Este desejo é um grande desafio e, na nossa perspectiva, uma das principais dificuldades para o concretizar é que as empresas familiares tendem a funcionar de acordo com o funcionamento da família.
Isto afeta a gestão da empresa porque cria confusão entre os papéis familiares e profissionais, levando a empresa a não cumprir os seus objetivos, impedindo o crescimento e a sua continuidade.
Por isso é fundamental ter uma estratégia para gerir essas relações e é:
“PROFISSIONALIZAR AS RELAÇÕES FAMILIARES”
Isso significa passar de um nível familiar e espontâneo para um nível profissional e estratégico do ponto de vista profissional, com foco no alcance dos objetivos de negócio.
Para começar a profissionalizar os relacionamentos, leve em consideração estas 5 ações:
1. Posicionar-se na função de trabalho
Envolve ter consciência e perceber que além do cargo e das funções, significa fazer uma mudança psicológica no relacionamento com os outros (familiares), a partir do papel que você desempenha dentro da empresa.
É compreender que além de pai, irmã, avô, mãe, o que prevalece no contexto de trabalho é o papel de gestor, sócio, fundador, colega, etc.
É comum ver nas empresas familiares como as questões de trabalho se tornam questões pessoais porque não levam em conta que quem está falando naquele momento o faz a partir do seu negócio e não de uma função familiar.
Perceber isso é a virada psicológica a que nos referimos.
Esta mudança implica que cada membro mude o chip do “modo família” para o “modo empresa” do seu local de trabalho correspondente.
2. Ser claro sobre as relações de autoridade
A família não deve ignorar que existe uma estrutura, formal ou informal, na qual existem níveis de autoridade.
Ter um organograma dentro da empresa ajuda a esclarecer o relacionamento entre pessoas e cargos e também reflete as relações de autoridade.
Vale distinguir que estamos falando de autoridade e não de autoritarismo. A autoridade é essencial para funcionar de forma produtiva dentro da empresa porque gera ordem e uma direção clara.
3. Cumprir as regras da empresa
As regras que regem a vida familiar não são as mesmas que regem o contexto de trabalho.
Ter regras e regulamentos de negócios claros evita a erosão das relações interpessoais que ocorre por questões familiares e que acabam impactando o ambiente de trabalho, a autoridade e a produtividade da empresa.
As regras ajudam a moldar o comportamento e a cultura dentro do contexto da empresa.
Se uma regra é “cumprir cronograma de trabalho”, sua função é facilitar o trabalho em equipe e oferecer uma ordem que facilite a coordenação e a obtenção de resultados para todos, inclusive fornecedores e clientes.
Se, por exemplo, o primo que faz parte da empresa sempre chega atrasado às reuniões familiares, não conseguirá utilizar esse mesmo hábito dentro do contexto de trabalho. Isso, além de incomodar os demais integrantes da empresa, gera atrasos nos resultados do negócio.
4. Comunicar de maneira diferente
A familiaridade ou o afeto não se perde simplesmente ao procurar comunicar de forma diferente; a comunicação no trabalho permite dar um enquadramento profissional a essa relação.
A comunicação no trabalho tem objetivos diferentes da comunicação familiar. É por isso que o chat familiar não pode ser o mesmo chat onde se discutem questões de trabalho.
Como diferenciar essa comunicação?:
- Criar um meio único para falar sobre temas de trabalho, pode ser um chat, e-mail, etc.
- Combinar uma nova forma de se referir ao outro, por exemplo, é diferente ligar para tia Luisita em contexto familiar do que ligar para Luisa em contexto de trabalho.
- Posicionando-se a partir da função de trabalho.
5. Cultivar um sentimento de pertencimento
Ser família não garante comprometimento e sentimento de pertencimento à empresa.
Mesmo que você trabalhe com a família, é preciso continuar estimulando a motivação na equipe e, o mais importante, gerar automotivação.
Uma maneira de fazer isso é alinhar objetivos pessoais com objetivos de negócios.
Embora seja uma empresa familiar e isso por si só traga benefícios, é importante que cada pessoa sinta que os seus objetivos pessoais não estão tão distantes dos objetivos empresariais a ponto de colocarem em causa a sua participação na empresa
Alinhar esses dois objetivos gera muito mais comprometimento e sentimento de pertencimento na empresa, pois ambas as partes saem ganhando.
Por fim, lembre-se: a chave para garantir que o negócio permaneça na família é profissionalizar as relações familiares.