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Ácidos orgânicos: ácido fórmico, ácido láctico e ácido propiônico

Esta ficha técnica apresenta uma breve compilação de estudos científicos que avaliaram o efeito do ácido fórmico, do ácido lático e do ácido propiônico na saúde gastrointestinal e no desempenho produtivo de suínos em diferentes fases de produção.

Introdução

Antes de entrar no assunto, é importante salientar que o efeito dos ácidos orgânicos (AO) na saúde gastrointestinal, digestibilidade e resultados produtivos dos suínos depende de vários fatores externos, tais como o tipo de dieta, a concentração e combinação de AO utilizados e a idade e status sanitários dos animais. Fatores que devem ser levados em consideração na comparação de resultados de diferentes estudos científicos e na aplicação de conhecimentos a nível prático.

Por exemplo, a capacidade tampão da dieta impacta a ação dos ácidos orgânicos, com maior efeito em dietas com menor capacidade tampão (Blank et al., 1999; Wang et al., 2023). Por outro lado, dependendo do tempo de amostragem utilizado a nível gastrointestinal para avaliar a capacidade acidificante de um ácido, os resultados obtidos podem variar (Canibe et al., 2005). Portanto, para aplicar o conhecimento científico à prática, é importante conhecer detalhadamente a metodologia do estudo e as condições da nossa granja.

Ácido fórmico

O ácido fórmico (1k236) é um ácido graxo de cadeia curta (AGCC) de fórmula química CH2O2, autorizado pela EFSA como aditivo tecnológico para utilização na alimentação animal como conservante com uma inclusão máxima de 10 g/kg em rações com um teor de humidade de 12% em suínos.

É um ácido líquido transparente, solúvel em água e álcool, com baixo peso molecular de 46,03 g/mol, pKa de 3,75 e logP Kow de -0,54. Graças ao seu baixo valor de pKa, é um ácido com elevada capacidade acidificante a nível gástrico, embora de manipulação complicada devido à sua corrosividade. Para reduzir a sua corrosividade, a combinação do ácido fórmico com sais para formar sais de ácido fórmico como o formato de amônio é uma prática amplamente utilizada, tendo sempre em conta que o seu mecanismo de ação a nível gastrointestinal é modificado.

Vários estudos (Tabela 1, adaptado de Luise et al., 2020) observaram melhorias nos resultados produtivos durante a fase de creche e terminação ao incluir ácido fórmico na ração.

Durante a creche, especialmente nos dias seguintes ao desmame, o uso do ácido fórmico é interessante graças ao seu forte poder acidificante a nível gástrico para facilitar a digestão das proteínas e reduzir a proliferação de bactérias patogênicas a nível gástrico (Tung e Pettigrew, 2006; M. García, 2011). Foi demonstrado que a inclusão a 0,9% na ração de uma mistura com 75% de ácido fórmico e 25% de ácido propiônico em leitões pós-desmame experimentalmente infectados com Salmonella e E. coli reduziu a concentração destes patógenos a nível gástrico (Taube et al., 2009). Ao nível da microbiota, Maribo et al. (2000) observaram que a inclusão de 0,7 e 1,4% de ácido fórmico reduziu a concentração de lactobacilos no intestino delgado e ceco e coliformes no estômago em leitões pós-desmame. Da mesma forma, Gedek et al. (1992) observaram redução de lactobacilos no intestino delgado e grosso e redução de coliformes no intestino grosso, independente da dose de ácido fórmico (1,2 a 2,4%), enquanto o nível de coliformes no intestino delgado foi dose-dependente. Por outro lado, estudos como o de Gerritsen et al. (2010) não observaram qualquer melhoria nos resultados produtivos, mas observaram um aumento na digestibilidade aparente in vivo da fibra bruta em leitões pós-desmame suplementados com 5 kg/t de ração de uma mistura de ácido fórmico, ácido propiónico, ácido láctico, ácido cítrico e ácido sórbico.

Ao nível da terminação, a utilização de ácido fórmico combinado com ácido láctico com uma inclusão de 0,8 ou 1,2% (50:50 ácido láctico:ácido fórmico) tem-se revelado uma boa estratégia para reduzir a prevalência de Salmonella nas últimas 14 semanas de terminação (Creus et al. 2007).

Tabela 1. Resumo dos efeitos do uso de ácido fórmico nos resultados produtivos durante a creche e terminação de suínos (tabela adaptada de Luise et al., 2020).

