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Granulometria como fator chave para a sustentabilidade

No contexto atual de elevados custos de produção e de crescente pressão das regulamentações ambientais, a produção de suínos enfrenta o desafio de equilibrar a eficiência produtiva com a sustentabilidade ambiental e econômica da indústria. Um fator chave nesta equação é a granulometria da ração, onde melhorias significativas podem ser alcançadas com ações simples ao alcance do produtor.

O que é granulometria?

A granulometria refere-se ao tamanho das partículas dos ingredientes que compõem a ração, ou seja, o grau de moagem que ela recebeu antes de ser oferecida aos animais. Este parâmetro é comumente medido pelo Diâmetro Médio Geométrico (GMD), que indica o tamanho médio das partículas, e pelo Desvio Padrão (DP), que reflete a variabilidade no tamanho das partículas dentro da mistura.

Embora o DGM e a DP sejam influenciados pela granulometria de todos os ingredientes que compõem a ração, na maioria das fábricas de rações os ingredientes vegetais são principalmente moídos, que por sua vez são os que estão incluídos em maior proporção nas rações. Dado o seu impacto significativo na eficiência alimentar e no custo da dieta, é crucial que estes ingredientes sejam moídos de forma ideal.

Por que a granulometria é importante?

A granulometria desempenha um papel crucial na digestibilidade dos alimentos. Ao reduzir o tamanho das partículas, a superfície de contato aumenta, o que facilita a ação das enzimas digestivas e, consequentemente, melhora a digestibilidade e aproveitamento dos nutrientes.

Durante a década de 90, muitas pesquisas foram feitas sobre o tamanho ideal das partículas dos cereais que compõem a dieta dos suínos, onde era evidente a sua influência na digestibilidade dos nutrientes. Embora as recomendações sobre o tamanho das partículas possam variar dependendo do tipo de cereal, tipo de moinho e fase de vida do animal, em geral, constatou-se que partículas na faixa entre 500 – 600 µm melhoram a digestibilidade e o desempenho produtivo dos suínos (Rojas et. al., 2017).

Tabela 1: Efeitos do tamanho das partículas de milho na digestibilidade total aparente do trato (ATTD) da matéria seca (MS) e energia bruta (EB) e concentrações de energia digestível (ED), energia metabolizável (EM) e energia líquida (EL) de suínos.

Tamanho de partícula de milho

μm

P- valor

700

500

300

Consumo

Consumo ração, kg/dia

2,72

2,62

2,73

0,254

Consumo de EB, Mcal/d

10,66

10,15

10,69

0,628

Excreção fecal

Produção de fezes secas, kg/d

0,27

0,23

0,23

0,001

EB em fezes, kcal/kg

4,539

4,568

4,147

< 0,001

Saída EB fecal, kcal/d

1.244

1.032

962

< 0,001

ATTD de MS, %

89,87

91,25

91,39

0,004

ATTD de EB, %

88,26

89,7

90,89

< 0,001

Excreção de urina

Produção de urina, kg/dia

6,11

5,9

6,81

0,001

EB em urina, kcal/kg

33,23

33,01

29,19

0,049

Produção de urina EB, kcal/d

206

197

194

0,075

Energia em dietas, kcal/kg

ED

3.459

3.477

3.560

< 0,001

EM

3.385

3.402

3.488

< 0,001

EN

2.735

2.739

2.838

< 0,001

Utilização da energia, %

EM:ED

97,85

97,87

97,98

0,045

EN:EM

80,79

80,5

81,35

0,165

Fonte: adaptado segundo Lee et. (2024).

Porém, na prática, é comum encontrarmos processos de moagem muito grosseiros ou irregulares/desuniformes, com moinhos que carecem de manutenção adequada ou que não possuem a capacidade de produção necessária para atender os volumes exigidos pela fábrica. É comum, ao visitar granjas, observar fragmentos de cereais nas fezes dos animais, o que indica que estes não foram aproveitados adequadamente e simplesmente passaram sem serem digeridos, representando um desperdício significativo de nutrientes e recursos.

Figura 1.&nbsp;Part&iacute;culas con granulometria irregular en piensos y heces. Fotos cedidas por Diego Lescano.

Figura 1. Partículas con granulometria irregular en piensos y heces. Fotos cedidas por Diego Lescano.

