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Ficha técnica: Cevada

Valor nutricional (comparação de tabelas), produção, comércio e estudos mais recentes sobre a cevada.

Introdução

A cevada (Hordeum vulgare) é uma herbácea monocotiledônea de ciclo vegetativo anual da família de gramíneas com grande adaptabilidade a diferentes solos e zonas climáticas. No passado era usada cevada hexástica (cevada forrageira) para ração animal e cevada dística (cevada cervejeira) para produção de cerveja, mas atualmente a produção de cevada hexástica foi reduzida em favor da cevada dística, uma vez que pode ser utilizada tanto para a indústria cervejeira como para a alimentação animal.

Grãos de cevada (Hordeum vulgare L.). Foto de Sanjay Acharya.
Grãos de cevada (Hordeum vulgare L.). Foto de Sanjay Acharya.

O grão é composto de aproximadamente 3,8% de germe, 18,1% de farelo (pericarpo e testa) e 78,1% de endosperma (incluindo aleurona). A cevada contém níveis relativamente altos de proteínas e minerais em comparação com outros cereais, como milho e sorgo, e baixo teor de lipídeos. O grão de cevada tem um teor de açúcar entre 1,5 e 2,5, principalmente na forma de açúcares solúveis (sacarose e rafinose), mas difere basicamente do resto dos cereais mais usados em ração para suínos pelo seu baixo teor de fibra pouco lignificada, que pode ser o dobro do milho, sorgo, trigo ou centeio (mais parecido como aveia). A característica diferencial da fibra de cevada é que a maior parte é composta de ß-glucanos e pentosanos, que variam dependendo do clima e das condições de cultura. De fato, o seu valor energético (EM / kg) é menor que o do trigo e do milho.

Produção e comércio

Produção

Evolução da produção mundial de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.
Evolução da produção mundial de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.

Comércio

Evolução das exportações de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.
Evolução das exportações de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.

Evolução das importações de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.
Evolução das importações de cevada por safra. Fonte: 333, FAS-USDA.

Estudo comparativo dos valores nutricionais

Os sistemas utilizados na comparação são FEDNA (Espanha), CVB (Holanda), INRA (França), NRC (EUA) e Brasileiro.

FEDNA CVB INRA NRC Brasil
MS (%) 88,9-89,9 86,7 86,7 89,9 87,1
Valor energético (kcal/kg)
Proteína bruta (%) 9,6-11,3 10 10,1 11,33 10,8
Extrato etéreo (%) 1,7 1,8 1,8 2,11 1,7
Fibra bruta (%) 4,7 4,3 4,6 3,9 4,25
Amido (%) 52,5-51,9 52,8-54,0 52,2 50,21 52,1
Açúcares (%) 1,6 2,3 2,1 - -
ED crescimento 33151-33702 - 3070 3150 3106
EM crescimento 32301-32702 - 2970 3073 3019
EL crescimento 23251-23452 2390 2280 2327 2305
EL reprodutoras 23751-23952 2390 2320 2327 2380
Valor proteico
Digestibilidade proteína bruta (%) 78 74 75 79 79,5
Composição aminoácidos (% PB)
Lys 3,6 3,6 3,8 4,5 3,8
Met 1,64 1,7 1,7 2,3 1,67
Met + Cys 3,83 3,9 4 5,2 4,07
Tre 3,31 3,4 3,4 4,1 3,33
Trp 1,2 1,2 1,2 1,5 1,2
Ile 3,5 3,5 3,6 4,2 3,33
Val 4,9 4,9 5,1 5,9 4,44
Arg 4,91 4,9 4,8 6,0 4,91
Digestibilidade ileal estandartizada (% PB)
Lys 78 76 75 75 73,7
Met 84 82 84 82 82
Met + Cys 82 80 84 81 82
Tre 79 79 75 76 74,3
Trp 80 77 79 82 76,9
Ile 81 82 81 79 80,6
Val 80 80 80 80 78,9
Arg 83 84 83 85 83,3
Minerais (%)
Ca 0,06 0,05 0,07 0,06 0,05
P 0,32 0,31 0,34 0,35 0,35
P fítico 0,21 0,23 0,187 0,22 0,2
P disponível 0,11 - - - 0,15
P digestível 0,10 0,11 0,11 0,158 -
Na 0,02 0,01 0,01 0,02 0,02
Cl 0,12 0,1 0,11 0,12 0,12
K 0,4 0,49 0,48 0,38 0,43
Mg 0,1 0,12 0,11 0,14 0,13

