Ao projetar uma nova granja, ou ao considerar qualquer expansão ou reforma, não há dúvida de que muito tempo é gasto na escolha do projeto e do equipamento que melhor se adapta aos requisitos de produção. Da mesma forma, pensar e projetar adequadamente uma granja do ponto de vista da biossegurança é um fator essencial para se conseguir granjas e estruturas produtivas que minimizem os problemas sanitários.
Neste artigo falamos com dois profissionais, Lara Ruiz e José Casanovas, que atualmente se dedicam à concepção e controle dos planos de biossegurança das produções agrícolas e sistemas de produção das empresas em que trabalham.
Para restringir o assunto, nos limitamos a quais elementos de biossegurança devem ser considerados no projeto de uma granja aplicáveis a qualquer tipo de propriedade.
Casanovas começa enfatizando: a chave para a maioria dos elementos de biossegurança é que eles marcam claramente quando você está dentro da granja (zona limpa) e quando você está fora (zona suja). Use este exemplo bem didático: “Imagine o limite entre o continente e o mar, se você chega ao mar de uma falésia, não há dúvida, na ponta da falésia você está em terra e se der mais um passo você já está no mar. Por outro lado, se você chega de uma praia, a passagem da terra para a água é bem mais indefinida, quando você pode dizer que já está no mar? " Assim, os pontos de troca de uma granja (vestiários, embarcadouros, etc.) devem definir claramente a separação entre áreas limpas e sujas, como na falésia, sem a existência de áreas de transição, onde se cometem erros.
A cerca
Os dois autores concordam sobre a importância de se ter uma cerca dupla: o perímetro que circunda toda a granja, e a biossegurança que delimita a área limpa da área suja (foto 1 e foto 2).
Ruíz explica: Uma questão importante é que a granja tem que ter entradas em torno do perímetro. Desta forma é muito fácil ter acessos diferenciados dependendo do seu uso e do seu risco.
Igualmente, um entrada para caminhões de ração e carregamento de leitões e outro separado para veículos de trabalhadores e visitantes, levando diretamente ao estacionamento. Você ainda precisa ter um terceiro acesso exclusivo ao tanque para recolher os dejetos.
Casanovas lembra que, mesmo que não queiramos, sempre acabam criando áreas de “transição” nas granjas. Por exemplo, se movermos o contêiner de coleta de animais mortos para o mais longe possível da granja, criaremos o problema de como transferir as carcaças para ele? Com quais roupas / sapatos? A que horas do dia? Possivelmente teremos que sair da zona limpa para chegar lá. Além disso, se nos referirmos ao caso específico do contêiner para animais mortos, a legislação indica que o contêiner deve estar dentro das dependências da granja. É por isso que a cerca do perímetro é importante.
A entrada de novos animais e a área de quarentena
Para Ruíz o mais comum é trabalhar com reposição externa. E neste caso sua opção prioritária é fazê-lo em um galpão separado, longe da granja, de preferência em outra propriedade. No entanto, esta opção deve levar em consideração algumas condições que podem representar um risco de biossegurança. O principal é a dependência de um transporte da quarentena até a granja. Este transporte deve ser da própria granja, pois, se fosse um transporte externo, precisaríamos de outra quarentena após a transferência. O outro fator determinante é a necessidade dessa quarentena ter vestimentas e calçados adequados e visitá-la seguindo protocolos de biossegurança.
Caso estas duas condições não sejam garantidas, prefira fazer a quarentena na mesma granja da criação mas, sim, o mais longe possível do resto dos galpões e, no caso de trabalhar com ventilação natural, que não esteja localizado de forma que os ventos predominantes carreguem o ar da quarentena para o resto da granja.
Esta quarentena deve ter vestiário exclusivo separado do restante da granja, mas com as mesmas condições: bancada de separação, chuveiro, máquina de lavar para que essas roupas não saiam de lá, pedilúvio, etc. Casanovas concorda com as condições do vestiário, ele também o preferiria numa área remota, embora presuma que dependerá de um último transporte que também implica um risco, mas que pode ser minimizado se tiver garantias e controle sobre a limpeza do transporte. Mas, para ele, o mais importante é controlar bem a origem da reposição das fêmeas para não haver surpresas.
E ele aponta uma ideia interessante, do ponto de vista da biossegurança, a melhor opção é fazer a auto-reposição a partir das doses seminais. Neste caso, você deve ter um galpão exclusivo na granja para criar futuros reprodutores.
O vestiário
Quando falamos de pontos de transição em uma granja, não há dúvida de que o vestiário é um dos pontos mais importantes.
Ambos os autores nos explicam como os vestiários são projetados nas granjas hoje:
Antes do vestiário deve haver uma antessala onde são deixados os sapatos e o casaco, que deve ser separada do acesso ao vestiário final por uma bancada alta o suficiente para dificultar pular sobre ele (foto 3). Esta antessala já deve ter uma pia.
Após a ante-sala, tem o vestiário com área suja, ducha e área limpa. Roupas comuns são deixadas na área suja. Os vestiários do tipo cabine individual são cada vez mais utilizados (foto 4). Na área limpa do vestiário estão as roupas da granja. Também estão sendo adotadas roupas de cores diferentes para as diferentes áreas da granja (maternidade e gestação), além de cores específicas para visitantes e pessoal da manutenção.
Depois do vestiário, encontramos uma sala semelhante a primeira, com a bancada divisória onde deixaremos os chinelos do vestiário, e do outro lado encontramos as botas de plástico.
Revisamos três elementos-chave no projeto de biossegurança de uma granja. No artigo seguinte abordaremos a área de embarque e desembarque, a entrada de insumos e biossegurança interna.