Quem beberia água de um recipiente sujo? Eu não. Os riscos higiénico-sanitários e a alteração das suas condições organolépticas, como sabor, cheiro e / ou cor, tornam-o pouco apetecível.
Não há diferenças quando transferimos a questão para a produção de suínos. Neste caso, o "recipiente" é composto pelo tanque de armazenamento, pelos canos e pelos bebedouros.
O principal risco decorrente da falta de manutenção higiênico-sanitária do tanque e das tubulações é o biofilme.
Os biofilmes são comunidades complexas de microrganismos - de uma ou várias espécies - que crescem impregnadas numa matriz polimérica autogerada e aderidas a uma superfície inerte ou viva. Essas formações aumentam a probabilidade de contaminação da água e são vetores de transmissão de patologias, razão pela qual constituem um risco óbvio para a saúde dos nossos animais.
Além disso, o biofilme pode interferir na administração de medicamentos, reduzir o diâmetro dos tubos e obstruir os bebedouros.
Desenvolvimento de biofilmes
O desenvolvimento do biofilme é uma forma comum de crescimento bacteriano na natureza. Sob condições ambientais corretas, a maioria dos microrganismos é capaz de formar biofilmes.
A formação de biofilme é um processo dinâmico e complexo que pode ser dividido em cinco fases:
- Fase 1. Aderência reversível das bactérias à superfície. União fraca das bactérias com o substrato que ocorre em apenas um minuto.
- Fases 2 e 3. Adesão irreversível à superfície, com um estágio inicial de crescimento e divisão com produção de um exopolímero protetor e o desenvolvimento final da colônia com dispersão de células colonizadoras. Ligações irreversíveis são formadas num período entre 20 minutos e 4 horas.
- Fase 4. Crescimento e maturação. As células bacterianas resultantes formam uma microcolônia em torno do local de união. Se as condições forem adequadas, será desenvolvida uma colônia organizada. Ao longo da etapa de maturação, o biofilme se adapta à presença de nutrientes, oxigénio e mudanças populacionais. Estima-se que o desenvolvimento desta fase seja de 2 a 4 dias.
- Fase 5. Difusão de células colonizadoras. Finalmente, algumas bactérias da matriz do biofilme são libertadas para colonizar novas superfícies, fechando ou iniciando o ciclo.
O processo de formação, aderência, maturação, dispersão e recuperação do biofilme,
desenvolve-se em apenas 5 dias.
Biofilmes: estratégia de sobrevivência das bactérias
O crescimento do biofilme aumenta a capacidade de sobrevivência das bactérias através de mecanismos como:
- age como um "escudo" que protege os microrganismos de elementos como biocidas ou antibióticos e reduz as possibilidades de desidratação;
- aumenta a disponibilidade de nutrientes para o crescimento bacteriano;
- permite a transferência de material genético (DNA).
Controle e eliminação de biofilmes
As bactérias aderidas são muito mais resistentes aos biocidas e aos métodos convencionais de limpeza do que as que se encontram em suspensão.
O controle e a eliminação do biofilme devem ser um ponto crítico. É essencial seguir um protocolo adequado, tanto na presença de animais como durante o vazio sanitário.
Foi observado que a limpeza com álcalis é
mais eficaz do que limpar com ácidos para eliminar o biofilme.
O protocolo de manutenção higiênica do sistema de distribuição de água deve ser realizado utilizando produtos específicos para este uso.
Os biofilmes são, em suma, proteínas e gorduras aderidas a uma superfície, portanto, temos que usar produtos que eliminem a tensão superficial - adesão - e que sejam eficazes com proteínas e gorduras e adequados para tratar a água potável. No mercado existem produtos alcalinos formulados especificamente para estes usos, produtos à base de hidróxido de sódio e agentes dispersantes de alta solubilidade que atingem um efeito detergente na tubagem, destacando o biofilme. Os tratamentos com este tipo de produtos, quando realizados na presença de animais, não devem ser prolongados por mais de 48-72 horas, pois produzem um aumento no pH da água.
Para garantir que os tubos da granja sejam mantidos limpos, a limpeza periódica na presença de animais deve ser combinada com a limpeza em vazio sanitário.
Deve ser SEMPRE realizada uma limpeza dos tubos no final de qualquer tratamento medicamentoso.
Conclusão
Nunca deve ser considerado que a qualidade da água que é introduzida num sistema de abastecimento permanece inalterada até atingir o ponto de consumo: a ação dos microrganismos presentes nas paredes dos tubos - biofilme - produz uma deterioração na qualidade da água, reduz a capacidade hidráulica dos tubos, acelera a corrosão e dificulta o tratamento de desinfetante da água e a administração de medicamentos como antibióticos, e claro, pode ser um vetor para a transmissão de doenças.
A implementação de um protocolo de manutenção higiênico-sanitária adequada nos tubos, com produtos autorizados para tal uso, tanto na presença de animais como durante o vazio sanitário, é a ferramenta adequada para garantir o controle e a eliminação dos biofilmes.
Por fim, há de se ressaltar que o desenho higiênico dos sistemas de distribuição de água é a melhor medida preventiva para o controle e eliminação do biofilme, favorecendo que não seja formado e facilitando a manutenção higiênico-sanitária do sistema.