1Cevada dística nacional espanhola com um conteúdo de proteína bruta de 9,6%
2Cevada dística nacional espanhola com um conteúdo de proteína bruta de 11,3%

Diferente do resto das tabelas, a FEDNA diferencia claramente entre duas qualidades de cevada classificadas em função do conteúdo em proteína enquanto que CVB, INRA e o Brasil consideram apenas uma qualidade de cevada com valores intermediários (10,0-10,8%) à exceção de NRC que se equipara ao alto intervalo de FEDNA como valor único de proteína (11,3%). Este fato está muito ligado a NRC que dá o valor de fibra mais baixo seguido do Brasil, INRA e CVB com uma correlação negativa (r2 = -0,83) muito acentuada entre o conteúdo de proteína e fibra (a exceção da cevada de alto conteúdo proteico para FEDNA que considera um valor fixo para o conteúdo em fibra). A mesma relação, ainda que menos acentuada (r2 = 0,56), é observada entre o conteúdo em proteína e amido.

Estas relações têm um impacto direto na estimativa do valor da energia líquida (EL), uma vez que a clara correlação positiva entre o teor de amido e a EL é evidente (com exceção do IRNA que estima a energia baixa EL para valores do amido elevados em comparação com o resto dos sistemas de avaliação). Nota-se que, ao contrário do resto dos sistemas de avaliação, NRC dá valores mais elevados de proteína para a cevada (15% em relação a FEDNA de baixo teor de proteína e o mesmo valor para proteína elevada) e gordura (20%), mas menor para a fibra (20%) sendo a cevada um cereal fibroso. Em relação ao valor energético, tanto o INRA quanto o NRC, estimam a EL entre 2 e 3% menor que a FEDNA, enquanto o BRASIL e a CVB são ligeiramente superiores (0,2 e 0,5%).

Em termos de aminoácidos totais, tendo como referência a lisina, pode-se observar que, enquanto o FEDNA e o CVB apresentam valores semelhantes, o INRA e o Brasil apresentam um aumento de 5% no teor de lisina. Mais extremo é o caso do NRC que tem um valor de lisina 20% maior. Os valores para o resto dos aminoácidos totais são bastante proporcionais à lisina. O coeficiente de digestibilidade da lisina varia entre 74% (Brasil) e 78% (FEDNA), permanecendo os demais sistemas de avaliação (CVB, INRA e NRC) em níveis intermediários de 75-76%. Excepcionalmente, o INRA fornece valores superiores de digestibilidade dos aminoácidos sulfurados e o NRC fornece um coeficiente de digestibilidade mais alto do triptofano.

