A sustentabilidade econômica, ambiental e social é vital para qualquer setor produtivo. Neste sentido, produção de suínos gera uma grande quantidade de dejeto, cuja gestão é crucial para garantir essa sustentabilidade.
Grande parte deste dejeto é aplicado diretamente nos campos como fertilizante, seguindo critérios agronômicos. No entanto, a concentração das granjas em determinadas áreas pode gerar um desequilíbrio entre a produção de dejetos e a superfície agrícola disponível. Esse excesso, sem uma gestão adequada, pode levar a consequências ambientais e sociais, como a contaminação das águas subterrâneas por nitratos, o que representa um risco à saúde humana, entre outras.

Nestas zonas onde existe um desequilíbrio entre o dejeto e a disponibilidade de terras agrícolas, é necessário implementar estratégias de gestão e tratamento que permitam que os nutrientes presentes no dejeto sejam exportados para territórios com procura. Para este objetivo, estações de tratamento centralizadas podem ser uma boa alternativa, uma vez que facilitam uma gestão mais eficiente e redução de custos em comparação com tratamentos in situ em granjas ou indústrias.

Recentemente, o setor do biogás ganhou um interesse crescente devido a fatores como a transição ecológica, a descarbonização, os conflitos geopolíticos e a flutuação dos preços dos combustíveis fósseis. As empresas de energia veem os resíduos orgânicos como uma oportunidade para produzir biogás, que pode ser purificado para obter biometano, uma alternativa renovável ao gás natural. Este interesse no biometano poderia promover projetos de tratamento e valorização de resíduos que, até agora, não tinham a viabilidade econômica necessária.

Embora a produção de biogás e biometano ofereça uma oportunidade para melhorar a gestão de resíduos e subprodutos orgânicos, o processo de digestão anaeróbica não afeta a concentração de nutrientes, apenas modifica o seu estado de oxidação. Portanto, é necessário combinar esta tecnologia com outras que processam o digerido (material resultante dos digestores anaeróbios) para obter produtos de valor acrescentado que possam ser comercializados e exportados para fora do território, passando do conceito de centrais de biogás para biorrefinarias ou ecoplantas.
O biogás, e principalmente o biometano, já possuem um mercado mais ou menos consolidado, porém, ainda há um longo caminho a percorrer quando se trata de outros bioprodutos obtidos em uma biorrefinaria. Neste sentido, é fundamental promover cadeias de valor que vão desde o dióxido de carbono biogênico, recuperado no processo de purificação do biogás para produção de biometano, até aos produtos fertilizantes, bioestimulantes, corretivos orgânicos e água recuperada, obtidos no tratamento do digerido.
No que diz respeito ao dióxido de carbono biogênico, é necessário investir em pesquisa e inovação para desenvolver processos que permitam a sua captura e valorização. Algumas possíveis aplicações deste gás incluem a produção de biocombustíveis ou a sua utilização em diferentes setores industriais, como no setor agroalimentar, por exemplo no atordoamento de animais devido à anóxia em frigorífico ou na sua inclusão em misturas de gases para atmosferas modificadas em produtos frescos embalados.
Em relação aos biofertilizantes, bioestimulantes e corretivos orgânicos, é fundamental, determinar a sua pegada ambiental e utilizar os resultados, que se espera sejam favoráveis a nível ambiental, para promover a sua utilização em vez de produtos de origem mineral e não circular. Além da redução da pegada de carbono devido à sua produção, há que considerar também a sua origem circular e o seu potencial de contribuição para o sequestro de carbono quando aplicado no solo. Neste sentido, seria necessário promover um enquadramento político-jurídico que incentivasse a substituição de produtos menos sustentáveis e de origem não renovável por estes bioprodutos.

Um exemplo proeminente desses produtos é o biochar, material sólido rico em carbono obtido através da pirolização da biomassa, ou seja, do aquecimento da matéria orgânica na ausência de oxigênio. É usado principalmente como corretivo do solo para melhorar a fertilidade do solo, reter carbono e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas. O aumento da matéria orgânica no solo também promove a biodiversidade, melhora a retenção de água e reduz a erosão, entre outros benefícios. Estes serviços ecossistêmicos devem ser valorizados para aumentar a competitividade destes produtos no mercado.

Outro biofertilizante de grande interesse que pode ser obtido a partir do tratamento do digerido, especificamente através de um processo de extração e absorção com ácido sulfúrico, é o sulfato de amônio. Este fertilizante apresenta níveis de pureza comparáveis aos do seu análogo de origem mineral; Porém, do ponto de vista regulatório, atualmente é considerado de origem orgânica, limitando sua aplicação. Esta classificação limita a sua competitividade no mercado em relação aos fertilizantes minerais convencionais.
A iniciativa RENURE (Nitrogénio Recuperado do Dejeto) procura reclassificar certos fertilizantes azotados recuperados como equivalentes a minerais, o que permitiria a sua aplicação sem as restrições impostas aos fertilizantes orgânicos em áreas vulneráveis aos nitratos. Esta alteração regulamentar poderá aumentar o valor econômico do sulfato de amônio e de outros produtos derivados do digerido, promovendo a sua valorização num modelo de economia circular.

Da mesma forma, é fundamental investir em pesquisa e inovação para desenvolver produtos orgânicos que, qualitativamente, ofereçam as mesmas vantagens dos produtos inorgânicos, como a formulação à base de N, P, K e outros micronutrientes, ou a apresentação dos produtos finais, por exemplo, na forma de pellets ou grânulos.
Finalmente, o principal desafio relativo à água regenerada, obtida a partir do tratamento terciário da fração líquida do digerido, é desenvolver um quadro jurídico claro que regule as suas possíveis utilizações. É fundamental estabelecer medidas de controle que garantam a sua qualidade e determinar se o seu destino final pode ser a limpeza de instalações, utilização em torres de refrigeração, irrigação ou fertirrigação, bem como a sua descarga em coletores ou mesmo canais de água. Dado o evidente cenário atual e futuro de escassez de água, seria também apropriado considerar utilizações mais ambiciosas, como a sua utilização para fornecer água a animais ou em processos da indústria de alimentos.
Em síntese, os desafios para tornar as biorrefinarias uma realidade não são apenas tecnológicos, mas também políticos, jurídicos, de investigação e de coordenação entre os diferentes agentes envolvidos nas cadeias de valor dos bioprodutos obtidos.