Ácido fórmico
Inclusão, % Fase de produção Ganho médio diário Índice de conversão Referência
0,5 Creche = = Manzanilla et al. (2004)
0,2 Creche = = Kil et al. (2006)
0,6 Creche 1 Luise et al. (2017)
0,14 Creche 1 Luise et al. (2017)
0,8 Terminação (crescimento) Siljander-Rasi et al. (1998)
0,8 Terminação (acabado) = Siljander-Rasi et al. (1998)
1,0 Terminação Øverland et al. (2000)
1,8 Terminação Canibe et al. (2005)
1,0 Terminação (crescimento) = Øverland et al. (2007)
0,8 Terminação Partanen et al. (2002)
1,0 Terminação (crescimento) Øverland et al. (2008)
1,0 Terminação (acabado) = Øverland et al. (2008)

1 Resultados após três semanas de administração; sem diferenças significativas após seis semanas.

Ácido láctico

O ácido láctico (1a270) é um AGCC com a fórmula química C3H6O3 autorizado pela EFSA como aditivo tecnológico para utilização na alimentação animal como conservante com uma inclusão máxima de 50 g/kg em rações com um teor de humidade de 12% em suínos.

É um líquido viscoso transparente amarelado, solúvel em água e etanol, com peso molecular de 90,08 g/mol, pKa de 3,75 e logP Kow de -0,70. Graças ao seu baixo valor de pKa, é um AO com forte capacidade acidificante a nível gástrico em leitões jovens, sendo um ácido de eleição para reduzir a incidência de patologia digestiva após o desmame, embora com resultados contraditórios no seu efeito promovendo resultados produtivos.

Na década de 90 já se publicava que o ácido láctico é capaz de reduzir o pH gástrico e a proliferação de Escherichia coli enterotoxigénica em leitões (Thompson e Lawrence, 1981; Partanen e Mroz, 1999). Alguns anos depois, Tsiloyiannis et al. (2001) observaram que a inclusão de 1,6% de ácido lático na ração pós-desmame diminuiu o percentual de animais com diarreia, melhorou os resultados produtivos e reduziu a contagem de coliformes. Estudos mais recentes observaram que a inclusão na ração de 3,97 g/kg de ácido láctico juntamente com 4,16 g/kg de ácido fumárico na ração em leitões de 7 a 18 kg de peso corporal modula a microbiota gastrointestinal de forma positiva, aumentando a contagem de Bacteroides-Porphyromonas-Prevotella no íleo e reduzindo a concentração de Streptococcus spp no ​​cólon mas sem efeito nos resultados produtivos. (Zentek et al., 2013).

Ácido propiônico

O ácido propiónico (1k280) é um AGCC com a fórmula química C3H6O2, autorizado pela EFSA como aditivo tecnológico para utilização na alimentação animal como conservante com inclusão máxima de 30 g/kg em rações com teor de humidade de 12% em suínos.

É um ácido líquido oleoso transparente, miscível em água e solúvel em álcool, com peso molecular de 74,08 g/mol, valor de pKa relativamente alto de 4,88 e logP Kow de 0,33.

O ácido propiônico é um AO eficaz na inibição do crescimento de fungos e bactérias, tornando-o um AO especialmente útil como conservante de rações, embora seu manuseio seja complicado devido à sua corrosividade.

Um estudo recente observou que a conservação de cereais com 4 kg de ácido propiônico/t após a colheita teve um impacto positivo na qualidade do cereal em termos de menor concentração de micotoxinas e nos resultados produtivos de leitões de 0 a 35 dias pós-desmame com maior crescimento e consumo, enquanto nenhum efeito foi observado nos resultados produtivos, embora tenha havido redução na expressão de citocinas pró-inflamatórias no intestino delgado no dia 10 pós-desmame quando o foram dosados ​​4 kg/t de ácido propiônico na ração final. Os autores concluem que as melhorias nos resultados produtivos obtidos podem ser consequência da melhor qualidade do grão, aumento do consumo e impacto benéfico na microbiota intestinal (Connolly et al., 2024).

Para a elaboração desta ficha técnica foram selecionados estudos que permitem a avaliação independente das ações do ácido fórmico, do ácido lático e do ácido propiônico na saúde gastrointestinal e nos parâmetros produtivos de suínos. Porém, na prática, sua inclusão é feita, em sua maioria, em combinação com outros AO, gerando um efeito sinérgico ou aditivo que potencializa seus benefícios.

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