Descobertas recentes

  1. Comparação do conteúdo em energia e digestibilidade de aminoácidos da cevada procedente de diferentes origens. Foram observadas diferenças na composição química, conteúdo de energia metabolizável e digestibilidade ileal aparente (DIA) e estandartizada (DIE) de AA entre cevadas originárias da Austrália, França ou Canadá. O valor nutritivo da cevada do Canadá e a Austrália foi superior ao da francesa, o que é uma informação relevante quando se formula uma ração utilizando grãos importados.
  2. Digestibilidade ileal aparente e estandartizada de aminoácidos em diversos cultivares de cevada utilizada na ração de engorda. Foram observadas diferenças na digestibilidade ileal da proteína bruta e AA entre as variedades de cevada, mas é difícil prever a digestibilidade ileal padronizada para a maioria dos aminoácidos da cevada, dependendo das características químicas.
  3. Determinação e previsão do conteúdo em energia digestível e metabolizável da cevada para suínos em crescimento segundo a sua composição química. O teor de ED e MS de cevada de diferentes fontes pode ser previsto com precisão aceitável por meio de equações de regressão quando usadas para ração de crescimento.
  4. Retirada parcial da casca aumenta o conteúdo de energia e a digestibilidade dos nutrientes da cevada para suínos em crescimento. A ED e MS, assim como a digestibilidade total aparente dos nutrientes da cevada, seja alta ou baixa em fibra, melhoram se descascadas. Além disso, o valor nutricional da cevada descascada e de baixa fibra é comparável ao do milho amarelo.
  5. Digestibilidade ileal estandartizada de aminoácidos em oito genótipos de cevada utilizada para suínos em crescimento. A partir deste trabalho, foi criado um banco de dados completo com a composição química e DIE da proteína bruta e AA em 8 genótipos atuais de cevada. No entanto, como os valores de DIE encontrados são inferiores aos das tabelas, são necessários ajustes para minimizar o risco de superestimar o valor real da proteína de cevada para suínos.
  6. Determinação das perdas endógenas basais no íleo da digestibilidade estandartizada de aminoácidos na cevada para suínos em crescimento. Para ingredientes de baixa proteína, como a cevada, os métodos de regressão podem ser melhores do que corrigir valores de digestibilidade ileal aparente para perdas endógenas de AA no nível ileal determinadas em condições de alimentação livre de N, uma vez que as intersecções e a inclinação das equações de regressão linear entre o conteúdo digestivo ileal aparente e a proteína bruta e AA total da dieta fornece estimativas diretas das perdas endógenas de AA ileal e da digestibilidade ileal padronizada da proteína bruta e do AA.
  7. A cevada, descascada ou não, selecionada por baixo ácido fítico aumentou a digestibilidade aparente em todo o trato digestivo de fósforo e cálcio em dietas para leitões. A cevada mutante LPA 955 (M955) foi eficiente, tanto inteira como descascada, em dietas isocalóricas em leitões. Os suínos alimentados com LPA M955 consumiram 31% menos P e excretaram 78% menos P fecal e 30% menos Ca fecal que os que foram alimentados com cevada normal + P inorgânico que tinha o mesmo P disponível que a dieta M955. Portanto, a cevada LPA, especialmente a M955 com 95% de P disponível reduz o uso de P inorgânico em dietas suínas, reduz a contaminação por P do chorume e pode ajudar no objetivo de conseguir a sustentabilidade global do P.
  8. A extrusão da cevada ou aveia influenciam a microbiota fecal e o perfil de ácidos graxos de cadeia curta em suínos em crescimento. Foi avaliado o efeito da extrusão de cevada e aveia na microbiota fecal e a formação de ácidos graxos de cadeia curta utilizando suínos como modelo. A extrusão de cereais afeta a composição e a diversidade da microbiota tendendo a um estado que se acredita ser menos benéfico para a saúde e produz menor quantidade de ácido butírico.
  9. O trigo e a cevada afetam de maneira diferente a microbiota intestinal suína. O trigo e a cevada exercem uma influência diferente sobre a composição microbiana, particularmente no intestino delgado e a cevada aumenta a relação Lactobacillus spp: Enterobacteriaceae, ressaltando seu potencial para manipular beneficamente o ecossistema microbiano intestinal.
  10. Os métodos de regressão e os diretos não diferem nas estimativas dos valores energéticos digestíveis e metabolizáveis da cevada, sorgo e trigo para suínos. A comparação entre métodos diretos e de regressão para determinar os valores de energia digestível (ED) e energia metabolizável (EM) de cevada, sorgo e trigo para suínos sugerem que a regressão e os métodos diretos não fornecem estimativas diferentes de ED e EM para o uso destes cereais na carne suína.

Referências

Foreing Agricultural Service. USDA. https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html
FEDNA: http://www.fundacionfedna.org/
FND. CVB Feed Table 2016. http://www.cvbdiervoeding.nl
INRA. Sauvant D, Perez, J, y Tran G, 2004, Tables de composition et de valeur nutritive des matières premières destinées aux animaux d'élevage,
NRC 1982. United States-Canadian Tables of Feed Composition: Nutritional Data for United States and Canadian Feeds, Third Revision.
Rostagno, H,S, 2017, Tabelas Brasileira para aves e suínos, Composição de Alimentos e Requerimentos Nutricionais, 4° Ed,

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