mais, passando na gestação pelo lote das porcas desmamadas, pelas possíveis repetições e, inclusive, pelas futuras reprodutoras.

Deve-se ter em conta que o macho tem um limite: o seu nível de detecção de cios mantém-se aceitável durante 15-20 minutos, mas depois decai. O mesmo se passa sobre a sua capacidade de estimulação das porcas. Após esse período, o seu efeito estimulante nas porcas decai. Por isso é importante usar diferentes machos.

Deve-se destacar um aspecto que poucas vezes se tem em conta. A porca mais difícil de detectar o cio é a porca que faz retorno ao cio ou todas as que estão fora de um protocolo previsível. Para o entender melhor, podemos usar um exemplo bastante gráfico: um grupo de porcas desmamadas, ou as nulíparas que estão num lote com um cio previamente diagnosticado, geram um nível hormonal feromônico no ambiente. É como se estivessem "numa festa". Isto faz com que expressem facilmente o cio e que a detecção nestes grupos seja relativamente fácil. Pelo contrario, uma porca vazia que repete o cio no meio de outras porcas que estão gestantes, é como se estivesse num "enterro". Isso torna-a muito mais difícil de diagnosticar.

Muitas vezes chegamos a estas zonas de possíveis repetições depois de já ter trabalhado durante muito tempo com as porcas desmamadas e passa-se a toda velocidade e com o macho já cansado. A consequência disto é um mau diagnóstico dos cios das porcas que fazem retornos. Por isso, por vezes, vemos granjas com baixo número de repetições cíclicas (18-24 dias) mas um elevado número de repetições de duplo ciclo (36-42 dias). Outro caso similar é o que gosto de definir como falsas acíclicas: porcas às quais não fomos capazes de detectar cio aos 21 dias, depois são diagnosticadas como negativas no ultrassom e que, depois de uma relocalização ou movimentação, entram em cio 3-4 dias mais tarde. Oficialmente classificam-se como acíclicas, mas não o são realmente.

Como resumo, a detecção do cio deveria seguir estes passos:

  • Começar com o melhor macho pela zona das possíveis repetições. Desta maneira detectamos cios com o macho fresco na zona de maior dificuldade.
  • Depois, se só se tem um macho, deve-se dirigir para as zonas das porcas desmamadas, pois ainda que o macho esteja mais cansado, estas são mais fáceis de detectar o cio.
  • Claro que, se tem mais de um macho, depois da detecção de cio na zona de possíveis repetições, deverá trocar-se de macho e usar um fresco para as desmamadas.

Como deve agir o pessoal durante a detecção de cio?

O seu comportamento deve parecer-se, o máximo possível, ao comportamento de um macho. Deve-se recordar que um macho, perante uma porca em cio, começa por se aproximar, "mostrando-lhe o seu odor", cheirando-a, grunhindo, mas depois dá-lhe golpes nos flancos, levanta-a por trás, etc. até a monta, devendo a porca aguentar os 250-300 kg do macho.

É importante ter isto claro, de forma a fugir de dois tipos de detecção de cio que acontecem com frequência nas granjas e que são incorretos: a detecção de cio excessivamente suave onde praticamente só se acariciam as porcas e o extremo oposto, onde um contato demasiado agressivo ou de supetão e sem aviso prévio que a única coisa que faz é assustar as porcas e impossibilitar que mostrem o reflexo de imobilização.

Portanto, é necessário aproximarmo-nos da porca com suavidade, "avisá-la" de que estamos vendo se ela está em cio. Mas depois será necessário pressioná-la com alguma intensidade e, inclusive, metermo-nos em cima dela para confirmar esse reflexo de imobilização.

É essencial detectar o cio com o macho à frente das porcas. A suspeita por parte do trabalhador deve ser ativa, tocando, pressionando as porcas, mas sem assustá-las.
É essencial detectar o cio com o macho à frente das porcas. A suspeita por parte do trabalhador deve ser ativa, tocando, pressionando as porcas, mas sem assustá-las.

Temos que considerar que há sempre um grande número de porcas que vão mostrar o seu cio ainda que o manejo não seja o ideal e que o trabalho bem feito, o trabalho "fino", ajuda-nos com essas porcas que apresentam cios menos evidentes ou mais difíceis. Isto é o que faz a diferença e que nos permite atingir os melhores resultados.

As nulíparas

Como já comentámos na estimulação, o primeiro cio detectado nas futuras reprodutoras deve ser com contato direto com os machos na baia. Assim as nulíparas entram mais cedo em cio, minimizando a quantidade de nulíparas sem cio do que quando estão alojadas em gaiolas.

Nestes casos, o papel do produtor não se pode limitar a ficar fora da baia observando, deve estar dentro assegurando que cada uma das marrãs entra em contato com o macho ou machos de detecção de cio, assegurando que se produz o reflexo de imobilização e impedindo, ao mesmo tempo, que se produzam interações muito agressivas que possam causar dano às marrãs.

Machos. Foto: Carles Casanovas
Machos. Foto: Carles Casanovas

Existe um horário ótimo para a detecção de cios?

Obviamente a porca deve ter comido antes da detecção de cio. No mínimo deve-se deixar passar 45-50 minutos após a refeição, para que a porca esteja tranquila.

Não obstante, para mim, o importante não é se ocorre às 8h ou às 10h da manhã. O fundamental é que haja uma rotina de trabalho. A detecção de cios deve ser realizada sempre à mesma hora. Do mesmo modo, é fundamental que haja pouca variação nas pessoas que se encarregam deste trabalho já que cada pessoa tem uma sensibilidade diferente na detecção do cio e se vamos variando de responsável, prejudicaremos a fertilidade. Claro que há férias e fins-de-semana que obrigam a variações de pessoal, mas dentro do possível a variação deve ser mínima.

Trabalhar com machos descansados e ter um manejo adequado por parte dos tratadores é indispensável para detectar o cio adequadamente.

No próximo artigo falaremos das medidas necessárias para realizar corretamente a inseminação.

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