Ao mesmo tempo, a sustentabilidade ambiental na produção de carne suína tornou-se uma preocupação crescente para os governos e a opinião pública. Neste contexto, a granulometria alimentar apresenta-se como uma ferramenta acessível para reduzir o impacto ambiental. Ao otimizar o tamanho das partículas, melhora-se a eficiência com que os animais absorvem os nutrientes, reduzindo a quantidade de resíduos gerados nas fazendas. Isto resulta numa menor excreção de nutrientes não digeridos no dejeto, reduzindo tanto o volume de resíduos como o desperdício de ração, bem como minimizando as emissões de gases. Esta abordagem contribui diretamente para uma produção suína mais eficiente e com menor impacto ambiental.

Kerr et al. (2020) realizaram um estudo para comparar a composição e geração de gases do dejeto de animais alimentados com ração de granulometria grossa e fina. Os resultados indicaram que o grau de moagem da ração tem impacto na composição do dejeto e nos seus compostos voláteis, embora não tenham sido observados efeitos nos gases de efeito estufa. Desta forma, ajustar a granulometria da ração poderia ser uma medida interessante para melhorar a qualidade do dejeto e reduzir perdas por emissões de gases, o que é relevante para práticas mais sustentáveis.

Tabela 2. Características do dejeto afetado pelo tamanho das partículas.

Tamanho de partícula NH4-N (μM g-1) Sulfuro (μM g-1) pH N (g L-1) C (g L-1) S (g L-1)
Grossa 406 0,41 7,87 0,57 3,80 0,089
Fina 358 0,37 8,05 0,48 2,88 0,085
P-value .01 .19 .02 .01 .01 .21

Fonte: Kerr et. al., 2020.

Tabela 3: Principais compostos voláteis do dejeto afetados pelo tamanho das partículas.

Tamanho de partícula Acético (mmol g-1) Propiônico (mmol g-1) Butírico (mmol g-1) Totais* (mmol g-1) Fenóis (μmol g-1)
Grossa 188,0 22,0 16,0 237,0 1,5
Fina 128,0 13,0 8,0 156,0 1,3
P-value .01 .01 .01 .01 .01

Fonte: Kerr et. al., 2020. *Ácidos graxos voláteis totais (acetato, propionato, butarato, isobutirato, isovalerato, valerato, isocapróico, capróico e heptanóico), fenóis (fenol, cresol, etilfenol e propilfenol).

Não se pode falar de sustentabilidade ambiental sem considerar a sustentabilidade econômica das granjas. A nutrição representa aproximadamente 70-80% do custo da produção suína. Se uma parte da ração for perdida devido a uma moagem deficiente, o impacto econômico pode ser considerável.

Lescano et al. (2017) observaram que cada aumento de 100 µm no tamanho das partículas resulta em aumento de 2,72% no índice de conversão (IC), para animais com peso de venda superior a 125 kg. Da mesma forma, Wondra et al. (1995) demonstraram que o aumento do IC é de 1-1,5% para cada 100 µm de aumento no tamanho das partículas, considerando animais com peso de venda próximo de 105-110 kg.

De acordo com dados recentes de ensaios realizados por Diego Lescano na Argentina (2023), foi avaliada a correlação entre o diâmetro geométrico médio (DGM) e a porcentagem de partículas maiores que 1000 µm em amostras de milho moído, utilizando dietas à base de milho e farelo de soja. Foi examinado o impacto desses fatores no desempenho produtivo, medido pelo índice de conversão (IC), e no benefício econômico para os animais.

As conclusões obtidas indicam que para cada aumento de 1% em partículas maiores que 1000 µm, é gerado um aumento de 8 µm no DGM, o que resulta em um aumento de 0,20% no IC. Isto reflete uma redução na eficiência do uso da ração. Estes resultados destacam a necessidade de controlar a granulometria para melhorar a taxa de conversão e reduzir os custos associados à moagem inadequada.

Conclusão

A granulometria alimentar não é apenas uma ferramenta para melhorar a eficiência alimentar, mas também um fator chave na redução do impacto ambiental e na sustentabilidade econômica da produção de suínos.

Recomendações práticas

Monitoramento contínuo da granulometria com periodicidade estabelecida, bem como manutenção constante do moinho para evitar quebras e desgastes que podem resultar em aumento da granulometria.

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